terça-feira, dezembro 31, 2013

Retrospectiva: Meu Ano Literário




Pessoas Queridas,

O novo ano está batendo à porta, e em meio aos planos e resoluções para o futuro eu resolvi olhar pra trás e ver o quanto caminhei.

Eu entrei em 2013 com um conto longo pela metade e o concluí nos primeiros dias de janeiro. O mesmo acontecerá este ano, ao que parece. Sem contabilizar essas páginas, nem as que escrevi para a nova versão do meu próximo livro - umas 50, sem exagero -, eu produzi cerca de 130 páginas de texto literário, entre contos, microcontos e a metade final de uma novela.

Dito assim não parece muito, mas na verdade até que é uma quantidade considerável de texto, ainda mais porque a produção não ficou por aí. Ao longo do ano, escrevi cerca de 30 posts não-literários  para  blogs; um prefácio; um posfácio; pareceres de 5 leituras críticas; textos de abertura para três mostras de documentos e um artigo para os Anais da Biblioteca Nacional. Isso sem contar as leituras, copidesques e revisões, que também não foram poucas. Não publiquei livro solo, mas co-organizei duas antologias ("Bestiário : outras criaturas", da Ornitorrinco, e "Meu amor é um sobrevivente", da Draco) e tive o prazer de ver lançada a coletânea arturiana "Excalibur", também da Draco, a primeira cuja organização foi minha inteira responsabilidade.

Quanto a leituras, supondo que eu termine ainda este ano o livro que comecei ontem, serão ao todo 133 obras, incluindo quadrinhos em formato grande (só os álbuns, tipo "Piteco - Ingá"). Artigos, impressos ou lidos na rede, e contos online é impossível contabilizar, mas também foram muitos, embora não tantos quanto eu gostaria para me inteirar de tudo que está acontecendo, especialmente em termos de Literatura Fantástica.

Neste ponto, alguém já deve estar pensando: "mas isso não é grande coisa, eu li/escrevi/publiquei bem mais"... É verdade, há quem tenha sido muito mais produtivo, e fico feliz por eles; isto não é uma competição. Também não é para fazer um auto-elogio ou coisa do tipo. Na verdade, o que escrevo aqui é como que a impressão do mapa do que foi o meu ano, do caminho que meu trabalho está seguindo ou, se preferirem, do registro do meu progresso - que talvez não tenha sido tão grande, é verdade, mas já serve para me animar.

Sim, eu queria ter feito mais, porém fiz o melhor que pude e já colhi alguns frutos do meu trabalho. E, principalmente, plantei para colher ainda mais ao longo dos próximos tempos.

Espero que continuemos juntos, em 2014 e por muitos anos ainda, partilhando nossas colheitas, nossas histórias, nossas experiências.

Até breve!

segunda-feira, dezembro 23, 2013

Top 10 2013 : livros de ficção para jovens




Olá, Pessoas!

Chegou a hora de eu falar sobre as leituras de juvenis. Hoje são usadas várias subdivisões - infantojuvenis, livros para jovens adultos, para novos adultos e aí vai - mas aqui não me preocupei em fazer essas distinções, até porque variam muito de leitor para leitor. Mais uma vez, usei o critério dos 30% e escolhi três títulos nacionais; não houve favoritismo, esses foram mesmo os que preferi, mas fico feliz e honrada por citar três ótimas autoras que além disso são amigas muito queridas.

Vamos lá?

O Nalladigua, de Simone Saueressig. Primeiro livro da série “Os Sóis da América”, narra a odisseia de Pelume, que deixa sua terra no extremo sul do continente e parte em busca de uma história que faça o sol retornar. Ao longo da jornada ele encontra vários companheiros e se depara com criaturas míticas de toda a América, apresentadas de forma magistral através da prosa fluida e da excelente pesquisa de Simone. Ler este livro reacendeu em mim a vontade de ler e contar histórias, recomendo-o a todos.

Pedro e Inês, de Helena Gomes. Também fruto de um belo trabalho de pesquisa - dessa vez da história ibérica -, este livro conta de forma romanceada a história de Pedro (Pedro I de Portugal) e sua amada Inês de Castro. Cenário, personagens e narrativa são muito bem construídos e a edição ilustrada é primorosa. Vale a pena.

Territórios invisíveis, de Nikelen Witter. Uma excelente fantasia brasileira, conta a história de um grupo de jovens que se envolvem com uma sociedade secreta e são levados a Yvymarã, uma terra alternativa, habitada por estranhas criaturas e onde sua determinação será posta à prova. Aguardo o próximo volume da saga!

Uma Ilha no oceano, de Annika Thor. Creio ser este o único da lista que não tem um “pezinho na fantasia”. Conta a história de Steffi e Nelli, duas irmãs judias que, durante a II Guerra, são enviadas para viver numa cidade pesqueira da Suécia. Os problemas de adaptação adquirem um peso extra quando elas pensam se voltarão a ver sua família, mas apesar desse pano de fundo a narrativa jamais se torna pesada ou piegas. Muito bom.

Caminhos de sangue, de Moira Young. Finalmente um livro pós-catástrofe (o único da lista). Sua protagonista, Saba, vive num lugar inóspito e isolado com o pai, a irmãzinha e o irmão gêmeo a quem idolatra. Quando o jovem é raptado, ela empreende uma jornada para reencontrá-lo, deparando-se com situações insólitas e personagens mais ainda.

O Atlas esmeralda, de John Stephens. Primeiro volume da trilogia “Os livros do princípio” – este era um atlas, o segundo é uma crônica e sua história está em “A Crônica do fogo”. Apesar de uma premissa um pouco batida – órfãos que fazem parte de uma profecia – a obra segue um roteiro interessante, traz boas surpresas e uma narrativa muito bem trabalhada.  Gostei.

Floresta sombria, de Matt Haig. Samuel e sua irmãzinha Martha perdem os pais num acidente de carro e vão viver na Noruega com sua simpática e amorosa Tia Eda. A casa fica à beira de uma floresta onde o marido de Eda desapareceu há muitos anos, e onde as crianças acabam por se aventurar, o que as fará ter estranhos encontros e revelações. O desfecho é um pouco corrido, mas a narrativa é excelente.

Guia do herói para salvar o seu reino, de Christopher Healy. Uma história humorística baseada em contos de fadas, focando quatro príncipes conhecidos coletivamente como “Encantado” e que na verdade têm personalidades bem diferentes: o grosseirão Gustavo, Frederico, delicado ao ponto da frescura, Liam, o único que pode ser chamado de herói e Duncan, que é... bom, um sujeitinho estranho. Quando seus romances com as princesas não dão certo eles formam a Liga dos Príncipes, destinada a limpar seus nomes e a salvar cinco reinos ameaçados por uma feiticeira. Super bem escrito e divertido, recomendo muito, para todas as idades..

O Livro selvagem, de Juan Villoro. O adolescente Juan se hospeda na casa de seu tio Tito, que vive praticamente afundado em livros, com a companhia apenas de três gatos e de sua cozinheira. Juntos eles tentarão descobrir uma obra singular: “O livro selvagem”, que resiste à leitura e que revelará muitos segredos ao ser encontrado. A narrativa do autor mexicano é bem legal, a história também, mas o melhor são as reflexões que vão sendo feitas sobre a relação entre os livros e os leitores.

Kate somente, de Erin Bow. Meu favorito para o fim... Kate vive numa cidade da Europa Central e é a filha e aprendiz de um entalhador. Precisando de dinheiro para se alimentar e a seu gato Braque – o melhor personagem do livro – ela faz um pacto com um estranho bruxo cigano, daí resultando uma jornada marcada por perigos, magia e pelo enfrentamento de situações de ódio e preconceito. Não é para os muito novinhos nem para os impressionáveis; diria que é ótimo para os futuros leitores da saga de Geralt de Rívia.

... 

Bom, essas foram as minhas dicas - dicas de uma leitora não tão jovem, mas eclética, mãe de uma adolescente e cujos textos, muitas vezes, se destinam a um público mais novo. Espero que vocês curtam e compartilhem.

Tenham um ótimo Natal - e até a próxima!

quinta-feira, dezembro 19, 2013

Solstício : um conto de Natal


Meu pai tinha por hábito escrever contos de Natal. Fez isso durante vários anos até 2009, vindo a falecer em outubro do ano seguinte.

Meu pai era profundamente cristão. Cristão de verdade, portanto respeitava as demais religiões.

É lembrando-me dele, com muita saudade e carinho ainda maior, que partilho com vocês este pequeno conto ecumênico.



quinta-feira, dezembro 12, 2013

Top 10 2013: livros de ficção para adultos



Oi, Pessoas, tudo bem?

Como já é tradição aqui na Estante Mágica, venho compartilhar com vocês os títulos que mais me agradaram ao longo de 2013. Não são resenhas, apenas indicações; não se trata necessariamente de lançamentos (um dos livros é até bastante antigo); por fim, não se trata de “livros que eu, como escritora, considero bons/bem escritos/inovadores”, mas sim das leituras que mais me deram prazer, escolhidas de forma inteiramente pessoal.

Como sempre, as categorias mudam de um ano para o outro. Desta vez, levando em conta a quantidade e o tipo de leituras, decidi indicar 10 livros de ficção para adultos e 10 juvenis. Quase todos os juvenis são de fantasia, mas entre os adultos eles são minoria (sim, li muita fantasia adulta este ano, mas boa parte dela foi em antologias, e estas ficaram de fora, assim como as HQs).

Então, sobraram os romances. Com base na porcentagem de nacionais que li – cerca de 30% do total -, decidi que cada categoria teria três brasileiros e sete estrangeiros. Listo-os aqui, mas não em ordem não é de preferência e sim naquela em que fui me lembrando dos títulos. Aqui vai a leva de ficção para adultos:

O homem do sambaqui, de Stella Carr. Quem me conhece sabe que eu adoro ficção pré-histórica. Por isso, corri à Estante Virtual e comprei este livro, publicado em 1975, assim que li a resenha (contém spoiler!) do Roberto de Sousa Causo no Terra Magazine. Com base em muita pesquisa, o romance reconstrói o que seria a vida do povo que nos legou os sambaquis, no litoral catarinense. A linguagem se aproxima um pouco da do primeiro conto de "A voz do fogo", de Alan Moore, mas achei ainda mais legal – um must para quem curte o gênero.

Deuses esquecidos, de Eduardo Massami Kasse. Segundo livro da série "Tempos de sangue", conta a história de Alessio, um camponês da Itália medieval que é vítima de uma maldição. Ao contrário de Harold, do primeiro livro, ele é cristão, e sua própria moral o atormenta, ainda mais do que a perseguição de um padre decidido a acabar com o Mal instalado no corpo do pobre homem. Uma fantasia medieval bem pesquisada, com narrativa fluida, momentos de tensão e de humor inseridos nas horas certas. 

Santa Sofia, de Ângela Abreu. Um livro que pouca gente conhece, mas que achei excelente. Ambientado nas Minas Gerais do século XIX, começa com o falecimento de Sofia, rica (e feiosa) matriarca casada com o bem-apanhado (e pobre de nascimento) Paulo Bento; à medida que transcorrem o velório e o funeral, a história do casal e a complexa personalidade de Sofia vão-se revelando através da a superposição dos pontos de vista dos demais personagens. Para reler, reler e não se cansar.

Quarto, de Emma Donoghue. Todo o livro é narrado por um menino de cinco anos de idade: Jack, filho de uma jovem sequestrada por um homem que ela chama de “Velho Nick” e que a mantém em cativeiro, assim como ao filho de ambos. Jack acredita que nada existe além do quarto em que vivem; assim, consegue ser feliz e se desenvolver com a ajuda de sua mãe, uma mulher admirável. Depois... bom, nada de spoiler. Só digo que o livro me prendeu o tempo todo, que teve o grande mérito de fazer de Jack uma criança verossímil e que chorei no meio, porém não no fim. Fica a dica.

Tempo é dinheiro, de Lionel Shriver. Este ano eu li quatro romances da autora, gostei de todos, mas este para mim foi o melhor. Melhor até que o mais famoso, "Precisamos falar sobre o Kevin". Conta a história de Shep, que vê arruinados seus planos para o futuro ao descobrir o câncer da esposa realista e sarcástica (que passará a sê-lo ainda mais a partir daí). O relacionamento entre os dois se entrelaça com o de seus melhores amigos, pais de uma adolescente que tem uma doença genética e se recusa a passar por “anjinho sofredor”. Um livro cru, realista, tipo tapa na cara, mas que não deixa de ter seu humor e leveza. Gostei muito mesmo.

O filho de mil homens, de Valter Hugo Mãe. Que gênero é esse? Realismo mágico? Diria que sim, mas isso não importa. Importa que adorei ler a história, narrada de forma poética e sensível, dos habitantes de uma aldeia portuguesa cujas vidas se encontram e se interpenetram formando uma delicada tapeçaria.

Ragnarok, de A. S. Byatt. Fascinada desde a infância por mitos nórdicos – tema que também adoro -, a autora faz aqui uma interpretação que se mescla com sua própria biografia, revelando uma riquíssima bagagem cultural e criando parágrafos de sonho. Lembrou um pouco "Ka", de Roberto Calasso, mas o texto é escrito de forma bem mais fluida e, para mim, mais agradável. Recomendo, não apenas para quem conhece o tema.

Cloud atlas, de David Mitchell. Já fiz uma apreciação do filme, no qual as histórias vão sendo contadas como numa espécie de mosaico. No livro elas parecem ser uma caixa dentro de outra, dentro de outra e assim por diante; as histórias de seis pessoas diferentes, em vários momentos (do passado a um futuro mais ou menos distante), que vão deixando legados umas para as outras. O grande tema é a liberdade; o livro no original não é fácil de ler (eu pelo menos não achei), mas é uma jornada que definitivamente vale a pena.

A casa do califa, de Tahir Shah. O escritor anglo-afegão conta como foi se mudar com a família para uma casa principesca em Casablanca, conviver com os caseiros e os vizinhos (um gângster e os moradores de uma favela), lidar com a burocracia, com os operários e com... os djinns que infestavam a nova casa. Sim, djinns, e não eram dos que concedem desejos, mas sim os que atrapalham a vida, as obras e tudo o mais. Embora não apareçam ao vivo e a cores no livro, tudo que acontece de estranho lhes é atribuído e todos acreditam em sua existência, pois afinal são citados no Corão. E tornam este livro muito mais divertido.

Sangue dos elfos, de Andrej Sapkowski. Terceiro volume da saga do bruxo Geralt de Rívia, que já citei no ano passado. Este, para mim, é o melhor até agora. Continuamos a acompanhar a história do bruxo, de sua protegida, a menina Ciri, da feiticeira Yennefer, do menestrel Jaskier, dos anões... Enfim, de uma série de personagens deliciosos num cenário complexo, cheio de aventura, intrigas políticas e tudo que um amante de fantasia pode querer. Elfos também, é claro :)
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Bom, esses foram o romances adultos que mais me prenderam e inspiraram ao longo do ano. Vocês conhecem algum? O que me recomendariam e aos leitores do blog?


Comentem aqui. Ampliemos o círculo!


Imagem retirada deste blog.

quinta-feira, dezembro 05, 2013

Sonetos e Limeriques : Lançamentos no Rio


A primeira vez que eu pus o dedão do pé numa cachoeira, ele estava lá. Era com ele que eu estava acampando quando conheci meu marido. Agora, anos depois, ainda falamos sobre nossas vidas, nossos filhos e nossos sonhos.

Pois esse moço, Evandro von Sydow Domingues, professor da área de Letras como meus pais, irá lançar aqui no Rio dois livros de poemas: "Sonetos para Pampinea" e "Limeriques para o Dante". Dante é o filho do Evandro, e deixo a seu pai, poeta que é, o prazer de apresentá-lo.


Assim como, creio, o filme de animação australiano Mary & Max foi o primeiro a “tematizar” diretamente a Síndrome de Asperger, digo, com alguma pretensão, que o despretensioso livrinho de poemas Limeriques para o Dante é o primeiro livro de poesias para crianças e adultos escrito no Ingá que “tematiza” a síndrome de West.

O livro é, de certo modo, uma biografia nada ortodoxa e sobretudo não autorizada do Dante.

Dante é um lindo que em 19/12/2013 completa 5 anos. Aos 4 meses de idade, foi diagnosticado com síndrome de West. Hoje acho que o que ele tem é autismo mesmo, decorrente da SW.

O dia com uma criança com SW tem lá seus momentos de pânico, mas conviver com o Dante é uma alegria maior do que eu esperava poder sentir. Produz perplexidades, canseiras, sorrisos, amor infinito. E, de quebra, limeriques.

O lançamento de Limeriques para o Dante será na Livraria Al-Farabi no dia 10 de dezembro, das 18 às 22 horas. Outro livro estará sendo lançado, o Sonetos para Pampinea.


...

Então é isso, pessoal. A Livraria Al-Farabi fica na Rua do Rosário, 30 - aqui pertinho, no centro do Rio. Eu estarei lá prestigiando meu amigo, e todos vocês estão convidados a bater um papo com a gente. Apareçam... e agreguem! :)

Dante e Evandro retratados por Beto Pimentel.

quarta-feira, dezembro 04, 2013

O Brilho das Pequenas Coisas


Essa eu tenho que contar.

Como acontece pelo menos uma vez por semana, fui ao correio, aqui na Cinelândia, para postar livros pelo registro módico. A agência estava quase vazia, mas um segundo antes de mim chegou um rapaz bem novinho, de brinco na orelha, com uma caixa repleta de cartas que estendeu para o senhor no guichê.

- São 145 cartas simples, tentei arrumar o melhor possível pelos lugares de destino - disse ele, e em seguida perguntou se isso facilitava as coisas para o funcionário. Este foi categórico - claro que ajuda! - e começou a destrinchar as cartas, mas ao mesmo tempo me reconheceu como a frequente postadora de livros e perguntou se eu ia precisar de caixas. Sim, eu precisava. O senhor, então, pediu a uma colega que me ajudasse, o que no meu caso significa ouvir ponderações sobre o tamanho da caixa, escolher uma - hoje, aliás, tiveram de ser duas - dobrá-las, porque nunca consigo saber qual o A que junta com o B, e me lembrar pela milésima vez de que eu tenho de escrever que a caixa contém impressos e pode ser aberta pela ECT. Tudo com a maior paciência, simpatia e o direito a um "Tenha um bom dia!" pronunciado por todos os presentes quando saí.

Na porta da agência, uma moça de saia longa olhava para todos os lados como se estivesse indecisa. Perguntei se ela precisava de ajuda e aceitou com alívio: já tinha andado um bocado e não conseguia achar a Avenida Rio Branco. Pior senso de direção que o meu não existe, mas trabalho por aqui há 17 anos, então já aprendi onde fica a Rio Branco e pude mostrar direitinho a esquina onde ela devia atravessar. A moça agradeceu, cada uma foi para um lado, depois de atravessar na minha própria esquina virei para trás a fim de ver se ela estava na calçada certa.

Mas não estava. Porque no lugar onde já deveria ter atravessado havia uma senhorinha de aspecto humilde, segurando uma bengala. A moça tinha parado ali, esperava para ajudá-la a chegar do outro lado, o que fez assim que o sinal tornou a fechar.

Pois é. Talvez vocês me considerem piegas, ou achem que não é para tanto. Mas é nas pequenas coisas que eu percebo como as pessoas podem ser legais sem esperar nada em troca. E como cada elo dessa Corrente do Bem - ainda que descontínua, ainda que frágil - deixa nossos dias mais brilhantes.

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Post ilustrado com imagem que encontrei em vários blogs. Se alguém souber a quem pertence, avise para eu conceder os créditos.

quinta-feira, novembro 28, 2013

O Novo Senhor da Estante


Olá, Pessoas,

Falo muito de livros... Chegou a vez de falar um pouco sobre a estante. A de verdade, onde quase não há mais lugar para um livro sequer. Pois nessas prateleiras, alem dos soldados romanos (do meu marido) e dos duendes, lobos e unicórnios que vocês já conhecem, reside agora um ser muito simpático, embora amigo do Caos.

Reconheceram? Pois é, A miniatura de Loki foi encomendada ao Alexandre Machado, que trabalha com biscuit e tem um ponto de venda na feira de artesanato do Campo de São Bento. Na época o segundo filme do Thor estava para sair, e o Alexandre pesquisou na rede e em revistas a roupa e a arma do personagem, colocou-o num pedestal caprichado e arranjou uma expressão meio zangada, meio blasé naquele rosto redondo que é marca registrada dos seus trabalhos.


Além de heróis e vilões (na banca havia uma dupla muito legal de Batman & Robin, foi o que me chamou a atenção quando o conheci), o Alexandre trabalha com uma gama imensa de personagens. Vocês podem conhecê-los a partir da sua página no Facebook ou visitar seu blog. E, claro, também no Campo de São Bento, de manhã, aos sábados e domingos.

Se alguém passar por lá, dê uma olhadinha para ver se o Alexandre já vendeu o navio pirata atacado pelos tentáculos do kraken. Foi o trabalho mais impressionante da banca, que me deu até vontade de encomendar a miniatura de um barco chamado Narval. Mas deste vocês saberão mais tarde... quando eu estiver pronta para contar uma nova história.

Até lá!

terça-feira, novembro 12, 2013


Pessoas Queridas,

É com orgulho e prazer que eu, Gerson Lodi-Ribeiro e a Editora Draco vimos convidá-los para o lançamento conjunto das duas coletâneas, bem como do livro de contos do Gerson. Vários autores estarão presentes ao evento, portanto não deixem de vir, mesmo que chovam cães e gatos. Vai valer a pena!

terça-feira, novembro 05, 2013

Meu Amor é um Sobrevivente: Pré-Venda e Promoção


Atenção, Pessoas e... Criaturas! :)

O que esperávamos por tanto tempo finalmente chegou. Não, não é o Apocalipse, mas sim o mais novo volume da Coleção Amores Proibidos: Meu Amor é um Sobrevivente. Com organização de Janaína Chervezan e desta que vos fala, traz contos inéditos de nove talentosas autoras da Literatura Fantástica nacional e um prefácio superinteressante de Ana Carolina Silveira. E na pré-venda ainda tem uma promoção especial envolvendo qualquer outro volume da série.

E então? Corram antes que o mundo acabe!

quinta-feira, outubro 31, 2013

História de um Gato


Olá, Pessoas!

Hoje é Halloween, e quero brindá-los com uma história que ouvi ontem e que me asseguraram ser verdadeira.

Vocês, é claro, conhecem o folclore do gato preto. Que ele dá azar, que é um animal associado às bruxas. Isso, certamente, é injusto com os gatos, mas que fazer, é uma tradição antiga. E na verdade a história que ouvi - de uma menina de 12 anos, amiga de minha filha - não especificou a cor do gato. Talvez não fosse preto. Enfim:

Numa cidade do interior, uma senhora de idade tinha por companheiro um gato, que ela mimava como a um bebê, deixando-o comer à mesa e dormir em sua cama. Seus amigos mais próximos sabiam que isso acontecia e não se importavam, além do que o gato sempre tinha sido bonzinho. À maneira dos felinos, claro... E até aquela noite de outubro.

Naquela noite, recebendo uma visita de mais cerimônia, a idosa achou por bem não permitir que o gato subisse à mesa e ficasse passeando pela casa. Assim, deixou-o do lado de fora, imagino que miando sentidamente, durante várias horas. Só quando a visita se despediu o gato entrou, e não parou para cumprimentar a dona com a habitual esfregada nas pernas. Entrou, simplesmente.

Uma vez em casa, a pessoa que visitara a velha senhora telefonou para avisar que tinha chegado bem, mas ninguém respondeu. No dia seguinte, um conhecido bateu à porta: nada. Passaram-se mais alguns dias, nos quais, eventualmente, pessoas telefonaram ou apareceram para uma visita, mas a mulher não deu nenhum sinal de estar em casa.

Sendo uma cidade do interior, onde todos se conhecem ao menos de vista, aquilo logo pareceu estranho, mas não havia como entrarem na residência, até que alguém teve a ideia de telefonar para o filho da idosa, que vivia na capital. No dia seguinte, ele chegou à cidadezinha, foi até a casa da mãe e abriu a porta com a chave que ela lhe fornecera para uma emergência.

Então, o choque.

Deitada no tapete, a velha senhora estava morta, aparentemente há vários dias. Tinha o rosto completamente estraçalhado. E sobre seu peito, com as garras sujas de sangue, estava o felino, miando furiosamente em desafio a quem ousasse pensar que o tiraria de lá.

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E vocês? Conhecem alguma história de Halloween?

Partilhemos... E boas festas a todos!

quinta-feira, outubro 17, 2013

Um Toque de Gaiman




Não há maus autores para crianças, dos quais as crianças gostem e queiram ler e continuar lendo, porque cada criança é diferente. Elas podem encontrar as histórias de que precisam, e levam a si mesmas até as histórias. Uma idéia copiada e gasta não é copiada e gasta para elas. É a primeira vez que aquela criança a encontra. Não desencorajem as crianças de lerem porque vocês acham que elas estão lendo a coisa errada. Ficção da qual você não gosta pode ser um caminho para outros livros que você pode preferir. E nem todo mundo tem o mesmo gosto que você.

Adultos bem-intencionados podem facilmente destruir o amor de uma criança pela leitura: fazendo-as pararem de ler o que gostam, ou dando a elas livros bons, mas cansativos, dos quais eles (adultos) gostam, um equivalente no século 21 à literatura vitoriana destinada ao “crescimento”. Você vai acabar diante de uma geração convencida de que ler é algo sem graça e, pior, desagradável.

Precisamos que nossas crianças subam a escada da leitura: qualquer coisa que elas gostem de ler as levará, degrau a degrau, até a plenitude literária.


.....

Esta foi uma tradução livre - libérrima - de um trecho da conferência pronunciada por Neil Gaiman acerca de livros, bibliotecas e o futuro. Como escritora, bibliotecária, mãe e principalmente como pessoa, eu não poderia concordar mais com suas palavras. Vale a pena ler na íntegra e refletir.

quarta-feira, outubro 09, 2013

Joaninha


O dia hoje tinha tudo para ser daqueles azedos. Preocupações, problemas a enfrentar, dor na cervical, efeitos colaterais dos remédios e ainda a chatice de ter de ir à sede do plano de saúde e pegar autorização para um exame. Aquelas coisas que fazem a gente se lembrar de que a vida não é uma viagem de férias.

Resmungando, fui até o local e peguei minha senha: 950. A telinha mostrava o número da vez em números verdes e quadrados: 913. Nada a fazer senão me sentar, abrir o caderno, escrever uma ou duas páginas de um texto que até que está indo, mas não tão bem quanto eu gostaria. Enfim.

Quarenta minutos depois, chegou a minha vez e me sentei diante de uma atendente jovem, chamada Dayanne. Expliquei a situação, peguei o requerimento, a carteirinha, quando vejo ela está erguendo o teclado do computador e olhando com atenção para baixo. Ia perguntar o que aconteceu, mas Dayanne se antecipou: era um bug. Não desses virtuais, mas um de verdade, aliás uma: uma ladybug, ou seja, uma joaninha minúscula, que tinha passeado ali por cima e ela vira desaparecer entre as teclas. E com a qual estava preocupada, pois não queria magoar o bichinho.

Na mesma hora, esqueci a pressa e tudo o mais e fui olhar também, procurando a joaninha. Não a localizei, mas isso me proporcionou a ocasião para falar da Luciana e da recomendação que sempre fazemos para ela estar com as mãos limpas quando mexe no computador, que assim não atrai bichinhos. E, como a carteira estivesse aberta, foi também ocasião para mostrar a foto da Luciana e para explicar que não, eu não sou budista (?) , a imagem do Ganesha que tem ali faz parte do meu "kit ecumênico" que inclui também uma invocação em runas, a figurinha de um lobo e a oração de São Francisco. Dayanne achou isso legal e comentou que o ambiente ali bem que precisava de tudo aquilo para dar uma clareada: de um padre, um pastor, um pai-de-santo e um monge budista. E um rabino, lembrei, enquanto ela, tendo desistido da caça ao bug, acabava de preencher os meus dados para a autorização.

E, quando ela acabou de me explicar para onde devia ligar daqui a 48 horas, quem aparece, feliz e saltitante, sobre o teclado? Claro, a joaninha. Um lembrete para que eu soubesse que a vida tem encrencas, mas que, com garra e bom-humor, a gente consegue voltar à tona. Peguei meus papéis e saí desejando bom dia a Dayanne e a sua amiguinha, que acabou ficando ali mesmo, talvez para um novo passeio através das letras e símbolos.

E eu vim pra cá sentindo que o dia, afinal, podia não ser tão ruim.

E contei esta história.

sexta-feira, outubro 04, 2013

Unicórnios


Pessoas Queridas,

Meio devagar por causa de uma crise de coluna, quero, assim mesmo, inaugurar as postagens de outubro falando sobre algo especial. No caso, um ser especial: meu animal fantástico preferido, sobre o qual tive a oportunidade de escrever um texto para Bestiário, coletânea de contos que organizei em parceria com a Ana Cristina Rodrigues para a Editora Ornitorrinco. Agora, partilho-o com vocês, apresentando sua Majestade da floresta... o Unicórnio!

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Ao contrário do cavalo alado, o unicórnio não surgiu pela primeira vez em relatos da mitologia ocidental, e sim em tratados de história natural provenientes da Grécia. O mais antigo é o de Ctésias, médico que viveu no século V anterior a nossa era, cujo relato descreve os unicórnios como “asnos selvagens”. No século seguinte, o filósofo Aristóteles (384 – 322 antes de nossa era) os associou ao órix, uma espécie de antílope.

Mais tarde, as palavras monoceros (significando “um chifre”) e rhinoceros (“chifre no nariz”) foram usadas para se referir ao unicórnio, que o romano Plínio, o Velho (23 – 79) dizia ter “corpo de cavalo, pés de elefante, rabo de javali e um longo chifre saindo da testa”. Provavelmente a descrição era a de um rinoceronte, animal que chegou a ser confundido com os unicórnios em algumas ocasiões.

Da Antiguidade, o unicórnio passou à Idade Média, durante a qual se tornou um dos animais mais representados em escudos, brasões e bestiários. Sua aparência nem sempre se assemelhava à de um cavalo dotado de chifre; era frequente que exibisse cascos e barbicha de bode, e, às vezes, cauda de leão. Segundo as lendas da época, os unicórnios habitavam as florestas profundas e eram solitários, juntando-se apenas durante o período do acasalamento. Os filhotes nasciam desprovidos de chifre e ficavam aos cuidados da mãe até serem capazes de viver sozinhos.

Os unicórnios eram famosos por sua ferocidade. Com seu chifre espiralado, enfrentavam leões e até mesmo elefantes. Por outro lado, podiam ser atraídos e pacificados por uma jovem donzela – uma lenda surgida com a literatura cavaleiresca, que fazia da criatura um símbolo de pureza e de virtude. Inúmeras pinturas e tapeçarias medievais retratam damas acompanhadas de unicórnios.
Outra crença, também ligada à pureza, atribuía poderes mágicos ao chifre: seu toque denunciaria a existência de veneno em uma bebida. Isso fez com que se pagassem grandes somas por “chifres de unicórnio” que na verdade eram de narval, um mamífero aparentado com a baleia. Mercadores do norte da Europa fizeram fortunas comerciando esses chifres.

Além dos bestiários e dos romances, tratados de alquimia também mencionam os unicórnios, que para eles simbolizam o elemento mercúrio e a união entre os princípios positivo e negativo. Já para os chineses, o unicórnio – ou sua versão local, chamada ki lin – é um animal sagrado, ligado à honra e à justiça e cuja aparição se dá antes do nascimento ou da morte de um grande homem.

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Inúmeras páginas da literatura se ocupam de unicórnios. Uma das obras mais conhecidas do gênero fantástico é "The last unicorn", de Peter Beagle, que não teve tradução no Brasil, mas virou longa de animação dirigido por Jules Bass e Arthur Rankin, Jr. (ainda vou falar do filme e do livro na série Memórias de Leitora). O mesmo Beagle organizou uma coletânea sobre unicórnios, em dois volumes, chamada "Immortal unicorns". Uma busca na Internet revelará dezenas de livros e séries em que os unicórnios ocupam papel fundamental, incluindo a recente coletânea "Zumbis X unicórnios", organizada por Holly Black e Justine Larbalestier, e o primeiro volume da série de Diana Peterfreund, que no original se chama "Rampant" (menção a uma posição adotada por um animal representado na heráldica) mas aqui saiu como "Caçadora de unicórnios". Nesse livro retoma-se a ideia de que os unicórnios são perigosos, violentos e até traiçoeiros, e não as criaturas nobres com as quais nos acostumamos ao ler fantasia contemporânea. Muito menos os bichos fofinhos que dançam ao redor dos arco-íris. :)

Quanto a mim, além do conto do Bestiário, menciono unicórnios em um episódio de meu livro Pão e arte e em um conto ainda inédito chamado O Potro dourado. Todas essas histórias giram em torno de um núcleo de protagonistas, a família do saltimbanco Zemel, que vive em Pwilrie, no leste de Athelgard. Aqui, os unicórnios tendem a ser dóceis, embora não exageradamente fofos... e algo me diz que ainda reservam algumas surpresas aos leitores da série iniciada por O Castelo das Águias.

É só esperar um pouquinho.

Abraços - e até a próxima!

quinta-feira, setembro 26, 2013

K de Kevin, o Bardo



Desta vez não foi sincronicidade: foi planejamento mesmo. Já que acabamos de lançar a Excalibur, por que não aproveitar para recordar outra leitura arturiana que tanto me encantou na adolescência?

Eu tinha 16 anos quando conheci a série "As Brumas de Avalon". Já tinha, é claro, ouvido falar do Rei Artur, um conhecimento difuso que provinha de várias fontes: o longa de animação ¨A Espada Era a Lei”, dos Estúdios Disney, uma série de TV que eu via sem entender muito, alguns recontos espalhados pelos livros de casa e, muito importante, o disco de Rick Wakeman, “The Myths and Legends of King Arthur”, comprado por meus irmãos. Eu não sabia inglês suficiente para entender as letras, mas, além de gostar da música, o encarte me fascinava (isso era uma coisa muito legal nos LPs), e minha irmã contou um pouco das histórias por trás de cada ilustração. Foi aí que fiquei sabendo, por exemplo, sobre a Dama do Lago, até então desconhecida para mim. No entanto, o Rei Artur permanecia uma figura estritamente ligada ao imaginário medieval; eu não fazia a menor ideia das narrativas mais antigas e de suas possíveis raízes históricas.

Então, um dia, durante um dos meus passeios favoritos (a Livraria Eldorado, na Tijuca, bairro do Rio em que cresci), vi aquela capa que me chamou a atenção. Não era colorida, mas a ilustração - uma mulher de cabelos longos, montada a cavalo e segurando uma espada – era bonita e mexeu comigo de algum modo que não sei explicar. Uma lida na orelha ou contracapa esclareceu que se tratava de um romance ambientado na corte do Rei Artur, e a primeira linha me pegou no ato:

Mesmo em pleno verão, Tintagel era um lugar assombrado.

Já viram, né? Não foi preciso ir muito além dessa página para decidir que eu queria o livro. E não só ele: queria a série, da qual a livraria só tinha os dois primeiros volumes. Na mesma hora os comprei, devorei (devo ter lido os dois em três dias) e, nos meses seguintes, visitei insistentemente a Eldorado à espera dos próximos volumes. Na época disseram que ainda não tinham saído; não sei se isso é verdade, pois acabo de ler que a série é de1982 e estávamos em 85, mas de qualquer forma possuo uma das primeiras edições que saíram pela Imago. Muitas outras pessoas estavam lendo, na escola e no curso de teatro, e tive interlocutores, coisa rara em minha vida antes do advento da Internet. Até minha mãe e minha irmã leram. E, como muitos, fizeram o seguinte comentário: Puxa, mas nesse livro só as mulheres são espertas, os homens são todos uns bobos!

Na época, eu não tinha como saber que Marion Zimmer Bradley era adepta da Wicca Diânica, uma vertente do paganismo segundo a qual a divindade é polarizada (a Deusa, o Deus) e que sua leitura do mito arturiano se dava através dessa ótica, que se pode dizer feminista. Nem é minha intenção discutir isso aqui. Digo apenas que, para alguém que pensava naquela Camelot tradicional, com armaduras e justas e o amor cortês, a série foi capaz de descortinar um universo completamente novo, onde cabiam o druidismo, as fogueiras de Beltane, a romanização da Inglaterra e um pouco da vida cotidiana daquela época.

Não sei se a última afirmação soou estranha, mas isso é um dado importante para entender meu apreço pela série. Até então, ao que me lembro, autor nenhum tinha conseguido me fazer enxergar tão vividamente os as florestas, os salões enfumaçados e mesmo as cozinhas dos castelos. Ninguém tinha me conquistado desse jeito nem deixado com tanta vontade de escrever, não “igual”, talvez não tão bem, porém mais ou menos naquela linha. E, como nessa época eu tentava escrever sobre mitos nórdicos, um primeiro e ambicioso esboço do que viria depois, minhas primeiras descrições dos salões de Asgard acabaram ficando meio parecidas com as cortes britânicas retratadas n´”As Brumas de Avalon”.

E sempre havia alguém que lembrava o Kevin.

Como muitos leitores da série, gostei muito de Morgana, tive raiva de Guinevere e de Morgause e fiquei com pena do pobre e crédulo Artur – mas Kevin foi de longe meu personagem preferido. Para quem não o conhece, trata-se de um bardo que teria sido um homem bonito, mas sofreu queimaduras na infância que o deixaram desfigurado e, claro, amargurado em relação à vida e às mulheres. Sendo o “Merlim”, na série, não uma pessoa e sim um cargo ocupado por um sábio, há um momento em que Kevin assume esse papel, e é ele que vivencia (na versão Bradley da história) um dos episódios mais conhecidos e fascinantes da lenda de Merlim. Antes disso, porém, Kevin aparece em vários momentos, participa da trama política, faz amor com Morgana e toca divinamente sua harpa. É um homem inteligente, artístico, gentil e generoso... mas também observador, por vezes sarcástico e que tem seu lado sombrio.

Enfim, em poucas palavras, apaixonei-me por Kevin. Dessa paixão se originaram inúmeros poemas e histórias que não posso chamar de fanfics, porque tinham outros personagens e outros cenários, mas que evocavam, em vários sentidos, a atmosfera da série. Não é que meu gosto por fantasia épica e medieval tenham começado aí, eu já curtia antes, mas muito do trabalho que viria a desenvolver nos anos seguintes - não apenas de escritora, mas também pesquisadora - foi construído após o impulso inicial dado pela leitura d´"As Brumas". Foi um verdadeiro divisor de águas, a partir do qual procurei me embasar para escrever histórias coerentes com o lugar e o tempo, interessei-me pelos mitos e pela cultura céltica e - embora ainda sem a pretensão de me tornar profissional - comecei a trabalhar minha escrita no sentido de proporcionar ao leitor uma imersão no cenário. Se hoje consigo, não é a mim que cabe julgar, mas sinto que marquei um ponto sempre que alguém afirma ter "visto" diante de si aquilo que eu descrevi com palavras.

E onde ficou o Kevin? Alguma coisa dele vem me acompanhando em todo o processo. Quase trinta anos depois, gostei de muitos personagens, mas de nenhum tanto assim, e percebendo ou não acabo sempre por lhe prestar uma homenagem. Isso é patente em alguns contos e, especialmente, na série que começou com "O Castelo das Águias", onde o protagonista masculino toca harpa e a festa do último capítulo acaba um pouco à maneira de Beltane. A maior parte dos leitores até agora deu um feedback positivo, principalmente no que toca à escrita, por isso acho que o espírito dos bardos talvez esteja ajudando. Quem sabe? De qualquer jeito, creio que estou no caminho certo.

E a recompensa maior que eu poderia receber, daqui a uns anos, seria abrir um blog - ou o que quer que exista com essa finalidade - e encontrar uma memória com um título como K de Kieran.

sexta-feira, setembro 20, 2013

Até Lá!


Pessoal,

Vou estar lá no sábado, para autógrafos, bate-papo e muitos abraços. Espero vocês com carinho e mil histórias para partilhar!

Excalibur: Escrevendo "A Dama da Floresta"


Pessoas Queridas,

Tal como outros autores da coletânea "Excalibur", também venho contar um pouco sobre o processo de criação do meu conto "A Dama da Floresta". Mas lá no blog da Editora Draco.

Se quiserem saber como foi, basta clicar aqui. E me digam se o trechinho postado despertou sua curiosidade.

Até a próxima!

terça-feira, setembro 17, 2013

A Floresta: um Poema de Gibran


Pessoas queridas,

Fosse vivo, o maior mestre que tive na vida e na arte de contar histórias faria hoje 107 anos. Já lhe dediquei livro e contos, já poemei aqui, já partilhei e passei adiante muito do que aprendi com ele, mas a saudade sempre permanece. Não como dor, felizmente: é preciso saber superar. Mas como querer bem e vontade de nunca esquecer.

Se vocês clicaram no link acima viram que eu não estou falando de Gibran. Mas o escritor foi um grande mestre, e libanês como meu bisavô, pai de Jorge, que aqui chegou como mascate e que também se chamava Khalil.

Então, em homenagem a essas raízes que temos em comum, deixo aqui um de meus poemas favoritos de Gibran. E um que afirma muitas das coisas que aprendi com meu avô.

Na Floresta

Na floresta não existe nem rebanho, nem pastor
Quando o inverno caminha, segue seu distinto curso, como faz a primavera
Os homens nasceram escravos daquele que repudia a submissão
Se ele um dia se levanta, lhes indica o caminho, com ele caminharão.
Dá-me a flauta e canta!
O canto é o pasto das mentes,
e o lamento da flauta perdura mais que rebanho e pastor

Na floresta não existe ignorante ou sábio
Quando os ramos se agitam, a ninguém reverenciam
O saber humano é ilusório como a cerração dos campos
que se esvai quando o sol se levanta no horizonte.
Dá-me a flauta e canta!
O canto é o melhor saber,
e o lamento da flauta sobrevive ao cintilar das estrelas

Na floresta só existe lembrança dos amorosos
Os que dominaram o mundo e oprimiram e conquistaram,
seus nomes são como letras dos nomes dos criminosos
Conquistador entre nós é aquele que sabe amar
Dá-me a flauta e canta!
E esquece a injustiça do opressor
Pois o lírio é uma taça para o orvalho e não para o sangue.

Na floresta não há crítico nem censor
Se as gazelas se perturbam quando avistam o companheiro,
a águia não diz: ‘Que estranho’
Sábio entre nós é aquele que julga estranho
apenas o que é estranho.
Ah, dá-me a flauta e canta!
O canto é a melhor loucura
e o lamento da flauta sobrevive aos ponderados e aos racionais.

Na floresta não existem homens livres ou escravos
Todas as glórias são vãs como borbulhas na água
Quando a amendoeira lança suas flores sobre o espinheiro,
não diz: ‘Ele é desprezível e eu sou um grande senhor’
Dá-me a flauta e canta!
Que o canto é glória autêntica,
e o lamento da flauta sobrevive ao nobre e ao vil.

Na floresta não existe fortaleza ou fragilidade
Quando o leão ruge não dizem: ‘Ele é temível’
A vontade humana é apenas uma sombra que vagueia no espaço do pensamento,
e o direito dos homens fenece como folhas de outono
Dá-me a flauta e canta!
O canto é a força do espírito,
e o lamento da flauta sobrevive ao apagamento dos sóis.

Na floresta não há morte nem apuros
A alegria não morre quando se vai a primavera
O pavor da morte é uma quimera que se insinua no coração
Pois quem vive uma primavera é como se houvesse vivido séculos
Dá-me a flauta e canta!
O canto é o segredo da vida eterna,
e o lamento da flauta permanecerá após findar-se a existência.

quarta-feira, setembro 04, 2013

Excalibur: Entrevista sobre a Coletânea


Pessoas Queridas,

Este é o blog de uma mestra de sagas, e o que tais pessoas mais gostam de fazer é ler/ouvir histórias e passá-las adiante. Pediram-me para falar sobre as histórias compiladas em Excalibur e assim o fiz, liberando até mesmo um trechinho do meu conto, A Dama da Floresta.

O resultado vocês conferem aqui. Se der água na boca... bom, era essa a intenção. :)

Até breve!
...

A ilustração é de uma das lendas arturianas que menciono em meu conto. Vocês conhecem... né?

terça-feira, setembro 03, 2013

Os Deuses Esquecidos, de Eduardo Massami Kasse


Pessoas Queridas,

Abrimos espaço neste blog para divulgar o trabalho de um ótimo escritor e excelente amigo: Eduardo Massami Kasse, autor de O Andarilho das Sombras que agora lança o segundo livro da série Tempos de Sangue. Pela Draco, claro!

Nosso editor, Erick Santos, é quem conta tudo sobre a pré-venda de mais um volume desta saga medieval, repleta de aventuras e ambientada num cenário incrível. É só clicar aqui. Da minha parte, já vou reservando um exemplar!

Até breve - e esperem por mais novidades!

segunda-feira, setembro 02, 2013

Excalibur em Pré-Venda!!!



Rufem os tambores! Soem as fanfarras!

Excalibur, nossa antologia arturiana, já está em pré-venda! São 13 autores - mesmo número dos Tesouros da Bretanha - em 12 contos que homenageiam o universo do Rei Artur e o recriam em vários estilos e cenários, desde o mundo celta até um futuro longínquo.

Para conferir, passe no blog da Draco, onde nosso editor, Erick Santos, conta tudo sobre a pré-venda. Temos inclusive uma ótima promoção, envolvendo outra das incríveis antologias da editora. Garanto que vale a pena!

E não deixem de aparecer por aqui, de novo, ao longo da semana. As novidades da Draco para este semestre ainda não acabaram!

Espero por vocês!

sexta-feira, agosto 23, 2013

Leituras de 2013 - Resultados Parciais


Oi, Pessoas, tudo bem?

Passando um pouco do meio do ano e começando a elaborar a lista de "Tops" que já é tradição aqui na Estante, decidi postar uns números parciais.

Desta vez o corte não vai ser por "fantasia" e "mainstream" nem por "adultos" e "juvenis", mas sim, para variar, pela nacionalidade dos autores. Isso retoma uma estatística que eu postei uns meses atrás, no Facebook, a propósito daquela campanha para que lêssemos mais livros nacionais. Espero não levar pedrada quando revelar que, até agora, o Brasil vem ocupando um honroso segundo lugar. :)

Os números a seguir levam em conta apenas livros de ficção, tanto solo quanto antologias. Duas das últimas tinham autores de mais de uma nacionalidade, então considerei a do organizador. Ficaram de fora as HQs, inclusive livros como "Habibi". e "Imaginários em Quadrinhos".

Então, de janeiro até agora eu li:

- 25 livros americanos;
- 19 brasileiros;
- 06 ingleses;
- 3 suecos;
- 2 chilenos, 2 franceses, 2 irlandeses, 2 indianos;
- 1 de cada um dos seguintes países: Itália, Espanha, México, Dinamarca, Canadá, Rússia, Sérvia e Polônia.

Li muito? Li pouco? Não sei, o que vocês acham?

Narrem aqui alguma coisa sobre os livros que leram este ano. E aproveitem para deixar alguma dica para o meu último trimestre. Aguardo.

Até breve e um abraço!
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Ilustração tirada daqui. Se você é bibliotecário/a ou está de alguma forma interessado/a em juntar livros e crianças, visite o site. :)


terça-feira, agosto 13, 2013

Sincronicidade : uma crônica sobre os (meus) místicos anos 80


Oi, Pessoas,

Acabo de contar casualmente uma história do Facebook que merece ser compartilhada aqui.

O amigo Octavio Aragão acabava de falar sobre a ação da sincronicidade, contando que, ao entrar num sebo com a intenção de se desfazer de alguns volumes, deparou-se com um livro de Aleister Crowley que viria a calhar como fonte para sua nova HQ. Tanto a história quanto o nome do personagem envolvido me remeteram imediatamente a uma situação que aconteceu comigo nos idos dos anos 80, a década maluca em que passei sucessivamente de fã da Blitz a Hare Krishna, daí a astróloga amadora e por fim a universitária, namorada do João (com quem estou casada até hoje) e criadora do universo fantástico de Athelgard.

Eu poderia recontar tudo, mas vou usar o corta-e-cola e postar as mesmas palavras do Face.

Não há lugar onde a sincronicidade mais me ataque do que em livrarias e principalmente sebos. Digo isso literalmente. Nos idos dos anos 1980, era pré-internet, estava eu doida atrás de referências sobre mitologia celta quando, num sebo no centro do Rio, um livro despencou da estante ao lado da que eu estava fuçando. Peguei e adivinhem? "A Civilização dos celtas", de Olivier Launay, coleção Grandes Civilizações Desaparecidas.

Mas esperem, a história não acabou. O livro custava um pouco mais do que eu tinha no bolso - fosse hoje seriam uns 3 reais a mais - e, embora não goste disso, tentei pechinchar com o livreiro. O cara disse que guardaria o livro para mim, mas não quis deixar mais barato. Nesse momento, um outro cara parou do meu lado com uma pilha de livros sobre a Índia, ouviu a conversa e sem me dizer nada falou para o livreiro: "Deixa que eu pago a diferença do livro da menina" (adjetivo adequado, pois eu tinha 16 anos). Tentei dizer que não precisava, e ele virou com aquela cara de leitor de "Planeta" e declarou: "Não pergunte o porquê da dádiva. Apenas aceite".

O livro está na minha estante até hoje.


.....

Para ilustrar esta história, hesitei entre Aleister Crowley, Jung e alguma coisa que remetesse aos 80´s. Mas acabei ficando mesmo com a capa do livro do Launay, que me foi útil não uma, mas muitas vezes ao longo desses quase 30 anos.

terça-feira, julho 23, 2013

Mais Uma Vez...



Pessoas Queridas,

Julho passou em branco por aqui. Toda a minha energia e tempo disponíveis, fora da Biblioteca Nacional e da minha vida de mãe/esposa/amiga, foram empregados em questões ligadas ao livro que vem por aí e em produzir mais uma novela sobre Athelgard. E o segundo semestre vai ser bem atribulado em vários sentidos, por isso talvez as postagens aqui sejam mais escassas do que eu gostaria. Sinto muito!

Por outro lado, são 10 anos de blog e há muito para ler nos arquivos. Sintam-se à vontade para passear pelas prateleiras da Estante Mágica. :)

Para recarregar as baterias, desta vez com energia solar (apesar do momento em que foi tirada a foto aí de cima), estou de partida para uma semana em São Luís e Lençóis Maranhenses. É o mais longe que já fui do Rio sem sair do Brasil. Estou ansiosa pelas duas etapas da viagem, mas algo me diz que curtirei mais São Luís e Alcântara... e que as ruas, escadinhas e azulejos me farão sentir saudades de Lisboa.

Na volta eu conto pra vocês.

Até breve!

sexta-feira, junho 21, 2013

Solstício de Inverno



Pessoas Queridas,

Em meio a essa onda de manifestações que agita o Brasil, quase me esqueci de reservar alguns momentos para pensar na entrada da nova estação - e, claro, escrever algumas linhas a esse respeito.

Em qualquer hemisfério, o solstício de inverno marca a entrada de um novo ciclo. A noite anterior a ele costuma ser a mais escura do ano, uma escuridão que lembra o ventre da mãe , assim como o seio da terra onde germinam as sementes. É um tempo de recolhimento, quando pensamos naquilo que passou, descartamos o que já não serve e nos purificamos para renascer com novo ânimo na primavera. Isso é verificado em todas as tradições, até onde sei, que celebram o solstício, que vemos associado ao mito de Perséfone na cultura clássica e ao nascimento de Jesus entre os cristãos.

Para alguns povos nativos americanos, o inverno está ligado à direção norte e ao domínio do Búfalo Branco,  que nos convida, ao mesmo tempo, à introspecção e ao agradecimento por tudo que colhemos ao longo daquele ciclo. É o momento de estar em casa, junto aos entes queridos, contando histórias e comendo o que foi armazenado durante as estações mais amenas.

Aqui no Rio de Janeiro não há muito que evoque essa atmosfera, mas o Brasil é grande, por isso este post é ilustrado com uma imagem de neve brasuca: a que caiu no mês passado em São Joaquim, região serrana de Santa Catarina. Enquanto nós só temos a névoa matinal e um mini-friozinho à noite, lá eles tomam vinho e comem pinhão ao redor da fogueira. Dá um pouquinho de inveja, confesso. Mas não muita, já que eu tenho que levantar todo dia às seis e meia da matina.

Um bom inverno a todos, com as bênçãos do Búfalo Branco! E até a próxima.

domingo, junho 16, 2013

J de João Grilo


Este post não ia sair hoje. Na verdade, eu até já tinha publicado aqui um pouco mais cedo. Mas eis que o Marco Haurélio, editor de Os Contos de Fadas e autoridade em assuntos folclóricos e cordelísticos, acaba de avisar que hoje é aniversário do Ariano Suassuna. Então, não tive como adiar... Venham de lá estas memórias.

O Auto da Compadecida foi um dos primeiros livros que li na biblioteca de casa (isto é, descontada a do meu avô, quase só Humberto de Campos e Malba Tahan, e os meus livros infantis e de recontos clássicos). A capa era como essa que ilustra o post, uma edição antiga da Agir, mas se não me engano havia verde em lugar do vermelho. Que eu me lembre, não vi o livro sendo lido por meus pais ou por um de meus irmãos, o que invariavelmente aguçava minha curiosidade; devo ter pegado na estante, como peguei tantas outras coisas, ao acaso, apenas procurando algo novo e legal para ler.

E, que bom, acertei em cheio. :)

O texto dessa obra é o de uma peça teatral. Na verdade, como já diz o título, um auto, composição com elementos cômicos e fundo moralizante que foi usada desde a Idade Média, muitas vezes por autores religiosos. A ligação cultural existente entre o Nordeste, cenário da peça, e o universo medieval - apontada por Suassuna e outros pesquisadores do tema - me escapou completamente naquela época. O que chamou a atenção foi a presença dos cangaceiros, que me levou a procurar informações adicionais sobre o tema (foi pouco depois disso que eu li Capitães de Areia e me apaixonei não pelo Pedro Bala, mas pelo Volta Seca), os diálogos incríveis e, claro, a esperteza do João Grilo, um pícaro brasileiro, aparentado com Malasartes e com meus tricksters preferidos.

João Grilo foi imortalizado pelo trabalho de Suassuna, mas aparece em textos mais antigos, como Proezas de João Grilo de João Martins de Athayde. Na verdade é uma personificação do que os nordestinos do interior chamam de "amarelo", o sertanejo castigado pela seca e pela pobreza, mas que, com esperteza e resiliência, consegue superar as dificuldades. No Auto de Suassuna, ele enrola de forma magistral o casal de patrões mesquinhos, religiosos avarentos e um cangaceiro desconfiado. No fim, como se não bastasse, o próprio Diabo, embora aí conte com a ajuda providencial de Manuel (avatar negro de Jesus Cristo, cuja aparição denuncia o preconceito existente no próprio Grilo) e sua mãe, a Compadecida do título. As tiradas de João não seriam possíveis, porém, se não fosse o seu "segundo", Chicó, um loroteiro de marca maior, cujas invenções levam Manuel a advertir: "Estou de olho"!

Quase vinte anos após essa leitura que tanto me agradou, assisti à minissérie da Globo, estrelada por Matheus Nachtergaele como João e Selton Mello como Chicó, ambos impagáveis, assim como o resto do elenco. Na série, e no filme que veio a seguir, o papel de Chicó é ampliado, garantindo um interesse romântico e uma rixa com um valentão (outro tipo frequente no imaginário nordestino, que para alguns autores se opõe à figura do "amarelo"). E, claro, mais planos mirabolantes orquestrados por João Grilo.

A leitura do Auto abriu portas para que eu conhecesse outros textos teatrais, literatura regional e cordel. O próprio livro foi relido muitas vezes, e a cada uma iam se agregando novos significados. O que estava lá desde o início e sempre permaneceu foi o prazer dessa leitura ágil e divertida, que entrou sem esforço para minha memória afetiva.

E mais não sei. Só sei que foi assim. :)
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Abraços a todos,

Até a próxima!

Leve um Dragão na Mala!



Pessoas Queridas,

Que tal viajar e levar um dragão na mala? Ou melhor, dois - e não pagar pelo excesso de bagagem?

Até o dia 05 de julho, a Editora Draco está fazendo uma incrível promoção de seus livros, com descontos de 40% na compra de dois ou mais títulos (incluindo os que estão em pré-venda, Solarpunk e Brasil Fantástico), frete grátis, brindes e kits promocionais. O kit com os três volumes de Amores Proibidos, lançados até agora, está com 50% de desconto (R$ 49,90 os três) e O Castelo das Águias sai por apenas R$ 21,00 - mais barato que um almoço na taverna A Espada e o Lírio!! :)

A lista completa dos livros, regras para obter os descontos, formas de pagamento e tudo o mais podem ser acessadas aqui. E se você ler até o final, vai descobrir uma forma de concorrer a um exemplar do primeiro volume de Imaginários em Quadrinhos.

Estamos à sua espera para voar com os dragões!

sexta-feira, junho 07, 2013

Cloud Atlas, o filme



Pessoas Queridas,

Mais um fim de semana se inicia, e aproveito para dar essa dica a quem for ficar em casa e curtir um filminho com pipoca. Se bem que nesse caso é um filmão: Cloud Atlas, baseado no livro homônimo de David Mitchell, que no Brasil saiu com o título de A Viagem.

Apesar da tradução incompreensível ("O Atlas das Nuvens" seria bem mais legal) o filme é de fato uma viagem através do tempo, do espaço e das vidas de muitas pessoas, interligadas por um lugar, um objeto ou um ideal. Seis histórias são contadas, seus capítulos se intercalando de forma que, pouco a pouco, você começa a perceber os elementos que as conectam umas às outras. Olhando por esse ângulo, acho que foi uma sorte eu ter visto o filme em DVD, com a possibilidade de recuar e tornar a ver certos trechos que pareciam um pouco obscuros, mas isso não se deve ao hermetismo do filme; é que eram muitos detalhes a serem percebidos em cada cena.

Um grande must é a caracterização dos artistas. Em cada uma das histórias, Tom Hanks, Hale Berry, Hugo Weaving, Jim Sturgess e Hugh Grant, entre vários outros, interpretam pelo menos um papel, principal ou secundário, às vezes uma microponta como a de Hale Berry na história do advogado nos Mares do Sul. Em alguns casos dá para reconhecer os rostos, em outros só nos créditos, e não há como não soltar várias exclamações de surpresa. Quem diria que a enfermeira durona era o...?

À parte a maquiagem, atuações e o visual como um todo, a história me prendeu durante aquelas quase três horas. Digo "a história" porque, isoladamente, cada uma das seis tem uma trama simples, sem granes surpresas; algumas não fariam sentido se fossem contadas sozinhas, sem o apoio das demais, porém esse não era o objetivo e sim construir algo maior, que integrasse todas as seis e criasse uma grande história, em diferentes níveis como uma espiral, mas com um tema em comum.

E qual seria esse tema? É curioso. Logo que vi o filme, procurando uma imagem para ilustrar este post, li uma citação atribuída ao autor do livro, David Mitchell, segundo o qual o tema central de sua obra seria o instinto predatório, a sanha de domínio e de obtenção de poder do homem sobre o homem. De fato, uma frase dita pelo médico/monstro da primeira história é repetida pelo homem da tribo pós-catástrofe séculos depois (ambos interpretados por Tom Hanks): "O fraco é o alimento do forte". No entanto, minha visão do filme teve o viés oposto; para mim o tema central não foi o poder e sim a conquista e a defesa da liberdade, tanto no sentido mais literal (a libertação física de um escravo) quanto no que se refere à liberdade de crença,convicção, sexualidade e poder de escolha. Algumas se dão em um nível mais pessoal, como a de Robert Frobisher (autor da sinfonia "Cloud Atlas" na história passada em 1936) e a do impagável editor Cavendish; outras ganham conotação universal, principalmente a de Sonmi-451, garçonete em Nova Seul, geneticamente modificada para sê-lo enquanto durar sua vida útil.

(Aliás, alguém notou que 451, o número dessa entre outras Sonmis, é a temperatura da queima do papel, citada também em Fahrenheit 451 de Ray Bradbury? Eu sim).

Ao ver esse filme, algumas pessoas talvez pensem na ideia da reencarnação, principalmente por causa da repetição de atores. É uma interpretação, mas não me satisfaz, não acho que tenha sido essa a intenção do autor. Ainda assim, vejo algo de espiritual na ideia central da obra, porém não um espiritual religioso; só mesmo aquela ideia de que todos estão conectados, exista ou não algo "maior" ou "além" de nós e da nossa compreensão. Enfim, a velha e boa constatação de que nenhum de nós é uma ilha.

Cloud Atlas, o livro, está disponível para compra em livrarias aqui ou online - minha amiga viu uma edição paperback na Cultura do Rio por R$ 19,90 - e a Companhia das Letras pelo que li comprou os direitos, mas ainda não há data prevista para a tradução. Não tenho dúvida de que será um desafio, pois apreciações do livro em inglês disseram que há muitos neologismos, que o homem do futuro pós-apocalíptico se expressa de um jeito peculiar (se for como o menino do primeiro conto de A Voz do Fogo, sai de baixo!) e que além disso usa recursos complicados de narrativa. Já um ponto a favor é que Mitchell disse ter se inspirado em parte em Se Um Viajante Numa Noite de Inverno, meu livro favorito de Italo Calvino.

Pesando os prós e contras, depois de ter adorado o filme e sabido que o Cavendish do livro é melhor ainda - e, ora, R$ 19,90 não me farão mais pobre - acho que não vou esperar pela versão brasileira e sim me arriscar a ler o original mesmo. E, daqui a um tempo, assistir ao filme de novo, com o arcabouço da história em mente e prestando mais atenção aos detalhes sutis.

Vale a pena.

quarta-feira, junho 05, 2013

Tributo



Ia... Zul! Até o espirro de Vovô tinha saudade do Líbano. Mamãe espirrava baixinho: sua máxima sempre foi passar pelo mundo sem chatear o próximo. Já minha filha é uma Lu aventureira, planeja longas e exóticas jornadas: Yyy-eti!

Quanto a mim, depois de muitos anos descobri como usar o espirro para ajudar na conquista da sonhada assertividade. É só sentir que ele vem e murmurar baixinho as primeiras sílabas: Huit, zi, lo... e então completar a invocação em alto e bom som, POCHTLI!

Esse é meu hino de todas as manhãs. Um tributo alérgico, úmido e bravio ao Senhor da Guerra, o Grande Asteca, o Deus Beija-Flor.


domingo, maio 19, 2013

Um Poema de Rumi


Nestas primeiras horas de domingo, abrindo o note e tentando criar coragem para encarar as últimas páginas do livro - porque acabar de reescrevê-lo será um tipo de orfandade - encontrei um belo poema em minha caixa postal. Seu autor é Rumi, como ficou conhecido Jalal Ud-Din Rumi (1207 - 1273), um dos maiores poetas sufis, cuja obra de mais de 50.00 versos é quase inteiramente dedicada ao amor místico.

Eu conhecia alguns trabalhos de Rumi desde a época da faculdade, quando o li para minha dissertação de final de curso, mas não conhecia os versos, enviados esta noite por minha amiga Vania Vidal. Vania e eu temos uma espécie de sintonia que mais ou menos nos faz perceber como a outra se sente. Eu acho que isso acaba de acontecer mais uma vez.

Assim, para inspirar este início de domingo e o fim de mais uma etapa da minha jornada, ficam aqui os versos de Rumi:

Não durmas,
senta-te com teus pares

A escuridão oculta a água da vida.
Não te apresses, vasculha o escuro.
Os viajantes noturnos estão plenos de luz;
não te afastes pois da companhia de teus pares.

Faltam-te pés para viajar?
Viaja dentro de ti mesmo,
e reflete, como a mina de rubis,
os raios de sol para fora de ti.

A viagem conduzirá a teu ser,
transmutará teu pó em ouro puro.

Sofreste em excesso
por tua ignorância,
carregaste teus trapos
para um lado e para outro,
agora fica aqui.


.....

Ilustração: miniatura de Rumi por Hussein Behzad

sexta-feira, maio 10, 2013

Nestes Dias


Oi, Pessoas, tudo bem?

Tem sido um pouco difícil atualizar este blog como gostaria. Artigos, seja lá sobre o que for, e mesmo dicas de leitura exigem algum tempo de preparação, e como devem saber estou focada em concluir a reescrita do segundo volume da série inciada por O Castelo das Águias. Assim, deixo aqui apenas algumas notícias para os viajantes de passagem.

Em primeiro lugar, é claro, a própria reescrita. Faltam umas poucas páginas, que estão dando mais trabalho do que eu esperava, pois decidi aglutinar os últimos dois capítulos em um só. Isso exige fazer muitos cortes com uma precisão o mais possível cirúrgica. Para quem escreve ou gosta de ler e conversar sobre o processo, publiquei dois posts no blog do Castelo, onde também há algumas fanarts que vocês podem curtir. Bora lá.

Ainda sobre o Castelo, o E-book do livro está em promoção até o dia 16 de maio em todos os parceiros de venda da Editora Draco. Se vocês ainda não conhecem Anna e Kieran, essa é uma boa oportunidade para fazê-lo quase de graça.

Outra notícia ligada à Draco: já temos os resultados da seleção de Meu Amor é Um Sobrevivente, quarto volume da série Amores Proibidos, que organizo junto com Janaína Chervezan (os três primeiros volumes foram organizados por Janaína e Eric Novello). O livro está previsto para o segundo semestre de 2013 e já estamos pensando num tema para o próximo, aposto que muitas autoras vão se entusiasmar.

Não sei se comentei aqui, mas O Caçador , meu primeiro livro publicado, foi adotado em mais duas escolas. É uma coisa muito legal, que me enche de orgulho e motivação para continuar a trabalhar. Talvez, mais para o final do ano, eu vá a Juiz de Fora e faça uma palestra ou ministre uma oficina para professores, o que sempre gostei de fazer, mas não tem sido muito frequente nos últimos dois ou três anos.

No mais, tenho lido muita coisa diferente, autores mais antigos e outros contemporâneos, não muito conhecidos do grande público. Também alguns juvenis que adorei e que depois pretendo comentar aqui. Por fim, estou tentando dar a atenção que minha família e amigos merecem, espero que com bons resultados. E ainda não consegui voltar a fazer Yoga, mas adotei algumas práticas diárias que estão conseguindo me ajudar um pouquinho com a já conhecida ansiedade.

Enfim, algumas realizações, muitos projetos, mas tudo dependendo de bastante trabalho. E do tempo, com o qual eu me afligia, mas que agora estou aprendendo a tratar como aliado. No fim, é ele que cura e resolve tudo em nossas vidas.

Abraços a todos,

Até a próxima!

segunda-feira, abril 22, 2013

Dia Internacional da Mãe Terra


Pessoas Queridas,

Eis que abro o Google e me deparo com uma animação muito legal sobre o Dia da Terra. Eu nem sabia do que se tratava, mas, a partir dali mesmo, descobri que a data foi criada oficialmente pela ONU em 2009 para marcar a questão da responsabilidade coletiva pelo nosso planeta. Isso apesar de ter havido comemorações bem anteriores, a partir de 1970, no âmbito do movimento hippie nos Estados Unidos.

Embora eu seja uma urbanoide assumida, quem me conhece ou me lê sabe que meu lado espiritual é ligado à terra, à harmonia entre os seres vivos e à celebração das estações. No futuro, pretendo viver mais perto da natureza, sem radicalismos, mas praticando meu amor pela terra muito mais efetivamente do que consigo agora.

Enquanto não dá, fica aqui este post como uma lembrança e uma homenagem.