domingo, agosto 31, 2014

Boiúna



          Coleando devagar, Boiúna sai  da toca. Imensa e assustadora cobra d´água. Mariazinha ouve o ruído e levanta depressa, mal e mal conseguindo escapar do respingo que busca sua pele.
          Mariazinha tem três anos, menina nua e só diante da cobra. Mesmo assim ela olha sem medo, apenas curiosa com o bicho que nunca viu igual. Imóvel, ela também, Boiúna fica na superfície olhando Mariazinha, agora de dedo na boca, sem saber se corre ou chama pela mãe. Tempo ela tem para decidir: tanto ficou a cobra no sossego da toca, bicho socado no oco a alimentar-se, a aumentar, não fazem diferença uns momentos. Pensa a menina e cobra-grande espera. Não há pressa.
         E de repente Mariazinha torce a cara, espia pelo canto dos olhinhos apertados. Cheiro ruim crescendo no ar, à flor das águas paradas bóia Boiúna, e nessa mansidão se acaba o seu fascínio: lembrando enfim o que aprendeu com os mais velhos, Mariazinha dá um puxão na corda, e a pororoca vem do fundo das águas e arrasta a cobra-grande.
            Fim de uma lenda.

segunda-feira, agosto 25, 2014

Espinhos



Ao atravessar o parque, como faço todas as manhãs, frequentemente me deparo com uma dupla formada por um senhor bem idoso e uma mulher de meia-idade. Não sei se ela é sua filha, parente, ou uma pessoa contratada para acompanhá-lo. Sei que os vejo sempre no mesmo lugar, um banco próximo ao portão que uso para sair, e sempre do mesmo jeito: o senhor, quieto, até cabisbaixo, e a mulher falando alto e sem descanso num telefone celular.

Quero crer que é tudo uma coincidência: que sempre passo por ali no exato momento em que ela telefona para saber de alguém, quem sabe um filho adolescente que ficou em casa, e que antes e depois dessa ligação ela dá atenção àquele senhor. E que essa atenção vai além de segurar-lhe o braço quando ele caminha. Mas meus horários variam, e às vezes me demoro olhando as árvores ou o arco-íris do chafariz, e nunca presenciei qualquer coisa diferente disso.

Tenho vontade de me aproximar, sentar-me ao lado desse senhor no banco e puxar conversa, só para ver o que acontece. Mas ainda não me atrevi a fazê-lo. Em vez disso, sigo meu caminho, sentindo que espinhos se enterram, cada vez mais fundo, nos pés e no coração da mulher grisalha.

***

Imagem retirada deste site legal.

sábado, agosto 23, 2014

Sobre o Futuro


A ideia de uma ferramenta de busca pré-histórica é divertida, mas me inspirou uma reflexão. 

Semana passada recebi na BN a visita de minha prima Verônica, que vive na Holanda, de seu marido Oscar e de sua filhinha Sophie. Com eles estavam também dois sobrinhos do Oscar, um dos quais ficou intrigado diante de um catálogo de fichas. Ele, que tem 19 anos e frequenta a biblioteca de sua universidade, jamais tinha visto aquilo, e me perguntou, a sério, como se fazia para pesquisar. Quando expliquei, porém, ele entendeu na hora, e até usou uma analogia parecida com essa da imagem, dizendo que era uma base de dados em papel. E isso por quê? Porque o suporte mudou, mas a lógica da organização da informação continua sendo a mesma.

Fico ouvindo dizer que livros e bibliotecas vão morrer, mas acho que devemos reformular essa afirmação. Nada disso vai acabar, mas sim continuar em seu processo de mudança, como aliás vem acontecendo desde o tempo das tabuinhas de argila. E todos nós, leitores, escritores e bibliotecários, vamos nos adaptar belamente. Vocês não acham?

domingo, agosto 03, 2014

Sobre Athelgard e a Construção de Universos : um post para o Leitor Cabuloso



Pessoas Queridas,

Novo mês, nova coluna para o site Leitor Cabuloso. O convite do Lucien era para falar sobre a construção de Athelgard, mas preferi ampliar o foco e dizer algumas coisas sobre a construção de universos fantásticos. Algumas podem parecer óbvias, mas mesmo assim talvez ajudem quem está começando.

Para ler o artigo, é só clicar aqui. Espero que gostem.

Grande abraço e até breve!