Coleando devagar, Boiúna sai da toca. Imensa e assustadora cobra d´água. Mariazinha ouve o ruído e levanta depressa, mal e mal conseguindo escapar do respingo que busca sua pele.
Mariazinha tem três anos, menina nua e só diante da cobra. Mesmo assim ela olha sem medo, apenas curiosa com o bicho que nunca viu igual. Imóvel, ela também, Boiúna fica na superfície olhando Mariazinha, agora de dedo na boca, sem saber se corre ou chama pela mãe. Tempo ela tem para decidir: tanto ficou a cobra no sossego da toca, bicho socado no oco a alimentar-se, a aumentar, não fazem diferença uns momentos. Pensa a menina e cobra-grande espera. Não há pressa.
E de repente Mariazinha torce a cara, espia pelo canto dos olhinhos apertados. Cheiro ruim crescendo no ar, à flor das águas paradas bóia Boiúna, e nessa mansidão se acaba o seu fascínio: lembrando enfim o que aprendeu com os mais velhos, Mariazinha dá um puxão na corda, e a pororoca vem do fundo das águas e arrasta a cobra-grande.
Fim de uma lenda.