Houve um tempo em que as pessoas não tinham fogo. No inverno, elas não podiam se aquecer, e tinham que comer os alimentos crus. O fogo era guardado numa grande rocha branca pertencente a Trovão, um ser terrível, de quem até mesmo o Urso e o Leão da Montanha tinham medo.
Coiote não tinha medo de Trovão. Um dia, este rugiu tão alto que todas as criaturas se esconderam. Coiote achou que esse era o momento de roubar o fogo. Então, Coiote subiu até a montanha mais alta, onde Trovão vivia, e lhe disse: "Tio, vamos jogar dados. Se vencer, você me mata. Se eu vencer, você me dá o fogo".
Trovão havendo concordado, os dois jogaram com dados feitos dos dentes de castores e marmotas, com desenhos em cada lado representando uma pontuação. Havia gravetos, ao lado, para contar os pontos. Mas Coiote, o mestre da trapaça, continuamente distraía Trovão, com isso conseguindo finalmente ficar com todos os gravetos. "Tio, eu venci", disse ele. "Dê-me o fogo". Trovão sabia que Coiote havia trapaceado, mas não tinha como provar.
Coiote chamou todos os animais ao topo da montanha para que o ajudassem a carregar a rocha que continha o fogo. Ela era grande, mas frágil como uma concha. Os animais se prepararam para levá-la, mas Trovão rugiu: "Não tão rápido. Coiote ganhou o jogo e por isso eu lhe dei o fogo, mas ele trapaceou e, portanto, vou matá-lo. Onde ele está?"
Bem, Coiote havia lido os pensamentos de Trovão e antecipado o que ele faria. Coiote podia despir a parte externa de seu corpo, como se fosse uma manta, por isso tirou a pele, o pêlo, o rabo, as orelhas - tudo - e partiu apenas com seus órgãos internos. Então, mudando o tom de voz, como se estivesse muito perto, chamou: "Tio, estou aqui. Mate-me se puder".
Trovão pegou a rocha que continha o fogo e atirou sobre o que acreditava ser o Coiote. Mas acertou apenas a pele e o pêlo. A rocha se quebrou em várias partes. Cada animal pegou um pedacinho e colocou sob o braço ou a asa, e todos se apressaram a levar o fogo às tribos da Terra. Coiote, calmamente, voltou a vestir seu manto de pêlo. "Adeus, tio", disse ele a Trovão. "Não volte a apostar. Não é o que você faz melhor". Então, ele se foi.
......
Texto adaptado por mim a partir da história contada por um narrador Klamath (tribo do Oregon), contida em American Trickster Tales, de Richard Erdoes e Alonso Ortiz (Penguin Books).
Um comentário:
Maravilhoso. Grata por ter compartilhado!
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