segunda-feira, junho 25, 2012

Salamandras: Resultado da Promoção Bestiário



O nome salamandra se aplica tanto a uma criatura mítica quanto a uma real. As características de ambas se confundem, inclusive no que se refere ao mito segundo o qual as salamandras são imunes ao fogo. Na verdade, esses anfíbios gostam de dormir em lugares quentes, e muitas vezes elegem pilhas de lenha e restos de fogueiras ou lareiras. Aceso o fogo, a salamandra é vista surgindo em meio às primeiras labaredas e fugindo dali, razão que se somou às suas manchas amareladas ou avermelhadas para dar origem ao mito.

Plínio, em sua História Natural, afirmou que as salamandras eram tão frias ao ponto de extinguir as chamas, enquanto o alquimista Paracelso as relacionou aos elementais do fogo. Essa associação perdura até hoje entre os adeptos de algumas vertentes das Ciências Ocultas. Já na Literatura, a salamandra é citada por Shakespeare em sua peça Henry IV e, mais recentemente, por Ray Bradbury em Fahrenheit 451, que faz da salamandra um dos símbolos dos queimadores de livros.

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E por que falei em salamandras? Ora, para avisar a vocês que a Tânia Souza foi a vencedora da promoção do Bestiário, sugerindo esse animalzinho que, com certeza, se prestaria a um belo e intrigante conto de fantasia. Não garanto que ele irá figurar no próximo volume, mas foi para a lista, sem dúvida alguma! E o poema de Quintana para um dos meus caderninhos!

Querida Tânia, entre em contato para me enviar seu endereço. E aos demais participantes agradeço as sugestões, informando que alguns dos animais sugeridos já estavam cotados e possivelmente irão aparecer numa das próximas edições do Bestiário.

Abraços e até breve!

sexta-feira, junho 15, 2012

Ainda Centauros



Já quase ninguém vê, mas acredite: aqui há centauros. Não como antigamente, não, claro que não é a mesma coisa. Naquele tempo eles eram muitos e andavam por aí à vista de todos orgulhosos e de cabeça erguida, como quem não deve a ninguém. Na verdade, talvez pensassem o contrário: os homens é que estavam em dívida. Eles é que tinham vindo de longe e se instalado, com seus filhos e rebanhos, no vale em que os centauros galopavam desde o início dos tempos. E que continuou a lhes pertencer, pelo menos durante algumas gerações, até que nossos bisavós os ocupassem com vinhedos e bosques de oliveiras.

Quando eu era menino, pastoreando as ovelhas de meu avô, era comum encontrar em meu caminho grupos de centauros. Por essa época eles já não corriam pelo vale com frequência, evitando conflitos com os lavradores que os queriam longe dos campos recém-plantados. Agora, seus cascos só pisavam as pedras e a grama áspera do monte, e os pastores seguravam seus cajados com força quando percebiam o som.

Não que tivéssemos motivo para temer os centauros. À exceção de umas poucas lavouras destruídas pelo tropel, não tinham feito mal a ninguém. No entanto, suas caras assustadoras – com olhos enviesados e dentes afeitos a triturar carne crua – e os braços poderosos, de veias como cordas de arco, eram o bastante para que os quiséssemos longe de nossas vistas. E poucos anos depois surgiram os rumores: histórias que não presenciáramos, que não sabíamos sequer se verdadeiras, mas que ainda assim fizeram crescer o medo e a desconfiança. Em uma terra distante, ouvimos contar, centauros tentaram raptar a noiva de um rei; uma batalha se seguiu e foram justiçados, mas, num monte vizinho ao nosso, outro bando se apoderara de mais que uma pastora de ovelhas. O que fariam conosco, perguntávamo-nos, se cruzássemos com eles quando estivessem cheios de vinho?

A ideia era tão terrível que nem ousávamos responder em voz alta. Felizmente, o medo não pairou sobre nossas cabeças por mais que algumas estações: de um e de outro lado, pela boca de aedos e mensageiros que percorriam toda a Hélade, chegaram notícias sobre os heróis que, em guerras ou combates singulares, estavam exterminando toda a raça dos centauros. E que tinham jurado acorrer, com suas armas e a proteção divina, em defesa dos homens que se vissem à mercê daquelas bestas terríveis.

Então – na verdade não sei bem como as coisas se desenrolaram. Pode ser que algum daqueles heróis tenha estado no vale, sem que tenhamos chegado a vê-lo, e afugentado a maior parte dos centauros. Ou talvez tenham sido eles que, pondo-se a par das ameaças, decidiram abandonar o monte e se isolar em terras ainda mais remotas. De qualquer forma, raramente foram vistos desde então; e nunca mais, pelo que sei, nestes últimos anos.

Mas o que posso lhe dizer, por toda uma vida passada a ler os sinais, é isto: sim, aqui há centauros. Ainda se ouve muito ao longe o som de seus cascos nas noites sem lua. E se você persistir talvez chegue a vê-los, caminhando de olhos no céu, a procurar, talvez, a morada que os homens e os deuses lhes negaram sobre a terra.

Lendo as sugestões para o "Bestiário", decidi postar na Estante este miniconto. Eu o escrevi em 2010 para um desafio do grupo "Fábrica dos Sonhos", no qual o tema "Centauros" devia ser desenvolvido em no máximo 550 palavras.

A ilustração é um detalhe do quadro "Batalha dos Centauros e Lápitas no Casamento de Hipodâmia", de Karel Dujardin (1667).

Espero que gostem e comentem!

segunda-feira, junho 04, 2012

Promoção Bestiário e a Estreia da Editora Ornitorrinco


Queridas Pessoas,

Eu já devo ter falado aqui sobre o Bestiário, uma coletânea de contos organizada por mim e por Ana Cristina Rodrigues. A ideia surgiu há cerca de três anos entre nós duas e a escritora Alícia Azevedo, e logo passou de uma conversa casual para um projeto partilhado com mais três escritores. Em pouco tempo, tínhamos formado dois times bem legais, que agora apresentamos sob a forma de livro.

Eu disse dois? Sim, porque temos o elenco de escritores e também o das criaturas. São seis animais fantásticos, alguns surgidos a partir da Mitologia, outros mencionados pela primeira vez em textos de historiadores da Antiguidade e todos incluídos em Bestiários da Europa medieval. O projeto deu muitas voltas desde a elaboração, mas os dois times se mantiveram firmes e fortes, da seguinte forma:

Alícia Azevedo escreve sobre o Dragão;
Ana Cristina Rodrigues sobre o Grifo;
Ana Lúcia Merege sobre o Unicórnio;
Daniel Folador Rossi sobre a Fênix;
Leandro Reis sobre a Mantícora e
Rober Pinheiro escreve sobre o Basilisco.

Mesmo com os textos escritos, o projeto permaneceu um bom tempo em suspenso até que, no final do ano passado, o retomássemos já com a chancela de uma editora: a Ornitorrinco. Sediada em Petrópolis - RJ, a editora é dirigida por Alícia Azevedo e Henrique de Lima, e acaba de lançar suas três primeiras publicações: Estranhas Invenções, antologia organizada por Ademir Pascale; 2013, em parceria com a Editora Literata, com organização da Alícia e de Daniel Borba; e o Bestiário, que tem um diferencial importante. Além dos contos, ele traz também um texto informativo sobre cada criatura, o qual, esperamos, ajudará nossos leitores a saber com o que exatamente estão lidando. :)

Contando com ilustrações de Tobias Griever e uma capa elaborada pelo Estêvão Ribeiro, o Bestiário é indicado para leitores de todas as idades a partir de 11 ou 12 anos. Quem quiser adquiri-lo pode dar um pulinho na Lojinha da Ornitorrinco ou entrar em contato com a editora através do endereço ornitorrinco.editora@gmail.com. Não vão se arrepender, o livro está muito legal!

E agora o momento que todos esperavam. Que tal ganhar um exemplar do livro inteiramente grátis, acompanhado de marcadores? É facílimo! Basta deixar um comentário neste post, dizendo qual o animal que você gostaria de ver num próximo volume do Bestiário e por quê. Podem ser criaturas fantásticas de qualquer mitologia (mas se não for uma já bem conhecida, por favor, explique de onde saiu!) ou um animal aqui do nosso mundinho. O comentário que eu achar mais interessante (considerando a criatura e a razão de ela ser indicada) ganhará o livro. O resultado será divulgado no dia 25 de junho, aqui e no Twitter.

Então, Pessoas... Escolham um bicho, manso ou feroz, real ou imaginário, e postem aqui. Conto com sua participação!

Boa sorte - e até a próxima!