segunda-feira, junho 20, 2005

Fadas, Bichos e Bons Amigos... em Bom Jesus!

Oi, Pessoas! Tudo bem?

Mais uma longa ausência. E mais um longo tempo sem visitas. Chato...! Mas, como eu já disse, isso se deve principalmente à greve, que me deixou sem possibilidade de ler e comentar os blogs amigos e que, de certa forma, me "enclausurou" um pouco, aqui com os meus alfarrábios. Também uma certa falta de inspiração e, vamos admitir, uma preguicinha que não dá para espantar... Quem de nós não tem um pouquinho de Macunaíma?

Agora, este fim de semana eu fiz de tudo, menos descansar. E olhem que fui para um lugar muito bom para isso: Bom Jesus de Itabapoana, uma cidade de cerca de 40.000 habitantes no Norte Fluminense. Lá vivem dois amigos muito queridos, a Paula e o Alex, e também um animador cultural digno desse nome, Pedro Salim Júnior, cujas crônicas vocês podem conferir aqui. Através da Paula, a quem eu havia consultado sobre a possibilidade de dar um curso sobre os contos de fadas em Bom Jesus, cheguei até o Pedro, que se interessou e levou à idéia à Coordenadoria de Ensino da região. Um CIEP de Bom Jesus cedeu o espaço, as escolas de vários distritos foram convidadas e, por fim, realizamos o curso, no último dia 18. E... que curso!

Até hoje, felizmente, os responsáveis por todos os lugares em que dei aulas, fiz palestras ou lançamentos me receberam muito bem, mas o pessoal de Bom Jesus se superou. Na biblioteca onde aconteceu o evento, além de café e biscoitinhos, havia música antiga nos intervalos... e uma decoração especial, com o meu nome e o título do curso inscrita em cartolinas coloridas, recortadas como brasões medievais! Já pensaram que barato?

Quanto ao número de alunos, uma ótima surpresa. No Rio costumo ter 10, 12 pessoas inscritas em cada edição do curso (mais que isso só na Casa da Leitura), mas em Bom Jesus foram 35, vindas especialmente de outros distritos e até municípios, como Itaperuna, para saber mais sobre contos de fadas. Segundo elas, a oferta de cursos e oficinas desse tipo é muito pequena por lá, por isso todos se inscrevem quando têm chance. É... Acho que vou mesmo investir naquela minha idéia de buscar espaços no interior, ainda mais quando tiver a sorte de contar com um organizador como o Pedro e com a hospitalidade de amigos como o Alex e a Paula. Amantes de animais, eles acolhem todo bichinho que aparece por lá, e acolheram a gente também, mesmo sabendo que os cães Boris e Brutus, o coelho Tambor e os cinco gatos não teriam sossego nas "garras"da Luciana. E, com as mil e uma coisas que tinham a fazer, a Paula ainda achou tempo para ir conosco a uma mata próxima, para que a Lulu visse mais uma vez os macaquinhos-prego que moram lá. Realmente... foi um fim de semana animal!

E agora... Agora, de volta a Nicty City e à greve. Realmente, não sei quando vai terminar, nem se, quando finalmente voltarmos ao trabalho, algo terá mudado. Mas uma coisa eu garanto: não estive parada todo esse tempo, nem pretendo ficar. Afinal, se eu passasse todo esse período sem BN vendo a Sessão da Tarde, como alguns de meus colegas disseram que fariam, o que seria da Literatura nacional?

Abraços a todos,

Até a próxima!

Ana Lúcia

segunda-feira, junho 06, 2005

Mais um Livro Chegando... !

Oi, Pessoas! Tudo bem?

Entrando no terceiro mês da greve, já tendo ido (ou levado Luciana) a todas as revisões médicas pendentes e com a obra no escritório em andamento, ainda assim tenho a felicidade de constatar que minha rotina tem menos a ver com ociosidade do que com um período muito produtivo, mas ao mesmo tempo dedicado a minhas realizações pessoais. Uma espécie de ano sabático, eu diria, embora para um ano ainda faltem quase dez meses. Pois a verdade é que, mesmo com horas de sobra para ver os filmes que desejar ou ir tomar um cappuccino, minhas atividades como escritora não pararam, e as coisas felizmente continuam a acontecer. Várias edições de meus cursos estão programadas, um artigo para a Ciência Hoje das Crianças está em andamento e minha ficção... Bom, essa é uma notícia que guardo para mais tarde!

No inventário desses dias de greve - acho que já deu para notar que mantenho um diário dela - contabilizei 33 livros lidos, alguns dos quais já foram citados aqui (e recomendados a meus alunos e às comunidades de leitores do Orkut, quando este acha por bem permitir que a gente escreva). Agora, quero citar rapidamente mais um: Herdando uma Biblioteca, do paranaense Miguel Sanches Neto, que conheci primeiro através do livro de contos Hóspede Secreto e que só agora soube ser também professor e crítico literário.

Não sei se já disse a vocês, mas, ao mesmo tempo em que sou uma voraz devoradora de resenhas, tenho muita desconfiança de críticos, em especial aqueles que fazem juízos de valor, como Harold Bloom (sim, ele faz algumas análises interessantes, mas é arrogante e preconceituoso, inclusive quanto a livros que admite não ter lido. E além disso eu detesto cânones). Sanches Neto, entretanto, faz uma admirável mea culpa de sua profissão na crônica Teoria da Amizade, em que relata sua reação diante do livro "ruim, que qualquer adolescente poderia ter escrito" e cujo esperançoso autor é seu amigo de infância.

Os amigos da gente não deveriam escrever livros. Seria mais fácil para o crítico não ter amigos escritores. Os livros deveriam ser escritos apenas por nossos inimigos. Se um destes publica um livro ruim, dá motivo para o crítico extravasar sua maldade e suas frustrações (...). Se o livro do inimigo for bom, mais fácil ainda. É a chance de provar da humildade e elogiar a obra com gordos e sibilantes adjetivos. Nossa consciência fica em paz e saímos do episódio como uma pessoa extremamente compreensiva, sem rancores.

No entanto, o amigo de Sanches Neto não apenas escreve um livro ruim como pede sua apreciação, confiando tanto em seu próprio talento (eu entendo, pobre criatura... Somos tantos autores órfãos à espera de um afago!) quanto na amizade de infância que, ele crê, poderá lhe abrir as portas do sucesso literário. O crítico, então, refaz o trajeto percorrido por sua consciência, que só o deixou em paz quando, finalmente, ele enviou ao jornal uma apreciação honesta e, portanto, negativa da obra. Até o dia, é claro, em que

(...) o texto saiu, ilustrado com a foto enviada ao editor. Ele sorria de uma maneira confiante, como no tempo em que éramos crianças.

.......

Pois é, pessoas. Hipotético ou não (pois ele pode ser uma síntese de vários de nós, autores iniciantes e canhestros, para não dizer iludidos), eu me identifiquei com o amigo de Sanches Neto, mas entendi a posição do próprio crítico e me solidarizei com ele. Também achei vários pontos de contato em outras crônicas, que falam de amor aos livros, da mania de freqüentar sebos, da importância do espaço reservado aos livros em casa e (estou com um pouco de vergonha, mas vá lá) da preferência por leituras de ficção ou de assuntos culturais em detrimento do que se pode chamar notícias da atualidade. Só recuso o rótulo de "alienada", que Sanches Neto atribui a si mesmo. Aí também não... Eu só demoro um pouquinho para fazer a atualização dos dados! ;)

Mas o que me levou a falar sobre Herdando uma Biblioteca, além de fazer a recomendação do livro, foi o depoimento do autor em uma outra crônica, chamada Lendo em Trânsito. Nela, Sanches Neto não está no papel de crítico, mas no de escritor, e escritor iniciante, que, tendo apanhado um ônibus para ir encaminhar seu livro aos jornais, emprestou um exemplar a um passageiro. 25 minutos depois, o rapaz terminou de lê-lo (tratava-se de um livro de poesia), devolveu a obra e disse: gostei. O ônibus parou e ele desceu, deixando em Sanches Neto uma sensação alegre, pois

(...) Minha literatura podia ser lida no ônibus por um passageiro anônimo. Não tomava mais que vinte e poucos minutos da vida das pessoas e não dependia do trabalho promocional feito pelo autor. (...)Meses depois (...) vi o volume num canto da sala do editor, entre outros livros, todos mal-impressos. Não tinha saído matéria sobre ele e não iria sair. Mas aquele volume, abandonado como refugo, não passara pela vida em vão. Tinha tido um leitor. Um leitor anônimo e em trânsito. Estava plenamente justificado.

.......

Bem... Se eu precisava de incentivo para publicar mais uma das minhas obras de ficção... Este bastou, não bastou?

É assim, pessoas, que eu anuncio para daqui a alguns meses meu novo livro independente: O Jogo do Equilíbrio. De todos os textos que eu tinha para publicar, achei esse o mais interessante: uma novela no gênero fantasia, sem magos nem guerreiros, apenas um saltimbanco que batalha seu pão de cada dia com humor e criatividade. O lançamento está previsto para Novembro, quando haverá no Rio o próximo Paixão de Ler, e todos vocês estão convidados. Não faltem!

E agora... vamos à luta. A vida chama!

Abraços a todos,

Ana Lúcia