sábado, dezembro 29, 2012

Jorge, o Sempre Amado




Pessoas,

Ontem à tarde estive participando do programa "Conexão Futura", para o qual me convidaram por ter organizado a mostra Jorge, o Sempre Amado, na Biblioteca Nacional.

Para quem quiser dar uma olhada, fica aqui o vídeo em que falamos eu e o Prof. Eduardo de Assis Duarte, da UFMG: ele sobre a obra de Jorge Amado e eu sobre minha experiência como leitora, em especial, de "Capitães de Areia" e "Jubiabá".

E para quem estiver no Rio ou passar por aqui ate o final de fevereiro, a mostra com cerca de 30 documentos está no terceiro andar do prédio-sede da FBN, podendo ser visitada de segunda a sexta, entre as 10 e as 18 h.

Espero vocês!

sábado, dezembro 22, 2012

Promoção 2013, uma canção e um texto por Vânia Vidal



Oi, Pessoas! Tudo bem?

Já que o mundo não acabou, aqui estou para anunciar o resultado da promoção 2013. Houve dois participantes: o Sandro Quintana, que sugeriu uma continuação focada no retorno de Laura e Octavio ao Condado, e a Vânia Vidal, minha amiga que está trabalhando em seu primeiro romance enquanto avança em sua dissertação de mestrado. Mesmo com tanta coisa a ocupar seu tempo, ela produziu um texto em primeira pessoa, narrando a odisseia do casal ao longo de vários anos. Foi escrito muito rapidamente (afinal, o mundo podia acabar!), mas ficou ótimo a meu ver, assim como as sugestões do Sandro.

Assim, ambos fazem jus à premiação, e agora mesmo vou avisá-los para combinarmos os detalhes da entrega dos livros - uma cerimônia de preferência acompanhada de um café, pois ambos vivem no Rio, será uma boa ocasião para nos encontrarmos.

A ideia do Sandro para a continuação está nos comentários do post. Já o texto da Vânia, com sua permissão, eu reproduzo aqui, juntamente com o pedido da autora para que vocês deem sua opinião.

Lá vai ele:
...

"Não havia um só lugar seguro em toda a terra.”

Este foi o meu último pensamento ao deixar o Condado, mas eu estava errado. Não me olhe assim, não sou nenhum covarde, não estou aqui tentando enfeitar meu passado, nem dizendo que as coisas são diferentes do que elas são. Ou foram. Nós nunca voltamos, se é isso o que você quer saber, Juan, mas é claro que sua avó tem outra versão e você está bastante crescidinho para tirar as próprias conclusões. O Condado ficou para trás.

Quando descemos a montanha, encontramos uma terra devastada. Terrível, mas ainda assim muito melhor do que esperávamos encontrar. Não, você não tem noção, aliás, ninguém da sua geração, nem pelos filmes que sobraram, ou pelas imagens digitalizadas e recuperadas pelas nuvens de átomos – ou não é assim que chamam aquelas telas feitas de sabão? Bom, não importa. O que importa é o que tenho para lhe contar, afinal, eu também estava lá. Eu senti o cheiro putrefato dos cadáveres às centenas de milhares, empilhados de todas as maneiras possíveis, por todos os cantos onde não sobrara ninguém vivo para dignificar os mortos. Para cada lugar que se olhasse havia centenas deles, mães apertando crianças contra o peito, mãos esticadas suplicando por um socorro que nunca chegaria, homens tentando escapar, velhos encolhidos sobre os joelhos....

Juan, Juan... Depois de meses sob chuva ácida nada mais resta que se pareça com um rosto humano, exceto as expressões que a morte imprime de terror mesmo quando já não podemos distinguir pele e cabelos. Mesmo quando tudo o que resta é uma silhueta crispada, cristalizando para sempre o último movimento, ainda que destroçados, é possível em meio ao caos distinguir uma família. Não sei nem como lhe dizer, Juan, exatamente o que vimos logo na primeira curva. Até hoje não encontro palavras que o definam. Creio até que sua avó, que sempre sabe das coisas, consiga lhe dizer algo que preste. E fora isso, o fedor da morte em cada mínimo detalhe, havia o lixo trazido pelas enxurradas, pelos desmoronamentos, pelos vendavais e pelos humanos que sobraram.

A radiação havia baixado para um nível tolerável para a vida humana, se é que o nível em que chegara naqueles meses tivera sido suficiente para morticínio, e você deve saber que o tolerável está muito longe do ideal. Os marcadores do condado podiam estar mal regulados, ou talvez o desconhecimento acerca da física nuclear fosse realmente grande naqueles tempos, não sei. Nós não tínhamos os conhecimentos de agora, nem conseguíamos fazer a fusão nuclear do hidrogênio direito ainda! Dependíamos daquele troço grosseiro, grotesco, gosmento, e preto, que você, Juan, você nunca viu... e que para nós era essencial, pois dele retirávamos combustível e toda uma gama de produtos plásticos... Enfim, não foi difícil perceber que não éramos os únicos a descer aquela montanha.

Eu falei dos cadáveres, mas omiti uma coisa. Muitos estavam mutilados, e não era por acaso ou força da natureza, que desprega as juntas e incha todo o resto, não... Sua avó foi a primeira a notar os cortes. Os cortes, a simetria, os locais. Aquilo não era obra do acaso, aquilo era obra de gente, e de gente que pensava, e tinha mãos firmes e fortes. Não sabemos se foram feitos antes ou depois de... Não, eu não faço a menor ideia de qual é o gosto de carne humana. Mas, seja lá como for, havia pessoas que sobreviveram graças a isso. E nós iríamos encontrá-las mais cedo ou mais tarde. Não espere que alguém vá se confessar a você, e dizer: eu fiz, eu comi, eu sei. Não vai. Há a vergonha maior, a de sobreviver, e minha geração é refém dela. Ninguém gosta de admitir que deu graças quando percebeu que o mundo acabara para os outros, não para si, mesmo que significasse suas famílias e amigos.

Sempre é tempo para recomeçar, Juan, isso é uma certeza piegas e uma verdade universal. Embora felizes por estarem vivos, irremediavelmente tristes por sobreviverem: assim é a geração dos seus avós, a minha, a de sua avó. Nem mesmo ela, tão forte, tão decidida, escapou desse infortúnio. Você já deve ter lido a infinidade de teses a respeito, não?

Mas... como dizia... ah sim, nós iriámos nos deparar com pessoas que haviam mastigado crianças e velhos, era claro que eu agradecia o fato de termos conosco armas. Nós dois sabíamos usá-las, afinal, havíamos sido treinados e preparados para aquele tipo de situação. Era o que repetíamos na nossa cabeça, pois a realidade Juan é sempre pior, nenhum aprendizado sob condições controladas pode preparar ninguém para lutar pelo próprio pescoço. O ser humano tem algo imprevisível correndo nas veias, que são os instintos, ou hormônios, sei lá. Sei que a adrenalina faz com que todo e qualquer raciocínio lógico desmorone quando o negócio é fazer as pernas se moverem e os dedos apertarem o gatilho.

Quando vi aqueles homens sedentos de corpo de mulher, ainda mais um corpo saudável como o da sua avó, se aproximando dela, suas narinas infladas farejando sexo, suas bocas sequiosas e seus olhares desvairados, apertei o gatilho. Matei sim, era eu ou eles, era sua avó ou eles. Éramos nós ou eles. É claro que a lei do mais forte se impunha também para nós dois, apesar dos nossos brios. Foi o pior momento de toda a minha vida, olhar para os corpos dos homens que eu mesmo matei. Aquela havia sido a primeira aldeia que encontrávamos em muitos dias pelas estradas que sobraram. Passei o resto da viagem me sentindo um monstro por ter talvez destruído o último resquício da humanidade, convencido que estava que o destino não me daria a oportunidade de encontrar pessoas vivas fora do Condado que não tivessem virados monstros canibais-estupradores-de-mulheres. E, Juan, eu estava errado! Viu, sua avó finalmente concordou com alguma coisa que eu disse. Eu sempre estou errado mesmo sob o olhar de Laura.

Nós estávamos viajando há muitos dias, não sei quantos, a duração do tempo havia sido modificada, o eixo da terra havia mudado a angulação, não tínhamos mais relógios confiáveis, nem tempo para inventar algum. Precisávamos encontrar uma casa, comida. Alimentávamos com as parcas plantas que podiam ser consumidas sem temor, este sim um grande aprendizado oriundo do confinamento. A água que dispúnhamos provinha da chuva, que após diversas filtrações sucessivas podia ser consumida sem corroer as entranhas, porém o gosto era pior que o de mijo de gato e não poderíamos ficar muito mais tempo vivendo assim.

As cidades estavam convertidas em amontoados de escombros parcialmente alagados por lama e esgoto. Entretanto havia prédios que não haviam sido seriamente afetados em suas fundações e que podiam ser aproveitados como abrigo futuro, e que deviam estar servindo de abrigo para pessoas. Encontramos algumas delas assim, e como era de se esperar, elas sabiam onde havia outras na mesma situação. A desgraça. Juan, mesmo que seja o fim do mundo, não impede que a humanidade siga a sua vocação, que é comunicar-se entre si. Humanos procuram meios de falar com outros humanos, isso é fato. Portanto, logo soubemos onde havia sobreviventes, e como haviam sobrevivido. As histórias variam muito, e quase todas envolvem uma parcela de sorte, não vou ficar aqui tecendo teorias.

O que vou dizer é que aos poucos nós fomos reconstruindo o que era possível. O grupo de refugiados urbanos, onde nós agora estávamos também, tratava de tentar remediar as perdas. Grupos de tarefas para desobstruir estradas, pontes, rios, casas, bibliotecas. Grupos de tarefas para buscar alimentos, sementes, sobreviventes; Grupo de tarefas para pensar e descobrir meios para descontaminar as águas; grupos de todos os tipos. Laura logo foi parar no grupo de enfermeiros e médicos, que não eram médicos e enfermeiros antes, mas tornaram-se pelas circunstâncias. Eu fui para o grupo dos construtores e ajudei a erguer pontes, casas, hospitais. Trabalhávamos muito, todos os dias, e o tempo passava rápido. O tempo passava e as demandas cresciam mais e mais, sobreviver é muito difícil, Juan! Os anos escorriam pelos nossos dedos enquanto tentávamos prover o básico sem muito sucesso. Tivemos períodos de fome, de doenças e de revoltas, mas também de sorte, sucesso e calmaria. Como antes, como antes de tudo acontecer.

Claro que eu pensava em voltar para o Condado, mas a rotina nos engolia. Quanto mais fazíamos, mais precisávamos fazer. Quanto mais avançávamos rumo a uma normalidade, mais difícil era manter o equilíbrio entre as pessoas. Até que um dia sua avó me disse que estava grávida. Eu não acreditei, pois as taxas de natalidade eram muito baixas graças à péssima nutrição que todos tínhamos. A última criança havia nascido morta há dois ou três anos. Vivíamos de hortaliças, carne de roedores e grãos. Os campos puderam ser cultivados após anos tentando recuperar o solo, e mesmo assim a produção não era boa, mas a sua avó estava mesmo grávida, e a criança nasceu e vingou. As coisas também foram se ajeitando, em um ritmo inexplicavelmente rápido, que antigamente dávamos o nome de progresso. Hoje eu chamo de ‘ a incrível capacidade que a humanidade tem de começar do zero’. Nós tivemos outros filhos e o final você já sabe.

Eu envelheci como professor universitário, sua avó como enfermeira. Seu pai lutou na guerra de unificação das colônias de sobreviventes da antiga França, de onde jamais regressaria... Nunca mais soubemos do Condado. E depois de tantos anos, não havia mais motivos para procurar saber...

Sua avó tentou por algum tempo, mas nada fora encontrado. Ir lá, sozinha, nunca permiti, ainda mais depois que as crianças nasceram. Quando finalmente estavam crescidas, sua mãe parou de falar no assunto.

É claro que à noite eu me pergunto o que lhes teria acontecido. É claro que sinto saudade. Mas o que você queria que eu fizesse? Largasse o certo pelo incerto outra vez? Eu não, eu era apenas um homem. Um homem que tem o que todos os homens têm: vergonha. Vergonha por ter partido, vergonha por não ter voltado, vergonha por ter uma vida boa. E a coragem de ter sobrevivido.

E ter gostado.

Mas eu não me arrependo.


...

E então? Curtiram? Eu sim, e muito! Obrigada, Vânia, e você também, Sandro, por sua participação. E como é Natal quero presentear vocês com uma lembrança da minha adolescência: cliquem aqui e ouçam a belíssima canção "Depois do Fim", do Bacamarte, a trilha sonora perfeita para as histórias do "Condado" espanhol.

Enfim, boas festas pra vocês, bom descanso e/ou divertimento. Antes do fim do ano eu volto.

Abraços a todos!

segunda-feira, dezembro 17, 2012

Melhores Leituras de 2012 : Dez Livros Estrangeiros





Oi, Pessoas!

Estou de volta com a lista de melhores leituras, desta vez falando de obras estrangeiras. Os parâmetros usados já foram explicados na primeira parte, e, sendo assim... Bom, vamos direto ao assunto.

O Círculo negro, de Catherine Fisher

O primeiro juvenil da minha lista, trata de forma sensível do conflito entre dois irmãos: um adolescente com talento para a pintura e uma menina, pouco mais nova, cujo dom (mantido em segredo) é a escrita. Após um acidente, a criança entra em coma e seu espírito (mente, se preferirem) se torna presa de um mundo feérico fortemente ligado aos mitos celtas. Não vou dar spoilers, mas dois avisos: 1. A parte psicológica é o forte do livro, não a ação; 2. Vale muito a pena.

A Invenção de Hugo Cabret, de Brian Selznick

Dispensa comentários. Narrativa e imagens unidas com mestria e ainda uma bela homenagem a Georges Meliès e ao mundo mágico que cercou os primeiros tempos do cinema. O filme é lindo, mas, por favor, não deixem de dar também uma chance ao livro.

Stravaganza, de Mary Hoffmann

Uma trama conduzida em dois lugares: a Londres atual e uma época que lembra o final do Renascimento em um país que lembra a Itália. Entre ambos, lidando com uma trama que mistura nobres e alquimistas, um menino com o dom de fazer viagens no tempo e no espaço e com o nome mais lindo do mundo: Luciano. Uma fantasia imperdível.

Garota, traduzida, de Jean Kwok

Este é o primeiro em ordem alfabética e, por coincidência, o mais juvenil dos livros para adultos que constam nesta lista. Uma menina e sua mãe, recém-chegadas da China aos Estados Unidos, enfrentam todo tipo de dificuldades a fim de que a garota realize seu sonho de estudar e se formar em medicina. O amor entre elas é de fazer sorrir e chorar. Um ótimo livro. 

Hibisco roxo, de Chimamanda Adichie

Outro livro maravilhoso da autora de "Meio Sol Amarelo". Um casal de irmãos tem como pai um industrial africano, cristão até a medula e que exige o impossível da esposa e dos filhos em meio a um país dilacerado por conflitos. Não percam, vale muito a pena.

Invisíveis, de Stef Penney

Nos anos 80, um detetive inglês é contratado por uma familia de ciganos para investigar um desaparecimento e acaba se envolvendo com um drama familiar envolto em segredos e em séculos de perseguição e preconceito. Juro que não descamba para a existência de ordens secretas, templários nem vampiros - é uma ficção bem realista - mas vocês vão gostar de conhecer  o demônio Poreskoro, "o que não era macho nem fêmea". 

Rei rato, de China Mièville

Confesso que não achei "Perdido Street Station" tão legal assim, mas este é. E a tradução de Alexandre Mandarino é fenomenal. Este livro fala sobre uma figura que existe no folclore e em contos populares, o Rei Rato, que domina os esgotos e o submundo e tem como adversário um temível flautista. Muito bom!

A Resposta, de Kathrynn Stockett

Sim, esse também tem filme. Sim, o filme é bom. E é fiel. Mas o livro é mais detalhado e conta melhor a história de mulheres negras nos estados americanos do sul - quando elas decidem pela primeira vez contar de fato sua história. 

O Último desejo, de Andrzej Sapkowski

O melhor livro de fantasia que li este ano, e foram muitos. Na verdade trata-se de contos entrelaçados, protagonizados pelo bruxo/mutante/criatura mágica Geralt de Rívia, que enfrenta outros bruxos/mutantes/criaturas mágicas em narrativas cheias de sangue, sensualidade, mas também aventura e humor. As duas continuações estão no topo da minha lista para o ano que vem.

O Último Dickens, de Matthew Pearl

Um thriller muito bem escrito sobre o desaparecimento misterioso da última obra (inacabada) de Charles Dickens, história que se entrelaça com o relato da visita do escritor aos Estados Unidos. Os fãs de Dickens vão gostar. Alguns talvez até fazer como eu, que encomendei os dois outros livros de Pearl, sobre Dante e Allan Poe. Acho que valerá a pena.

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Bom, Pessoas, essa foi a minha lista. Espero que se interessem por algumas destas leituras e partilhem as suas. O que vocês leram este ano que podem me recomendar? Contem aí, não sejam tímidos. :)

E pra quem vem sempre por aqui, não se esqueçam: está valendo a promoção 2013. Aguardo participações!

Abraços a todos e até a próxima!

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Imagem retirada deste blog. Espero que o autor não se importe, a intenção aqui também é falar de livros e leituras.

domingo, dezembro 16, 2012

Melhores Leituras de 2012: Dez Livros Nacionais




Oi, Pessoas! Tudo bem?

Bibliotecária, Sol na 4ª. casa astrológica, apreciadora de História e Mitologia... É, tudo aponta para um certo apego às tradições. E, como estamos em dezembro, chegou a hora de cumprir o que se tornou uma tradição aqui na Estante Mágica, falando um pouco sobre os livros que li em 2012.

Antes de começar, devo explicar que desta vez optei por apenas duas categorias: livros nacionais e estrangeiros, tendo por única regra não listar antologias com vários autores. Foi por puro acaso que não entrou nenhum livro de contos na lista final. Também os juvenis, que estariam numa categoria à parte, acabaram se mesclando aos demais, e reservei três posições para eles. Assim, cada lista é aberta por três livros juvenis - que entram primeiro, em ordem alfabética de título – aos quais se seguem sete romances para adultos, também em ordem alfabética.

Deixo claro que não é minha intenção fazer qualquer juízo de valor. Leitura, como vocês sabem, é algo muito pessoal. Um livro pode ser maravilhoso para mim e chatíssimo para outra pessoa; pode fornecer a chave para a compreensão da minha existência e não fazer nenhum sentido para você. Também há aqueles que, como escritora, eu não podia deixar de ler e cuja importância reconheço, mas que não pus na lista porque não foram leituras muito fáceis nem – para mim – tão agradáveis.

Em suma, a intenção aqui não foi enumerar “os melhores livros”, mas partilhar as leituras que mais me deram prazer ao longo deste ano. As listas incluem títulos recentes e alguns lançados há anos, além de uma bela mistura de estilos e gêneros.

Confiram!

A Árvore do medo, de Marco Túlio Costa

É um livro juvenil, mas não só: fala sobre um professor convidado por uma ONG a dar uma oficina de escrita criativa para jovens, e em meio à narrativa se encontram algumas dicas para quem trabalha com isso. A história, porém, encanta, pois, sem deixar em momento algum de ser uma narrativa envolvente, consegue mostrar como a literatura pode realmente cumprir uma função libertária. Boa escrita, bela mensagem.

Duncan Garibaldi, de A. Z. Cordenonsi

Boa parte dos visitantes da Estante Mágica deve conhecer este. É uma aventura muito bem narrada, com pinceladas de mitologia e cultura brasileira, tendo por fundo um bom trabalho de pesquisa sobre a cidade do autor (Santa Maria, RS). E com um gostinho steampunk ainda por cima.

Ouro, fogo e megabytes, de Felipe Castilho

Um livro surpreendente, cheio de aventuras e reviravoltas que combinam jogos online e seres do folclore brasileiro – mas o melhor mesmo é a narrativa de Felipe, cujos diálogos e descrições fogem do jeitão “engessado” que vemos tanto em juvenis quanto em livros de fantasia para adultos e tornam seus personagens e sua história muito mais críveis e envolventes. Trabalho de mestre.

O Andarilho das sombras, de Eduardo Massami Kasse

Um livro de fantasia medieval que segue a linha de Bernard Cornwell: tudo é cru, tudo é sujo, tudo é direto. Ao mesmo tempo, uma narrativa que prende, entrelaçando dois momentos do mesmo personagem para no fim levar o leitor a compreender como ele chegou até ali e o porquê de fazer o que faz. Vale a pena.

Carvão animal, de Ana Paula Maia

Também um livro cru, conta a história de dois irmãos – um bombeiro, um funcionário de crematório – e da cidade onde vivem, onde tudo é cinzento e onde os mortos abastecem os vivos. Ambos têm de lidar com uma tragédia do passado ao mesmo tempo que fazem frente a um cotidiano árido e brutal. Incomoda e surpreende.

O Centésimo em Roma, de Max Mallmann

Uma delícia de livro. Não só pela ambientação fabulosa, mas pelo protagonista – o impagável centurião Desiderius Dolens - , pela trama, recheada de maquinações, surpresas e bastante humor, e pelos diálogos mais do que afiados. Um livro para ler, reler e dar de presente.

Gabriel, de Claudio Parreira

O que fazer quando o “cara lá de cima” dá uma de doido e envia ninguém menos que o anjo Gabriel à terra, numa missão quase impossível? E quando o anjo é ajudado pelas pessoas mais improváveis? Em cima disso, Parreira criou uma ótima história, com humor, suspense e uma boa escrita. Recomendo!

Kaori, perfume de vampira, de Giulia Moon

Embora não seja muito fã de livros de vampiro, posso dizer que este me encantou. Curti tanto a parte dele que se passa em São Paulo quanto a do antigo Japão, lugares por onde transita a sedutora Kaori - e os dois outros livros da saga já estão na minha lista para 2013, com a promessa de mais fascínio em boa narrativa.

A Primeira mulher, de Miguel Sanchez Neto

O autor dispensa comentários: quase todos os anos tem livro dele na minha lista. Este não fica atrás dos primeiros, contando a história de um professor quarentão, solitário e meio entediado que se envolve numa trama criminal de fundo político. Ao fundo desfilam várias mulheres: a ex-namorada, a aluna, a secretária e a mais importante de todas, que é... Ora, leiam! :)

A Tisana, de Roberto de Mello e Souza

Li este livro enquanto trabalhava na organização da coletânea Excalibur, da Editora Draco, que sai no ano que vem. Trata-se da história de Tristão e Isolda transportada para o sertão e contada ao estilo de João Guimarães Rosa – com um resultado incrível. O autor é responsável por levar a história de Percival para o mesmo universo em “O Pão de Cará”, dois livros que recomendo a fãs do mito arturiano e a apreciadores da boa literatura nacional.

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Bom, Pessoas, por enquanto é só. Em breve sairá a lista de livros estrangeiros. E não esqueçam: estamos com uma promoção bem legal aqui no blog, valendo um exemplar de 2013. Aguardo sua participação!

Até a próxima e um grande abraço!

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Post ilustrado com uma imagem que recebi e compartilhei no Facebook. Desde já peço licença ao seu autor para utilizá-la e me comprometo a dar o crédito, se alguém souber de quem é.

segunda-feira, dezembro 03, 2012

Promoção 2013



Adoráveis Pessoas,

O fim do ano se aproxima e eu estou mais atarefada do que nunca. Ainda bem! Assim não tenho tempo pra pensar no fim que se aproxima, a julgar por certas profecias... e que chegou, de fato, no livro cuja capa ilustra este post.

Já conhecem, né? Trata-se do 2013, parceria entre as editoras Literata e Ornitorrinco, no qual os autores contam suas histórias com base naquilo que viria após o fim do mundo. Todas são legais, porém mais legal ainda é que a minha pode ser lida na rede, bastando baixar a edição n. 104 da revista Somnium, publicada pelo Clube dos Leitores de Ficção Científica do Brasil.

Agora, o mais legal mesmo é que, conforme prometi há algum tempo, estou iniciando uma promoção, valendo um exemplar autografado do 2013. Para concorrer, basta sugerir uma continuação ou um final, mesmo que em poucas linhas, para o meu conto Deixando o Condado, que pode ser lido através do link da Somnium.

Entendam bem que não se trata de escrever outro conto, embora eu fosse adorar (e já deixo um prêmio extra prometido a quem fizer isso). É só para pensar no que acontece com meus protagonistas, ou pelo menos alguns deles, em seguida à história que é narrada em Deixando o Condado. Não há restrições para outros autores do livro, funcionários da Literata ou da Ornitorrinco, seus cônjuges ou parentes em qualquer grau.

A promoção está valendo até o dia 21 de dezembro, quando supostamente termina o calendário maia. Se o mundo não acabar, no dia 22 eu anuncio o vencedor, que será aquele cuja sugestão me parecer mais criativa. Se ninguém participar - é triste, mas pode acontecer - o livro será sorteado entre os seguidores deste blog.

Então, Pessoas... Aguardo suas sugestões acerca do futuro de Octavio, Laura, Mauricio e do próprio Condado. É só pensar um pouco, pois, com todos os defeitos que o conto possa ter, trata-se de uma história que pode render várias e surpreendentes continuações.

Abraços e até breve!

terça-feira, novembro 13, 2012

H de Henriqueta, a Espiã





Antes de começar, um esclarecimento: o título acima é a tradução da Ediouro para o livro Harriet, the Spy, da americana Louise Fitzhugh. Essa foi uma das edições de bolso compradas com minha mesada quando eu tinha no máximo uns doze anos, possivelmente menos. Foi um livro que li várias vezes e que me fascinou ainda que eu não soubesse o porquê – o quanto eu tinha em comum com a protagonista, além da idade, do cabelo curto, dos óculos e do caderninho que eu levava para todo lado.

Deu para adivinhar? Henriqueta, ou Harriet, era uma menina que gostava de escrever. Não lembro se, como eu, também inventava histórias, mas o que fazia, principalmente, eram observações – por vezes irônicas e até cruéis – a respeito de seus colegas de escola, inclusive os amigos mais próximos Sport e Janie. Esse é o principal ponto de divergência, pois raramente escrevi ou escrevo sobre pessoas da vida real; mas o fato de Henriqueta viver agarrada ao seu caderno de notas, a inadequação a situações do cotidiano escolar e a atitude intelectualmente precoce/emocionalmente imatura demonstrada por ela a tornam muito próxima do que eu era naquela idade.

Numa análise superficial, as semelhanças iriam parar por aí: a identificação, em vários sentidos, entre a personagem e a sua jovem leitora. De fato, a trama do livro é centrada em um acontecimento que (felizmente) nunca teve lugar em minha vida: Henriqueta perde seu caderninho e as anotações que fez sobre os colegas passam a ser de conhecimento destes, que obviamente ficam zangados e criam um grupo dedicado especialmente a rejeitar a menina (hoje talvez se falasse em bullying, mas lembrem-se, foi ela que começou). Em reação, Henriqueta passa por várias fases, desde a raiva à depressão, mas, aconselhada por sua antiga babá, a pessoa com quem mantinha o vínculo afetivo mais forte – e que em mais de uma ocasião no livro afirma que ela tem de crescer – acaba por retomar a amizade com Sport e Janie e a se tornar editora do jornal da escola (parece que todas as escolas americanas têm jornais legais. As nossas não. Isso não é justo).

Enfim, ao término do livro a vida parece voltar aos eixos e o futuro promete que Henriqueta será, não uma “espiã” como ela dizia no início, mas uma jornalista ou escritora. O que, depois de muitas reviravoltas, eu também me tornei – e com vários percalços de convivência, diferentes dos que foram enfrentados pela personagem. Isso porque, embora nenhum dos meus colegas tenha lido nada desabonador a seu próprio respeito, as poucas situações em que chegaram a ler algo e o simples fato de eu estar escrevendo, inventando, eram motivo de estranheza e de afastamento por parte de pessoas com quem, bem ou mal, eu mantinha ou supunha manter uma relação de amizade. Ou não?

Hoje, com um olhar distanciado, consigo ver que nem era tanto a escrita, mas todo um conjunto que incluía uma  bagagem cultural diferenciada (adquirido por meio de leituras e não de viagens, mas está valendo), uma aparência considerada esquisita (somos tantos!), falta de talento para esportes e muitas outras coisas. Não sei se foi uma defesa minha pensar que toda a rejeição e o isolamento se deviam ao fato de eu gostar tanto de ler e escrever (e ser, portanto, uma pessoa especial, que um dia ganharia o merecido reconhecimento. Bla, bla, bla). Tudo que sei é que mais de uma vez abri meu caderno, depois de algum episódio escolar ou familiar lamentável, e preenchi de cima a baixo várias folhas com a frase que Henriqueta escreveu em seu livro de notas:

EU GOSTO MUITO DE MIM.

Felizmente, acho que sempre foi verdade, ou eu não estaria aqui para contar esta história.

.......

O texto acima foi, como todos os posts da série Memórias de Leitora, escrito com base apenas nas memórias do que li, neste caso, há cerca de trinta anos. Agora, a Wikipedia me informa que Harriet, the Spy, publicado em 1964, ganhou prêmios juvenis de Literatura, foi adaptado para o cinema em 1996 pela Nickelodeon e, em 2010, serviu de argumento para uma filme da Disney chamado “Blog Wars” em que Henriqueta e sua arquiinimiga competem para ver quem tem o melhor blog. A vida avança, assim como a tecnologia. De qualquer forma, “Henriqueta, a Espiã” é um livro de que sempre me lembrarei com carinho e cuja mensagem continua atual. Recomendo a todos, principalmente o pessoal mais novo. E, dentre esses, àqueles que estão aprendendo a lidar com as dores e as alegrias trazidas por seja qual for o seu Dom.

Boa leitura e até a próxima!

domingo, novembro 04, 2012

O Estigma do Feiticeiro Negro : Lançamento na Casa da Leitura


Olá, Pessoas!

É com muito prazer que venho convidá-los para um evento a ser realizado na Casa da Leitura, no dia 10 de novembro (sábado), a partir das 15 h. Trata-se do lançamento do novo livro do veterano Miguel Carqueija, em parceria com a jovem autora Melanie Evarino: a fantasia humorística O Estigma do Feiticeiro Negro.

O evento será acompanhado de um debate sobre literatura infantojuvenil que contará com a minha presença, a de Ana Cristina Rodrigues e a de Estêvão Ribeiro, além, é claro, de Melanie e Miguel. Também estarão presentes os editores Alícia Azevedo e Henrique de Souza, da Editora Ornitorrinco.

Além do Enigma, estará disponível para compra o Bestiário, primeiro livro da série sobre animais fantásticos organizada por mim e por Ana Cristina para a editora. Já estamos planejando os próximos volumes. Quem ainda não conhece pode dar uma espiadinha no site da editora, aproveitando para ver as outras obras do catálogo, saber o que está no prelo e ler a chamada para a antologia Erótica Steampunk, cujo prazo foi prorrogado até 20 de novembro. Basta clicar aqui.

Então, pessoal do Rio e cercanias, já sabem. Esperamos vocês.

Até o dia 10 e um grande abraço!

quarta-feira, outubro 31, 2012

Desejos, Abóboras e Estranhas Invenções




Saudações, Pessoas!

Conforme prometido, venho anunciar o vencedor da promoção "Estranhas Invenções".

Pensei muito antes de decidir e, como escritora e bibliotecária, é claro que fiquei inclinada a concordar com quem votou no livro, na escrita ou na imprensa (Sandro, a linguagem vem antes de tudo, mas é algo inato e não uma invenção, nem na acepção mais abrangente de um conjunto de técnicas). No entanto, é certo que as conquistas de nossa cultura e civilização só foram possíveis quando passamos a viver em povoados e depois em cidades - e sendo assim, o exemplar de Estranhas Invenções irá para Eric Musashi, que indicou a agricultura e deu uma boa justificativa para isso.

Eric, vou avisar você pelas redes sociais e pedir seu endereço, espero que goste do livro. Muito obrigada a todos por participarem. Logo teremos mais promoções na Estante Mágica - e, para quem ainda não viu, também está rolando uma no blog do Castelo das Águias. Confiram aqui.

...

Hoje é Halloween e eu vim trabalhar com a camiseta do Jack Esqueleto, o cara aí de cima. Não estou atendendo público, mas já ganhei muitos sorrisos e olhares tortos. Os primeiros, felizmente, mais numerosos. Também já expliquei a uma pessoa na barca (porque ela perguntou, ok?) a verdadeira origem do Halloween, que aliás tem a ver com a agricultura, além de outras coisinhas. Mas acho que a senhora não ficou muito convencida: assim que acabei de falar, voltou a se refugiar em sua revista.

Algumas pessoas devem pensar que sou um caso perdido.

...

Mais um mês que se vai. Este ano está passando rápido, mas não ligo. Sei que o próximo será ótimo, cheio de boas surpresas e novidades. É esse o meu desejo, doce e travesso, para todos nós.

Abraços e até breve!

quinta-feira, outubro 25, 2012

Somnium 104: Pra não dizer que não falei de FC




Queridas Pessoas,

Como eu disse alguns posts atrás, sou mais de Fantasia do que de Ficção Científica, seja para ler ou para escrever. No entanto, ultimamente ando fazendo algumas incursões por esse gênero irmão, e até que estou satisfeita com os resultados. E os leitores também, ao que parece.

Deu pra adivinhar? Pois é. Dos vários contos publicados na antologia 2013 - Ano Um, parceria entre as editoras Literata e Ornitorrinco, justamente o meu, "Deixando o Condado", foi escolhido para fazer parte do número 104 da Somnium, publicação oficial do Clube dos Leitores de Ficção Científica do Brasil. Isso me deixou muito feliz, não apenas por revelar que meu trabalho agradou a quem entende e gosta do gênero, mas também por poder partilhá-lo com vocês, deixando - eu espero - um gostinho de "quero mais" em relação a 2013.

Em breve irei fazer um sorteio aqui, um pouco diferente do Estranhas Invenções - aliás, quem não participou, ainda dá tempo! - e já aviso que o livro está ótimo, com a participação de grandes autores como Roberto de Sousa Causo e o vencedor do Prêmio Argos 2012, conferido pelo CLFC - Brasil, Gerson Lodi-Ribeiro. Aliás, Gerson e Flávio Medeiros Jr., vencedor na categoria conto, são entrevistados na Somnium 104. E a revista traz ainda outros três trabalhos de ficção, assinados por Zé Wellington, Miguel Carqueija e Ricardo Guilherme dos Santos.

Então, o que vocês estão esperando? Cliquem aqui e leiam a Somnium! E depois me contem o que acharam de Octavio, Mauricio e Ramona. Quem irá sobreviver aos últimos meses de 2013?

Abraços e até a próxima!

terça-feira, outubro 09, 2012

Promoção "Estranhas Invenções"



Caríssimas Pessoas,

Chegou a hora de revelar o que eu estava preparando pra vocês. Ou o que nós preparamos, um grupo de escritores de Literatura Fantástica e os simpáticos Henrique e Alicia, que capitaneiam a novíssima Editora Ornitorrinco.

Para mim, tudo começou no ano passado, com um convite de Ademir Pascale para que escrevesse um conto sobre uma invenção. "Que tipo de invenção?", perguntei. "Coisa que exista ou inventada por mim, podendo ser algo tipo máquina do tempo?" Tanto fazia, assegurou Ademir, e o mesmo valia para a pergunta seguinte: o conto não precisava ser de Ficção Científica, poderia agregar alguma coisa de Fantasia.

Embora estivesse (como ainda estou) cheia de trabalho, fiquei animada com o convite, principalmente porque logo pensei em aproveitar uma ideia que já me dava voltas à cabeça: a de escrever um conto baseado nos personagens de Dickens, emulando inclusive (dentro das minhas possibilidades) seu estilo, ou pelo menos o estilo que eu estava acostumada a ler nas traduções que tenho de "Pickwick Papers", "Conto de Natal" e outras obras. Pickwick, aliás, era um personagem que não podia faltar, assim como os distintos senhores do seu Clube e seu criado Sam, enquanto o papel de cientista caberia ao otimista e desvairado Sr. Micawber de "David Copperfield". Quanto à máquina em si, acabou por ser a de leitura de sonhos - pretexto para citar, embora de leve, outros textos e outros personagens de Dickens - e seu funcionamento baseado nos princípios do magnetismo animal e do mesmerismo.

Se minha tentativa foi bem-sucedida do ponto de vista literário, só vocês podem dizer. Mas o conto foi publicado num livro bem legal, e estou em boa companhia, pois Estranhas Invenções conta com a participação de Ademir Pascale,Marcelo Bighetti, Daniel Borba, Mauricio Montenegro, Cesar Alcazar, Miguel Carqueija, Tibor Moricz, Alícia Azevedo e Jorge Luís Calife. Vale a pena conhecê-lo - e até o final do mês a Estante Mágica está possibilitando a seus leitores a chance de ganhá-lo, bastando para isso responder, nos comentários deste post:

- Qual a invenção que você considera até hoje a de maior importância e por quê?

Fácil, né? Bom, mais ou menos. A invenção citada tem de existir no mundo atual e sua justificativa tem de ser boa. Aquela que me convencer mais será a vencedora - sim, isso é subjetivo, mas se trata do poder de argumentação - e o autor da resposta levará o livro. A promoção será encerrada no dia 30 de outubro e o vencedor será anunciado, no máximo, até o dia seguinte.

Então, Pessoas, é isso. Mãos à obra. Se puderem ajudar a divulgar a promoção nas redes sociais, ficarei muito grata. Se apenas participarem, também. De qualquer jeito, voltem sempre! Fico feliz com sua presença aqui.

Até breve e um grande abraço!

...


Para quem ainda não sabe, temos, além desta, uma promoção rolando no blog oficial do Castelo das Águias. Passem lá e divulguem também. Agradeço!

Capa do livro "Estranhas Invenções" feita por Marcelo Bighetti sobre desenho de Leonardo da Vinci, a quem o livro é dedicado. Porque ele foi artista, inventor e possivelmente um cara meio estranho.

quinta-feira, outubro 04, 2012

Charles Dickens


Pessoas Queridas,

Para começar o mês com o pé direito, aqui vai um post que eu vinha planejando há um bom tempo. É sobre um escritor nascido há exatos duzentos anos sob o signo de Aquário, exatamente como esta que vos fala. A diferença é que não tenho a pretensão nem de chegar perto da excelência do incrível contador de histórias que foi Charles Dickens.

Natural de Portsmouth, Inglaterra, Dickens teve uma infância parecida com a de alguns dos personagens de seus livros. Tinha doze anos quando seu pai foi preso por dívidas, obrigando-o a deixar a escola e trabalhar em turnos de dez horas numa fábrica, o que marcou profundamente seu caráter e sua memória. A herança deixada pela morte da avó permitiu saldar as dívidas do pai e, algum tempo mais tarde, levar o jovem Charles de volta à escola, da qual sairia para trabalhar num escritório. Pouco tempo mais tarde, fez-se repórter e se interessou pelo teatro, mas não chegou a iniciar uma carreira como ator, embora os pendores dramáticos o tenham auxiliado, mais tarde, nas turnês de leitura que realizou na Grã-Bretanha e no estrangeiro.

O sucesso de algumas publicações de cunho jornalístico levou Dickens a receber uma proposta de publicação por parte dos editores Chapman e Hall,  e em 1836 surgiu seu grande sucesso, "The Pickwick Papers". A obra saiu de forma seriada, permitindo a Dickens escrever de acordo com a recepção obtida por parte do público. No mesmo ano, ele se tornou editor de um jornal, começou a escrever outro livro de sucesso, "Oliver Twist" e, ainda, se casou com Catherine Hogarth, com quem teria nada menos que dez filhos. O casamento, no entanto, foi infeliz e terminou em separação. Catherine deixou a casa com o filho mais velho e os demais permaneceram com o pai e com a tia materna, Georgina, que ficou ao lado de Dickens e passou a cuidar da casa e dos sobrinhos.

O sucesso e a fama de Dickens só fizeram crescer nos anos seguintes. Suas obras, cuidadosamente planejadas e retratando tipos interessantes da sociedade britânica - vários dos quais baseados em pessoas reais, algumas muito próximas do autor - continham humor, crítica social e muitas vezes uma boa dose de sentimentalismo, receita certa para as novelas de sucesso. Tanto as publicações seriadas quanto os livros eram lidos avidamente por toda a Inglaterra, e logo conquistaram também os Estados Unidos, onde Dickens realizou turnês por várias cidades, lotando teatros e levando seus leitores ao delírio.

Dentre os trabalhos mais conhecidos do autor, além dos já citados, estão o famoso "Conto de Natal" estrelado por Ebenezer Scrooge - adaptado e levado à tela em inúmeras versões - o autobiográfico "David Copperfield" e "Grandes Esperanças". O conjunto da obra lhe valeu ter sido considerado por muitos estudiosos o maior dos escritores ingleses vitorianos, elogiado, entre vários outros, por Leon Tolstoy e George Orwell. Por outro lado, Oscar Wilde, Henry James e Virginia Woolf criticaram a falta de profundidade dos personagens (la, la, la...) e a pieguice de algumas obras, em especial "A Pequena Loja de Curiosidades". Dickens foi também acusado de misógino, característica que um de seus biógrafos atribui ao ressentimento do autor por sua mãe, que não se apressou a tirá-lo da fábrica onde trabalhava, mesmo depois de terem recebido a herança.

Os últimos anos do autor foram conturbados. Em 1865, ele se envolveu num sério acidente de trem, no qual agiu como um herói, confortando os feridos e possivelmente salvando algumas vidas. Isso lhe forneceu material para uma história de fantasma, "The Signal Man", mas também lhe abalou os nervos, marcando o início de um período em que sua saúde se deteriorou. Ainda assim, ele realizou uma turnê de leitura pelos Estados Unidos e, mais tarde, uma "de despedida" na Inglaterra, Escócia e Irlanda.

Em junho de 1870, após ter passado um dia inteiro trabalhado em sua novela "O Mistério de Edwin Drood", Dickens sofreu um ataque cardíaco, do qual veio a falecer. Seu corpo foi sepultado no "Canto dos Poetas" da Abadia de Westminster, em Londres, contrariando o desejo do escritor de um sepultamento discreto na catedral de Rochester. "Edwin Drood", que já tivera algumas partes publicadas, permaneceu inacabado, por isso até hoje os estudiosos da obra de Dickens discutem quem seria o misterioso assassino.

...

Bem, Pessoas... O post está bem longo, mas esse é um autor sobre o qual há muito a dizer. Eu, que me deleitei com várias de suas obras na adolescência, especialmente o "Conto de Natal" e o "Pickwick", ainda descubro muita coisa legal na leitura e na releitura de Dickens. E tanto li e tanto descobri que resolvi homenagear, de um jeito que ia contar aqui, mas resolvi deixar para a semana que vem.

Afinal, como o próprio Charles Dickens constatou desde os tempos vitorianos, nada como um suspense para os próximos capítulos... :)

Abraços pra vocês,

Até breve!

Post ilustrado com o quadro "Dickens Dream", de Robert William Buss (1804 - 1875)

domingo, setembro 30, 2012

Top 5 e Entrevista no Pop Division



Pessoas Queridas,

O conteúdo deste post já foi bastante divulgado nas redes sociais, mas não quero deixar de linkar aqui duas entrevistas que saíram no final de setembro e que dizem bastante sobre mim e sobre minha obra.

A primeira obedeceu ao formato que já se tornou tradicional no blog da Editora Draco: o Top 5, em que os autores da casa falam das influências que nortearam seu trabalho. As minhas diferem um pouco da maioria, então quem ainda não viu e tem curiosidade de saber de onde saiu tanta "hipponguice" é só correr lá.

A segunda entrevista foi concedida ao meu colega de editora, Jim Anotsu, autor de Annabel e Sarah e do recentemente lançado A Morte é Legal. Aqui falo também de influências, mas vêm à baila assuntos como a minha formação teórica e posição em relação à literatura (e aos leitores) contemporâneos. Quem tiver curiosidade ou quiser manter um diálogo a respeito, clique então no blog do Jim, o Pop Division.

E como uma homenagem a esse autor que não se deixa fotografar sem (no mínimo) um saco de papel pardo na cabeça, este último post setembrino é ilustrado com o avatar do Andy, seu personagem do novo livro. ;)

No mais... Que venha outubro, e com ele novidades e boas surpresas!

Abraços a todos!

sábado, setembro 22, 2012

Antologia "Caminhos do Fantástico"




Pessoas Queridas,

Este post vai ser rápido, pois eu estou de saída para ir à Fantasticon 2012 em São Paulo. E, lá, participar da sessão de autógrafos - hoje, dia 22, às 14 h - deste livro que traz um conto diferente dos que costumo escrever.

Como todos sabem, minha praia é mais a Fantasia do que a FC. No entanto, como leitora, há trabalhos no gênero que eu curto muito. Posso citar principalmente os contos e livros que abordam questões sociais, tais como os de Ursula Le Guin e Aldous Huxley, mas também gosto de (alguns) autores mais hard. E entre eles os tradicionalmente maravilhosos A(simov), B(radbury) e C(larke).

Neste primeiro volume da série Caminhos do Fantástico, da Editora Terracota, de que participo como convidada, vocês terão em mãos um conto que homenageia alguns dos meus autores favoritos de FC, porém num contexto onde já é bem mais fácil me encontrar. É um conto leve e humorístico, ou pelo menos essa foi a intenção. Espero que gostem - ou, ao menos, perdoem... :)

Aqui vai o time completo reunido por Cláudio Brites e Sílvio Alexandre:

Alexandre Mandarino, Ana Lúcia Merege, Antonio Borgia, Bruna Dantas Lobato, Carlos Angelo, Cícero Leitão, Cristina Faga, Elisa Celino, F. Medina, Gilberto Garcia da Silva, Ícaro França, Leandra Lambert, Léo Nogueira, Luís Roberto Amabile, Marcelo Augusto Galvão, Marcelo Bighetti, Marta Rolim, Tibor Moricz.

...

Interfone tocando. A nave, quer dizer, carruagem, quer dizer... tá, o táxi já chegou. Até mais ver, pessoal!

quinta-feira, setembro 06, 2012

Excalibur e Entrevista com a Maga



Pessoas Queridas,

Este mês começa com muitas novidades, e estou feliz em partilhá-las com vocês.

Em primeiros lugar, encerrado o prazo para submissões, fiz algumas considerações sobre a coletânea "Excalibur", postadas no blog da Editora Draco. Lá informo também o número de contos que estão concorrendo a uma das cinco vagas, caso alguém ainda não tenha visto.

Outra coisa muito legal é que depois de alguns meses finalmente foi ao ar a entrevista que gravei em Porto Alegre com a Eddie Van Feu para o blog "Alcateia". Falo de todos os meus livros, principalmente de O Castelo das Águias, e deixo meu recado para quem está começando a escrever.

Vale dar uma curtida na edição do vídeo, com umas inserções completamente doidas, inclusive de uma águia de desenho animado, e a participação de um "floco de pelo andante" que aparece bastante antes de se revelar como a cachorrinha da Carol Mylius, que também foi quem gravou a entrevista. E, claro, tem as minhas mãos, que nunca param quietas. :)

Tenho outras novidades também muito legais, mas vou deixá-las para outro post, que virá em breve (ou talvez mais de um, aqui e no blog do Castelo). Neste resta apenas agradecer a participação de tanta gente boa na seleção para a Excalibur, as crescentes visitas aos dois blogs e o carinho de todos.

Setembro será mais um mês de muito trabalho. Mas já está valendo a pena.

Abraços e até breve!

Creio que não precisava dizer, mas eu digo. Em homenagem à "Excalibur" e à Eddie, este post é ilustrado com uma cena do desenho "A Espada era a Lei", dos Estúdios Disney.

sexta-feira, agosto 24, 2012

Ainda Sobre Excalibur

ATENÇÃO: PRAZO PRORROGADO PARA 31 DE AGOSTO, SEXTA-FEIRA!


Pessoas Queridas,

Volto a lembrar que no dia 31 de agosto, à meia-noite, se encerram as submissões para a coletânea Excalibur.

Desde que anunciamos a seletiva, recebemos várias perguntas, muitas das quais respondidas por e-mail ou através dos comentários no blog da Editora Draco. Se vocês têm dúvidas, lá é um bom lugar onde buscar respostas para elas. Se ainda assim restarem questões não respondidas, podem deixá-las aqui.

Para quem vai trabalhar firme neste final de semana, dando uma retocada no conto, aqui vão meus votos de boa sorte, bem como uma sugestão de trilha sonora: o eterno Rick Wakeman em seu disco mais inesquecível!

Bom final de semana, bom descanso... Bons escritos. Aguardo seus trabalhos!

Abraços a todos!

....,

Imagem no alto: "La Morte d´Arthur" por James Archer (1823-1904)

sexta-feira, agosto 17, 2012

Oficina "Os Contos Maravilhosos"


Pessoas Queridas,

Venho divulgar mais uma oficina ministrada por minhas amigas Deka e Sonia: a Oficina de Contação de Histórias "Os Contos Maravilhosos",. Vai ser aqui no Rio e vale muito a pena para quem se interessa pelo tema.

Eis o programa:

- Os Contos Maravilhosos: Contos de Encantamento e Contos de Fadas
- Onde os contos surgiram / Origens / Fontes
- Como chegaram até nós / Tradição Oral / Compiladores
- Características dos contos
- Leitura de textos didáticos e literários
- Atividades lúdicas / Dinâmicas de grupo
- Estrutura e Características dos Contos Maravilhosos
- Contação de narrativas
- Bibliografia
- Entrega de certificados

E aqui as informações:

Local: Sede do Lyons, na Rua Silveira Martins, 80 - Rio de Janeiro(entrada pela rua do Catete, Praça do Poeta)

Dia: 22 de agosto de 2012 (quarta-feira)

Horário: das 14:00 às 17:00 horas

Investimento: R$80,00

Inscrições:

Sonia Sampaio (sonia.sampaio@oi.com.br)
Fone: (21) 2551-3572

Deka Teubl (dekateubl@yahoo.com.br)
Fone: (21) 3237-7237

.....

Dado o recado, aproveito para dizer que ando sumida daqui, mas não se trata de negligência nem falta de ideias. É a vida, somada aos ossos de todos os meus ofícios. Mas deixem lá, que em breve haverá novos posts e notícias pra vocês. Aguardem!

Abraços a todos e até breve!


quinta-feira, agosto 02, 2012

Rei Artur: Lenda ou História?


Nobres Pessoas,

Visto estarmos a um mês do prazo final das submissões para a coletânea Excalibur, decidi postar aqui um texto baseado num artigo que escrevi para a Ciência Hoje das Crianças. A publicação é de 2008 e, desde então, já soube de pelo menos três escolas que usaram o texto para trabalhar com alunos da sexta à oitava série. Espero que os leitores do blog também aprovem. :)

...

O "Verdadeiro" Artur

Até o momento não há evidências históricas ou arqueológicas que provem a existência do Rei Artur. Alguns estudiosos sustentam que os relatos a seu respeito se referem ao líder guerreiro dos britânicos na luta contra o domínio saxão, enquanto outros se inclinam a pensar que seria um nobre romano. Há ainda quem acredite que não houve de fato um único Artur, e sim vários líderes cujos feitos, com o passar do tempo, acabaram sendo atribuídos a um só "rei imaginário".

Em meio a tantas possibilidades, o que se pode afirmar é que o Rei Artur - ou o guerreiro em quem se basearam as lendas - viveu e lutou suas batalhas entre os séculos V e VI d. C., numa Bretanha que, durante quatro séculos, ficara sob o domínio de Roma. No início do século V, as legiões que até então ocupavam as Ilhas Britânicas tinham começado a partir para o continente, a fim de defender o Império do ataque de invasores como os godos e os hunos. Os bretões se viram sozinhos para enfrentar seus próprios atacantes, em especial os anglos e saxões. Sem o apoio militar dos romanos, eles sofreram várias derrotas que os levaram a perder parte do território e promoveram uma divisão interna (aquela que é retratada na lenda da espada na pedra).

No meio da disputa entre as facções da nobreza e os pequenos reinos rivais surgiu então o líder que os historiadores da época chamam de Artur, sobre o qual muito pouco se sabe, a não ser o fato de ter vencido batalhas e, com isso, garantido mais alguns anos aos bretões antes que os invasores os dominassem por completo.

A primeira menção ao nome de Artur foi feita por Nennius no século IX. Em sua crônica, História dos Bretões, Artur é descrito não como rei, mas como dux bellorum (duque guerreiro), que teria lutado junto aos reis britânicos em doze grandes batalhas. Artur é citado ainda em dois poemas épicos e numa crônica chamada Os Anais de Gales, que registra sua morte num local chamado Camlann. Já a Crônica Anglo-Saxã, uma das mais importantes fontes para o estudo da história da época, não faz referências a Artur - o que é compreensível, pois a obra prefere dar a impressão de que os saxões venceram todas as batalhas sem dificuldade.

Embora os registros da época sejam poucos e imprecisos, é neles que se baseiam todas as pesquisas sobre o Rei Artur. Muitos estudiosos se dedicaram a localizar os sítios onde foram travadas as batalhas citadas por Nennius, enquanto outros procuram pistas sobre o local de nascimento de Artur. Um dos mais prováveis é Tintagel, na Cornualha, Inglaterra, onde, em 1998, foi descoberta uma pedra com uma inscrição que menciona o nome Artognou, associado com o do rei; essa pedra passou a ser conhecida como “Pedra de Artur” e alguns estudiosos crêem que o local pode ter ligação com o Artur histórico, ou seja, com o líder guerreiro que teria dado origem ao mito.

Já a corte de Camelot poderia ficar nos arredores do Castelo Cadbury, em Somerset, Inglaterra. A hipótese, levantada no século XVI por John Leland, ganhou força após as escavações realizadas por Leslie Alcock entre 1966 e 1970, que revelaram as ruínas de uma grande fortificação. No entanto, o mais provável é que a “corte do Rei Artur” tenha sido uma invenção dos escritores e poetas medievais, assim como a famosa “távola redonda”.

A Literatura arturiana

Se, por um lado, é difícil provar a existência de um Rei Artur histórico, por outro são inúmeras as lendas, poemas, romances e mais recentemente filmes que retratam o personagem. Além das crônicas, ele também aparece em relatos da Mitologia celta, principalmente os que provêm do País de Gales. Não por acaso, essa foi a pátria de Geoffrey de Monmouth, nascido por volta do ano 1.100 e autor de Historia Regum Brittaniae: um relato sobre os Reis da Bretanha que, misturando História, mito e muita imaginação, forneceu as bases para toda a Literatura arturiana surgida a partir daí.

As primeiras obras são os chamados romances de cavalaria, escritos entre os séculos XII e XV. Neles, o Rei, a Rainha Guinevere e cavaleiros como Gawaine, Tristão e Lancelote vivem aventuras em que não faltam magos, fadas, dragões e poções do amor, sem falar em Excalibur, a espada mágica do Rei. Por outro lado, os personagens se comportam de acordo com o ideal cristão de justiça, piedade e generosidade condizente com a época em que viveram os autores. Entre estes podemos citar Chrétien de Troyes – em cujos livros aparece um dos temas mais famosos da literatura arturiana, a busca do Graal, que seria o cálice usado por Jesus na Última Ceia – , os poetas alemães Wolfram von Eschenbach e Gottfried von Strassburg e o inglês Thomas Malory, autor de Morte d´Arthur.

A imaginação dos escritores medievais criou obras maravilhosas, mas por outro lado gerou também um equívoco sob o ponto de vista histórico. A maioria de nós, ao pensar no Rei Artur, imagina castelos de pedra e cavaleiros de armadura, mas isso está bem distante da realidade: nos séculos V e VI d.C. os bretões ainda não construíam castelos. A sede da famosa "corte de Camelot" seria portanto uma fortaleza de madeira. Quanto aos companheiros do rei, é provável que tenham combatido a cavalo, mas as ordens de cavalaria, com seus ideais e códigos de honra, só surgiram por volta do século XII. As armaduras compostas por várias peças sólidas de metal vieram ainda mais tarde. Assim, o Rei Artur, ou o guerreiro que deu origem à lenda, deve ter usado uma cota de malha ou uma armadura de escamas de metal sobre um reforço de couro, tal como os romanos daquele período, de quem os bretões adotaram o equipamento e as técnicas militares.

A popularidade do tema diminuiu um pouco no final da Idade Média, mas tornou a crescer no século XIX, com publicações como a série de poemas Os Idílios do Rei, de Lord Tennyson. Muitos autores contemporâneos se inspiraram na lenda e nos relatos sobre Artur para escrever livros fascinantes. Um que vale a pena conhecer é T. H. White, autor da série O Único e Futuro Rei (1963), no qual se baseou a animação da Disney A Espada Era a Lei. Também são dignos de nota os filmes Excalibur (1981) de John Boorman e o recente Rei Arthur (2004), de Antoine Fuqua, no qual a ambientação está mais de acordo com o período da invasão dos saxões.

...

O texto da revista era concluído com um convite ao público mais novo para que buscassem conhecer mais sobre o Rei Artur. Estendo-o a vocês, e faço um convite especial aos escritores para que se juntem ao time ilustre dos que recriaram as lendas arturianas, do qual fazem parte Marion Zimmer Bradley, Mary Stewart, Stephen Lawhead e Bernard Cornwell.

Esperamos por seu conto!


quinta-feira, julho 26, 2012

2013 no NorteShopping


Oi, Pessoas!

Neste sábado, 28 de julho, participarei de evento realizado pelo Projeto Novos Escritores, patrocinado pela Editora Literata. Vários escritores estarão presentes, inclusive Josué de Oliveira e Sandro Quintana, que estão comigo na antologia 2013, parceria entre a Literata e a Editora Ornitorrinco. Também contamos com a presença dos editores Alícia Azevedo e Henrique de Lima.

Convido a todos que estiverem no Rio para dar um pulinho lá, conhecer nosso trabalho e passar uma tarde legal, falando de livros e literatura. Quem não tiver como ir... bem, continuem acompanhando o blog. Antes que o mundo acabe, teremos uma promoção envolvendo o 2013. :)

quarta-feira, julho 25, 2012

The Life of Charles Dickens: animação


Pessoas Queridas,

Hoje é Dia do Escritor, e para celebrar eu tinha planejado escrever um post sobre um de meus preferidos, que além disso teve seu bicentenário comemorado a 7 de fevereiro deste ano: Charles Dickens. No entanto, nem sempre a gente consegue tempo para fazer tudo que está na lista - e assim, guardo o post para outro dia e deixo vocês com uma animação bem legal da BBC sobre a vida de Dickens. Basta clicar aqui.

Um grande abraço de parabéns a todos os escritores que passarem por aqui, bem como aos editores, que acreditam e investem em nós, e aos leitores que embarcam em nossas aventuras.

Até breve!

quinta-feira, julho 12, 2012

G de Grenouille


Pessoas Queridas,

Conforme o prometido, aqui estou eu dando prosseguimento à série Memórias de Leitura. Desta vez é com um livro lido já bem perto dos 20 anos: O Perfume, de Patrik Suskind.

O autor é alemão, mas a obra e ambientada em várias regiões da França - e no século XVIII, que deve ter sido o mais cheiroso de toda a História. No bom e no mau sentido. Com o crescimento das cidades, não acompanhado pela melhoria de infra-estrutura nem pelo que seria uma salutar mudança nos hábitos de higiene, as pessoas cheiravam muito, mas muuuuito mal. Até o Rei, segundo o autor, cheirava como um animal de rapina e a rainha como uma cabra velha (sim, eu sei várias frases desse livro de cor de tanto que o reli). Para "compensar", porém, usava-se muito perfume, no que os franceses sempre foram especialistas; e é justamente um perfumista o personagem principal do livro.

Jean-Baptiste Grenouille veio ao mundo por trás de uma banca de mercado, onde sua mãe estripava peixe. Ela o deixou onde caiu e esperava que ele morresse, mas o bebê foi encontrado e levado para um estabelecimento, comum na época, em que os órfãos eram mantidos (com o mínimo de recursos possível) para depois serem absorvidos pela força de trabalho, caso sobrevivessem. Isso aconteceu com Grenouille, mas ele possuía duas características que o tornavam especial: não tinha cheiro corporal nenhum e, por outro lado, era capaz de detectar o cheiro de qualquer coisa, até um componente desconhecido em meio a um perfume que misturasse várias essências.

Grenouille poderia ser um herói qualquer e fazer fortuna com sua habilidade – ele teria certamente conseguido isso – mas Suskind nos apresenta a uma situação bem mais intrigante. Associando o sentido do olfato à compreensão do mundo e sua tradução em sentimentos e em valores morais, ele torna Jean-Baptiste uma criatura singular, que causava prevenção e às vezes um certo asco em quem se aproximasse dele. Em contrapartida, era incapaz de amar, de se envolver e, ao que parece, até mesmo de odiar alguém.

Dentro dessa espécie curiosa de autismo e depois de algumas peripécias - destacando-se o destino trágico de todos aqueles que se envolveram com ele, principalmente seus patrões - Grenouille acabou por desenvolver um ideal: criar o perfume perfeito, composto por notas olfativas adoráveis, às quais ninguém pudesse resistir. Começou por extrair a essência de flores, para o que aprendeu algumas técnicas interessantes (amantes de romance histórico, isso é pra vocês!), mas logo percebeu que se sairia muito melhor se sua matéria-prima fosse... bem... um pouco mais humana.

Instigante, né? Também acho. Porém não vou contar mais sobre a trama, uma vez que não pretendo estragar a surpresa de quem não leu. No espírito desta série, direi apenas que o livro me fascinou, não só pelo protagonista - que eu imaginava ser daquele tipo de homem feio e atraente; nada do gnomo baixinho e de voz grasnante que o autor descreve – mas pela própria escrita, que me manteve presa a cada frase e a cada palavra. Suskind não se perde em grandes conjecturas, conta sua história de forma objetiva, mas a forma como o texto se desenvolve e o desenlace surpreendente fizeram desse um dos melhores livros que já li. Está na lista até hoje. Aliás, não sou só eu que penso assim: buscando na Internet confirmar a data da publicação (1985, a edição original), vejo que O Perfume foi considerado “o livro da década” na Alemanha dos anos 80.A Wikipedia diz que a informação carece de fontes, mas eu acho bem provável. É um livro maravilhoso.

E já que fui à Internet, aqui vai um pouco mais de informação. Em 2006, O Perfume foi levado às telas pelo cineasta alemão Tom Tykwer. Grenouille é vivido pelo ator inglês Bem Whishaw e o filme tem participações de Dustin Hoffmann e Alan Rickman (não como Professor Snape, embora Jean-Baptiste talvez gostasse de aprender a técnica das poções). É um bom filme, mas para quem quiser realmente curtir a história, se envolver com ela, meu conselho é só um: leiam o livro. Sem a narrativa de Suskind, vocês não sentirão do perfume mais que um leve cheirinho. :)

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Pessoas queridas, viajarei nos próximos dias e ficarei ausente da rede entre 14 e 21 de julho. Vou descansar, passear e planejar muita coisa legal para o próximo semestre. Espero que continuemos juntos quando tudo recomeçar.

Até lá - e um grande abraço a todos!

segunda-feira, julho 02, 2012

Minhas Memórias de Leitora - a Retomada



Queridas Pessoas,

Algumas vezes eu tenho dito que a vida me parece seguir em espirais. Não em círculos, que retornam ao mesmo ponto, nem em linha reta, mas em caminhos que, ao mesmo tempo em que avançam, permitem-nos rever em outra perspectiva aquilo que deixamos para trás.

Caminhando pela espiral, vou me deparando com as coisas que fiz, pessoas que conheci e, sobretudo, projetos que evoluíram ou foram deixados de lado. Muitos deles vão continuar como memória, mas outros sinto vontade de retomar, pois ainda são significativos. Esse é o caso das Memórias de Leitora.

Em 2006, comecei a publicar aqui uma série de posts acerca de livros que eu tinha lido antes dos vinte anos. O plano era ir de A a Z, sempre começando pelo nome de um personagem, mas só consegui ir até a letra F. Depois, me ocupei com outras coisas, mas mantive a lista dos personagens de G a Z anotada num caderno, sinal de que pretendia voltar àquilo um dia. E sinto que o momento é propício.

Não que eu pretenda escrever post após post sobre essas memórias. Tenho outros assuntos, outras notícias, e às vezes faltam tempo e inspiração, sem falar que as voltas da espiral às vezes escondem os marcos do caminho. Pode ser que eu avance um pouco e pare de novo sem chegar à letra Z. No entanto, o que prevalece é o espírito do post original: um desejo de partilhar a minha bagagem literária, recorrendo quase exclusivamente à memória para, talvez, me fazer mais próxima de quem me lê. Pois com raríssimas exceções, se é que existem, todo escritor é antes de tudo um leitor. E eu pouco poderia criar se não tivesse tido tantas páginas, tantos mundos abertos diante de mim.

Para quem quiser saber do que veio antes, aqui ficam os links:

A de Ana Terra
B de Bastian
C de Cyrano
D de Doidinho
E de Edmundo, Pituca e Bolachão
F de Frodo (parte 1)
F de Frodo (parte 2)

Talvez haja alguma razão para eu ter me detido em Tolkien e agora retomar essas memórias, bem mais adiante no meu caminho como escritora de fantasia. Mas a lista tem de tudo, como mostrarão os próximos posts da série.

Espero que gostem e que não estranhem a mudança de estilo. Afinal, os textos aí acima datam de 2006, quando eu ainda estava escrevendo... bem, Um Ano e um Dia, a primeira versão. Exatamente o livro que estou reescrevendo agora. O que é mais um ponto a favor da teoria da espiral. ;)

Abraços a todos!

Imagem retirada deste site

segunda-feira, junho 25, 2012

Salamandras: Resultado da Promoção Bestiário



O nome salamandra se aplica tanto a uma criatura mítica quanto a uma real. As características de ambas se confundem, inclusive no que se refere ao mito segundo o qual as salamandras são imunes ao fogo. Na verdade, esses anfíbios gostam de dormir em lugares quentes, e muitas vezes elegem pilhas de lenha e restos de fogueiras ou lareiras. Aceso o fogo, a salamandra é vista surgindo em meio às primeiras labaredas e fugindo dali, razão que se somou às suas manchas amareladas ou avermelhadas para dar origem ao mito.

Plínio, em sua História Natural, afirmou que as salamandras eram tão frias ao ponto de extinguir as chamas, enquanto o alquimista Paracelso as relacionou aos elementais do fogo. Essa associação perdura até hoje entre os adeptos de algumas vertentes das Ciências Ocultas. Já na Literatura, a salamandra é citada por Shakespeare em sua peça Henry IV e, mais recentemente, por Ray Bradbury em Fahrenheit 451, que faz da salamandra um dos símbolos dos queimadores de livros.

...

E por que falei em salamandras? Ora, para avisar a vocês que a Tânia Souza foi a vencedora da promoção do Bestiário, sugerindo esse animalzinho que, com certeza, se prestaria a um belo e intrigante conto de fantasia. Não garanto que ele irá figurar no próximo volume, mas foi para a lista, sem dúvida alguma! E o poema de Quintana para um dos meus caderninhos!

Querida Tânia, entre em contato para me enviar seu endereço. E aos demais participantes agradeço as sugestões, informando que alguns dos animais sugeridos já estavam cotados e possivelmente irão aparecer numa das próximas edições do Bestiário.

Abraços e até breve!

sexta-feira, junho 15, 2012

Ainda Centauros



Já quase ninguém vê, mas acredite: aqui há centauros. Não como antigamente, não, claro que não é a mesma coisa. Naquele tempo eles eram muitos e andavam por aí à vista de todos orgulhosos e de cabeça erguida, como quem não deve a ninguém. Na verdade, talvez pensassem o contrário: os homens é que estavam em dívida. Eles é que tinham vindo de longe e se instalado, com seus filhos e rebanhos, no vale em que os centauros galopavam desde o início dos tempos. E que continuou a lhes pertencer, pelo menos durante algumas gerações, até que nossos bisavós os ocupassem com vinhedos e bosques de oliveiras.

Quando eu era menino, pastoreando as ovelhas de meu avô, era comum encontrar em meu caminho grupos de centauros. Por essa época eles já não corriam pelo vale com frequência, evitando conflitos com os lavradores que os queriam longe dos campos recém-plantados. Agora, seus cascos só pisavam as pedras e a grama áspera do monte, e os pastores seguravam seus cajados com força quando percebiam o som.

Não que tivéssemos motivo para temer os centauros. À exceção de umas poucas lavouras destruídas pelo tropel, não tinham feito mal a ninguém. No entanto, suas caras assustadoras – com olhos enviesados e dentes afeitos a triturar carne crua – e os braços poderosos, de veias como cordas de arco, eram o bastante para que os quiséssemos longe de nossas vistas. E poucos anos depois surgiram os rumores: histórias que não presenciáramos, que não sabíamos sequer se verdadeiras, mas que ainda assim fizeram crescer o medo e a desconfiança. Em uma terra distante, ouvimos contar, centauros tentaram raptar a noiva de um rei; uma batalha se seguiu e foram justiçados, mas, num monte vizinho ao nosso, outro bando se apoderara de mais que uma pastora de ovelhas. O que fariam conosco, perguntávamo-nos, se cruzássemos com eles quando estivessem cheios de vinho?

A ideia era tão terrível que nem ousávamos responder em voz alta. Felizmente, o medo não pairou sobre nossas cabeças por mais que algumas estações: de um e de outro lado, pela boca de aedos e mensageiros que percorriam toda a Hélade, chegaram notícias sobre os heróis que, em guerras ou combates singulares, estavam exterminando toda a raça dos centauros. E que tinham jurado acorrer, com suas armas e a proteção divina, em defesa dos homens que se vissem à mercê daquelas bestas terríveis.

Então – na verdade não sei bem como as coisas se desenrolaram. Pode ser que algum daqueles heróis tenha estado no vale, sem que tenhamos chegado a vê-lo, e afugentado a maior parte dos centauros. Ou talvez tenham sido eles que, pondo-se a par das ameaças, decidiram abandonar o monte e se isolar em terras ainda mais remotas. De qualquer forma, raramente foram vistos desde então; e nunca mais, pelo que sei, nestes últimos anos.

Mas o que posso lhe dizer, por toda uma vida passada a ler os sinais, é isto: sim, aqui há centauros. Ainda se ouve muito ao longe o som de seus cascos nas noites sem lua. E se você persistir talvez chegue a vê-los, caminhando de olhos no céu, a procurar, talvez, a morada que os homens e os deuses lhes negaram sobre a terra.

Lendo as sugestões para o "Bestiário", decidi postar na Estante este miniconto. Eu o escrevi em 2010 para um desafio do grupo "Fábrica dos Sonhos", no qual o tema "Centauros" devia ser desenvolvido em no máximo 550 palavras.

A ilustração é um detalhe do quadro "Batalha dos Centauros e Lápitas no Casamento de Hipodâmia", de Karel Dujardin (1667).

Espero que gostem e comentem!

segunda-feira, junho 04, 2012

Promoção Bestiário e a Estreia da Editora Ornitorrinco


Queridas Pessoas,

Eu já devo ter falado aqui sobre o Bestiário, uma coletânea de contos organizada por mim e por Ana Cristina Rodrigues. A ideia surgiu há cerca de três anos entre nós duas e a escritora Alícia Azevedo, e logo passou de uma conversa casual para um projeto partilhado com mais três escritores. Em pouco tempo, tínhamos formado dois times bem legais, que agora apresentamos sob a forma de livro.

Eu disse dois? Sim, porque temos o elenco de escritores e também o das criaturas. São seis animais fantásticos, alguns surgidos a partir da Mitologia, outros mencionados pela primeira vez em textos de historiadores da Antiguidade e todos incluídos em Bestiários da Europa medieval. O projeto deu muitas voltas desde a elaboração, mas os dois times se mantiveram firmes e fortes, da seguinte forma:

Alícia Azevedo escreve sobre o Dragão;
Ana Cristina Rodrigues sobre o Grifo;
Ana Lúcia Merege sobre o Unicórnio;
Daniel Folador Rossi sobre a Fênix;
Leandro Reis sobre a Mantícora e
Rober Pinheiro escreve sobre o Basilisco.

Mesmo com os textos escritos, o projeto permaneceu um bom tempo em suspenso até que, no final do ano passado, o retomássemos já com a chancela de uma editora: a Ornitorrinco. Sediada em Petrópolis - RJ, a editora é dirigida por Alícia Azevedo e Henrique de Lima, e acaba de lançar suas três primeiras publicações: Estranhas Invenções, antologia organizada por Ademir Pascale; 2013, em parceria com a Editora Literata, com organização da Alícia e de Daniel Borba; e o Bestiário, que tem um diferencial importante. Além dos contos, ele traz também um texto informativo sobre cada criatura, o qual, esperamos, ajudará nossos leitores a saber com o que exatamente estão lidando. :)

Contando com ilustrações de Tobias Griever e uma capa elaborada pelo Estêvão Ribeiro, o Bestiário é indicado para leitores de todas as idades a partir de 11 ou 12 anos. Quem quiser adquiri-lo pode dar um pulinho na Lojinha da Ornitorrinco ou entrar em contato com a editora através do endereço ornitorrinco.editora@gmail.com. Não vão se arrepender, o livro está muito legal!

E agora o momento que todos esperavam. Que tal ganhar um exemplar do livro inteiramente grátis, acompanhado de marcadores? É facílimo! Basta deixar um comentário neste post, dizendo qual o animal que você gostaria de ver num próximo volume do Bestiário e por quê. Podem ser criaturas fantásticas de qualquer mitologia (mas se não for uma já bem conhecida, por favor, explique de onde saiu!) ou um animal aqui do nosso mundinho. O comentário que eu achar mais interessante (considerando a criatura e a razão de ela ser indicada) ganhará o livro. O resultado será divulgado no dia 25 de junho, aqui e no Twitter.

Então, Pessoas... Escolham um bicho, manso ou feroz, real ou imaginário, e postem aqui. Conto com sua participação!

Boa sorte - e até a próxima!

terça-feira, maio 29, 2012

Excalibur: Notícias sobre a Coletânea da Editora Draco


Queridos Bardos e Mestres de Sagas,

Depois de um longo tempo de espera, eis que finalmente eu trouxe uma boa nova. O editor da Draco, Erick Santos, e eu definimos o prazo final da submissão de textos para a coletânea Excalibur, da qual somos os organizadores. Ficou para o final de agosto, portanto ainda há bastante tempo para escrever ou revisar o trabalho.

Os detalhes, e-mail de envio e demais informações podem ser consultados aqui. Continuamos à disposição para esclarecer quaisquer dúvidas.

Preparem penas e tintas e afinem os alaúdes! Contamos com sua participação.

domingo, maio 20, 2012

O Tempo e as Caixinhas


Numa conversa a respeito da minha simpatia pelo Orkut, minha amiga Alicia Azevedo observou tratar-se de um “sistema de caixinhas”. Na hora ri, brinquei com minha já tão denegrida profissão: sou bibliotecária, gosto de caixinhas, fazer o quê. No entanto, depois que parei pra pensar, vi que tem mesmo um lado meu que gosta e precisa de organização, coisa difícil de perceber para quem me conhece.

Meu apartamento é bem limpo, graças aos esforços da nossa devotada funcionária. Mas é bagunçado. Tem livros e revistas empilhados em toda parte, inclusive dentro de caixas que deveriam estar nos armários, quando muito na despensa, mas permanecem há meses em nosso quarto. As estantes transbordam apesar das limpas constantes de que eu já falei pra vocês. No entanto, se eu precisar de alguma coisa, até um livro, geralmente sei onde está; não atraso um pagamento, anoto cada coisa que gasto, sei o que preciso repor na lista do supermercado. Na Biblioteca Nacional a mesma coisa: sou a pessoa mais avoada do mundo, mas tenho tudo anotado pro relatório do mês, arquivo cartazes de exposições que montei há anos e mantenho a mesa arrumada. Acho que é esse o jeito que encontrei para funcionar com a minha dispersividade. E até que vem dando certo.

Agora estou com a rotina mais apertada do que nunca. Minha filha é pré-adolescente, mas nova demais para andar por aí sozinha e cheia de atividades que exigem que eu a leve, que eu a traga, que eu esteja disponível quando ela precisa. O trabalho na BN me ocupa muito e o trânsito não ajuda, restando apenas uma escassa fatia de tempo, em determinados dias, para me dedicar à escrita. Se eu estiver tranquila e inspirada, tudo bem, mas muitas vezes estou preocupada ou simplesmente cansada demais, e então o que faço?

Faço uma listinha. Não muito grande, para não desanimar, só três ou quatro coisas que eu pretendo fazer naquela semana. Em geral tem pelo menos duas que eu tenho certeza de cumprir, mas, mesmo que não, fazer a lista me dá uma sensação de segurança. É como se, ao colocar aquilo no papel, eu adquirisse o poder da realização, uma espécie de magia simpática que vai me ajudar com as tarefas. E quando, às vezes semanas depois, o último item da lista é finalmente riscado, o alívio é grande. Mesmo que eu já tenha vinte outras coisas pendentes e adiadas numa nova lista.

No entanto, a organização levada ao extremo pode ser um problema, e creio que está começando a ser para mim. A lista de tarefas é legal, porque tem prazo de uma semana e serve para, ao menos, sentir que estou produzindo; mas agora dei de me cobrar em termos de tempo, querendo aproveitar cada brecha e cada minuto que, na verdade, não posso saber ao certo como será gasto. Eu tento, por exemplo, determinar que o tempo entre a minha chegada do trabalho e a ida à escola para buscar Luciana será usado para a escrita; mas será que não vou me atrasar para sair da BN? Não vou ficar num engarrafamento, não tenho que ir à padaria, não preciso simplesmente me deitar e relaxar um pouquinho? E os fins de semana? Se não tenho de sair, a ideia é usar as manhãs para escrever, mas como passar a tarde? As duas horas depois do almoço, tenho o “direito” de gastá-las vendo um DVD? Como dividir meu tempo, eu que sou uma só, de forma a ser uma boa mãe, companheira, filha, bibliotecária, escritora e dona de casa? E isso sem contar a caminhada que eu não dou, o Yoga que já não faço, os amigos que pretendo procurar e vão ficando lá para trás, esquecidos, como se fizessem parte de uma outra vida... Ufa!

Pois é. A verdade é que estou tentando viver dentro de um cronograma e isso não é bom. O tempo pode ser medido, sim, mas não aprisionado em caixinhas, principalmente se for um tempo no qual eu quero viver com qualidade. Não se trata de parar, mas sim de me exigir um pouco menos, deixar de me cobrar uma perfeição que eu não tenho, principalmente nos aspectos da minha vida que só existem por pura obrigação. Não vai ser fácil, eu sei. Mas vou tentar, pelo menos, dar uns passos nesse sentido.

E, pra começar, aqui vai esta crônica, surgida e escrita num momento em que eu não contava com isso.