quarta-feira, março 30, 2005

A História da Baratinha: Contando e Acrescentando um Ponto

Oi, Pessoas! Tudo bem?

Espero que tenham todos tido uma boa Páscoa, pagã, judaica ou cristã. Com muitos ovos de chocolate, em qualquer caso...! ;)

Para a Luciana, ao contrário do que se esperava, o Coelhinho não trouxe um ovo da “Hello Kitty”, mas sim o das “Meninas Superpoderosas”, compra resultante de uma combinação da dificuldade de achar o outro ovo nas lojas e a falta de tempo e disposição da mãe para ampliar seu raio de pesquisas. Felizmente, Lulu é uma menina muito esperta (ou talvez ainda muito novinha para fazer certas exigências) e adorou o “Superpoderosas”, nem tanto pelo chocolate – pois ela realmente não é daquelas que abusam de doces, até porque eu não deixaria – mas pelo presentinho que veio dentro, um relógio fake, em forma de coração, com um adesivo das três meninas em cima e acompanhado por minúsculas “tattoos para unhas”. Pessoalmente, eu preferiria que o ovo viesse recheado com bombons, mas... quem sou eu para dizer tais coisas, quando a pequenininha ficou tão feliz?

E felizes, também, ficamos nós, com a forma como transcorreu nossa viagem no feriado. Fomos para Angra dos Reis, a duas horas e meia do Rio, onde, além dos passeios de escuna – que conduzem a praias mais distantes na própria Angra e na Ilha Grande – tínhamos à nossa disposição uma praia de águas bem calminhas, a dez passos da entrada da pousada. Luciana, que nunca tinha concordado sequer em molhar os pés no mar, dessa vez entrou para valer, e se divertiu muito com a amiguinha que conheceu no passeio, a lisboeta Daniela Sofia. As duas se entenderam muito bem, apesar dos sotaques diferentes, e, enquanto elas brincavam, nós ficávamos conversando com os pais e as avós da Daniela, falando de crianças e de viagens e de como está Portugal hoje em dia. Vocês sabem, nós vivemos lá durante dois anos e meio (João, durante três anos), e, embora não estejamos arrependidos da nossa decisão de regressar ao Brasil, temos saudades dos lugares que visitamos, de amigos e de alguns aspectos do nosso antigo estilo de vida. É claro que pretendemos voltar, um dia, quando a Luciana estiver um pouco mais velha, mas sabemos que nada será como antes. E realmente não tinha por que ser... Mas a nostalgia, um sentimento aliás muito lusitano, é inevitável em certos momentos.

Por falar em nostalgia, o curso que eu estava dando na Casa da Leitura terminou na segunda-feira, e, como o tema “contadores de histórias” viesse à baila, fiquei muito comovida me lembrando do Gregório. Para quem não o conhece, ele (Francisco Gregório da Silva) é um dos fundadores do PROLER e grande promotor da leitura e do resgate da tradição narrativa. Atualmente, pelo que eu soube, ele está no Acre, seu estado natal, mas parece que vai voltar, e certamente retomará os cursos para contadores, como aquele que eu fiz em 1999 no Paço Imperial.

Pois bem, neste meu último curso havia outras pessoas que o conheciam e trabalharam com ele, e todo mundo se lembrava do conto popular que o Gregório dizia ser o seu favorito, a História da Baratinha. Pelo meu lado, confesso que nunca fui muito fã desse conto, mas talvez isso mude, porque agora tenho uma história pessoal para contar a respeito. É claro que ela envolve a Luciana... e, é claro, antes de reencontrar o Gregório e poder contar a ele, vou contar aqui para vocês.

(Parto do pressuposto que todos conhecem a História da Baratinha, mas quem não se lembra pode dar uma refrescada na memória clicando aqui . Feito? OK, vamos em frente!)

A primeira versão que eu contei para a Luciana foi um pouco edulcorada, pois é aquela em que o Rato, ao cair na panela de feijoada, não morre cozido, e sim sai todo pelado, sujo e cheio de queimaduras. A Baratinha, então, diz que não vai casar com um noivo tão guloso e sem juízo, e volta para cantar sua cançãozinha à janela enquanto o Rato vai se tratar no hospital. Final sóbrio, sem happy end, mas também sem detalhes sangrentos (ou bem-passados, como queiram). Bom, a Luciana ouviu tudo com atenção e depois declarou:

- O Tio Alex (professor de Artes na creche) contou essa história, mas o Rato morria no fim.

- Ah, é? E como você prefere a história: que ele morra ou não?

- Que morra.

- OK – disse eu, anotando mentalmente a preferência para a próxima vez em que contasse a história, e que – como todos os pais de crianças pequenas sabem – não tardaria mais do que um dia ou dois.

Na verdade, foram apenas algumas horas.

- Conta de novo a História da Baratinha?

- Tudo bem – respondi, e comecei a contar... até a parte em que o Rato cai na feijoada, onde Lulu me interrompeu e pediu que ele não morresse. Estava estabelecida a versão mais light do conto popular, que desde então foi repetido à exaustão, com a colaboração sempre animada da Luciana na hora de cantar as músicas.

E até esta última viagem ficamos nisso. Mas agora finalmente ela acrescentou seu ponto. Pois quando tornei a contar a história, quando cantamos o “Quem Quer Casar...” pós-matrimônio fracassado, Luciana comentou:

- Mamãe, aí a Baratinha achou um Baratinho e casou com ele.

- É, acho que sim.

- E o Ratão saiu do hospital e achou uma Ratinha...

- E casou com ela também, não foi?

- Foi – respondeu Luciana, para em seguida acrescentar, com os olhinhos brilhando:

- Mas não teve feijoada.

.......

Gente... Corujices à parte, vocês hão de concordar comigo... Essa garotinha promete!!!

Abraços a todos,

Até a próxima!

Ana Lúcia

segunda-feira, março 21, 2005

A Páscoa: Origens e Mitos





Oi, Pessoas! Tudo bem?

O post de hoje é um daqueles “históricos e informativos”, mas, seguindo o espírito dos últimos tempos, não resisto a usar um “causo” doméstico como introdução. Ocorre que, na sexta-feira passada, Luciana chegou da creche com uma linda Carta ao Coelhinho da Páscoa, que consistia em um papel dobrado, pintado de azul, tendo na frente o título escrito por uma das professoras e na parte interna a informação:

Gostaria de ganhar este ovinho:

E logo embaixo, colada pela Luciana, a ilustração recortada de um anúncio das Lojas Americanas - ou coisa que o valha - mostrando o ovo de Páscoa escolhido por ela: o da “Hello Kitty”, de 200 gramas, fabricado pela Lacta. Agora, a expectativa é de receber exatamente esse... e, como ela só tem 4 anos e é um verdadeiro doce de coco, eu, que pensava em dar um ovinho “simbólico” acompanhado de um coelhinho de pelúcia ou coisa assim (pois nossa despensa está cheia de chocolate que sobrou de viagens e do Natal), vejo-me agora meio que constrangida a comprar o Hello Kitty. O que fazer... né?

Mas isso tudo me fez pensar um pouco sobre o significado da festa, que anda meio esquecido, assim como acontece com o Natal e o Halloween. Por isso, tal como fiz para as duas outras datas, vou colocar aqui algumas informações sobre a Páscoa, começando por aquela que todos já devem conhecer: as raízes dessa celebração não são apenas cristãs.

Com efeito, a Páscoa, tal como a celebramos no Ocidente, é o resultado de uma fusão de comemorações pagãs (de origens diversas) e de tradições judaicas, sendo a festa cristã derivada principalmente destas últimas. No que toca aos pagãos, a maior parte das civilizações na área do Mediterrâneo tinha algum tipo de comemoração relativa ao Equinócio de Primavera, época associada à fertilidade dos campos e presidida, em geral, por deidades do sexo feminino. Várias Deusas são relacionadas a esse período, como a Deméter grega e a Ishtar babilônica, sendo o nome em Inglês da Páscoa - Easter - provavelmente derivado do nome da Deusa-Mãe dos saxões, Eostre, ou ainda da germânica Ostara.

Ao mesmo tempo, Deuses associados à renovação, tais como Osíris (no Egito) e Dionísio (na Grécia) eram festejados nessa época, sendo comuns os dramas sagrados em que um homem, muitas vezes o chefe ou rei local, era – simbolicamente ou não – sacrificado em prol de uma colheita farta. Em Roma, por volta do ano 200 antes de nossa era, o Deus aparece com o nome de Attis, consorte de Cybele (uma Deusa “importada” da Frígia), que teria nascido de uma virgem e que todos os anos devia “morrer” em uma festa que durava de 22 a 25 de Março, sempre iniciada numa sexta-feira. O último dia celebrava a ressurreição do Deus... exatamente como ocorre com Jesus na comemoração cristã. Ambos os ritos estavam ativos na mesma época e na mesma região geográfica, o que leva a crer que tenha havido uma interpenetração entre eles. A maior parte dos cristãos atuais, porém, desconhece a existência do culto de Attis, enquanto os seguidores das tradições pagãs têm o Equinócio de Primavera como uma das suas oito festas principais. A celebração inclui quase sempre uma fogueira, sobre cujas cinzas é costume pular para assegurar o equilíbrio das noites e dos dias e a fertilidade das colheitas.

Por outro lado, a tradição cristã da Páscoa está relacionada à morte e à ressurreição de Jesus, que, como outros Deuses e Heróis de inúmeras mitologias, ascende aos Céus depois de ter conhecido o Mundo Inferior. A data é ainda associada à celebração judaica da Passagem, descrita no Êxodo, na qual um Anjo da Morte passou sobre as residências dos hebreus – que estavam marcadas com o sangue de um sacrifício animal – e as dos egípcios, que não tinham marcas, e onde morreram os filhos mais velhos de todas as famílias. Os hebreus, enquanto isso, comiam pão ázimo (sem fermento) e se preparavam para deixar o Egito, sob a liderança de Moisés.

Ambos os episódios estão imbuídos do simbolismo do reinício, do recomeço, e são festas importantes para judeus e cristãos, sendo que os primeiros em geral atribuem mais importância à comemoração da Passagem (Pessach) do que os cristãos à Páscoa. Ainda assim, esta é celebrada com missas e ritos que lembram tanto o episódio do Antigo quanto do Novo Testamento. Eu me lembro de um canto, particularmente sinistro, que ouvi numa missa de Páscoa aos 8 anos de idade, no qual se recordava a passagem do Mar Vermelho:

Carros e homens nas águas perecem...

E a vozinha indignada da Ana Lúcia lá num dos últimos bancos (algo que toda a família Merege, até hoje, gosta de recordar):

- Não pode! Que horror! Coitadinhos dos egípcios!!

Hehehe... Pois é... Senso de justiça começa cedo!

Mas, na verdade, nesse tempo eu não sabia nada sobre os pagãos e as comemorações pascais que não fossem judaico-cristãs. Só sabia um pouco sobre o simbolismo dos ovos da Páscoa (que já eram trocados pelos persas em suas comemorações da Primavera) e dos coelhos, que simbolizam a fertilidade, não preciso dizer o porquê. A associação de uns com outros se encontra num mito anglo-saxão em que Ostara, desejando alegrar algumas crianças, transformou seus pássaros de estimação em coelhos que, daí por diante, puseram ovos coloridos... que não eram da Hello Kitty, mas que, naqueles tempos menos consumistas, teriam deixado contentes as pequenas Lucianas pagãs.

Bom... mas há que ser realista, de qualquer modo... E, seja como for, acho que teremos uma Páscoa feliz!

Desejando o mesmo a todos,

Até a próxima!

Abraços,

Ana Lúcia

terça-feira, março 15, 2005

Um Dia de 36 Horas

Pessoas Queridas,

O título deste post expressa o meu "sonho de consumo" neste momento. Como queria que os dias fossem mais longos (e de preferência menos quentes e abafados!) para poder realizar tudo aquilo a que me proponho!

Sabem... Quando eu estava esperando a Luciana, freqüentava muito aqueles sites americanos sobre crianças e maternagem, e um dos meus prediletos se chamava Juggling Mom. Ele era especificamente dedicado às mulheres que trabalham fora, por isso as matérias costumavam ser complacentes com as mães que deixam seus filhos em creches (em outros sites há articulistas que fazem você se sentir uma monstra por causa disso!) e apresentar soluções práticas para as questões do dia-a-dia que costumam estressar as mulheres - principalmente as mães, mas não só - as quais têm que equilibrar marido, filhos, às vezes pais idosos, casa, trabalho, cuidados com a saúde e, não raro, atividades paralelas, como é o meu caso com os livros e cursos. É uma pena não ter conseguido localizar este site hoje, para levar vocês lá... Talvez tenha saído do ar por absoluta falta de tempo das webmasters, quem sabe?

De qualquer forma, a analogia da mãe com o malabarista é uma das melhores que já vi. E eu posso facilmente me encaixar nela, principalmente nos últimos tempos. No entanto, feitas as contas, também não posso me queixar, pois afinal, apesar de todo o cansaço, apesar das idas e vindas em vários dos meus projetos e apesar dos imprevistos, eu estou conseguindo avançar na direção que queria. Os cursos estão sendo elogiados, o livro Os Contos de Fadas vai para a segunda impressão e eu me preparo para escrever mais um, desta vez uma síntese da literatura de fantasia. Isto é... quando tiver um tempinho sobrando, é claro! ;)

Com tudo isso, prometo solenemente não usar mais a Estante Mágica como muro de lamentações. Vocês foram todos formidáveis em seus comentários, pelo que agradeço... Mas, a partir de agora, quero voltar a compartilhar momentos e histórias alegres.
E, para marcar esse reinício, aqui vai a

Nova Canção do Coiote

Coiote, velho Coiote,
da velha canção da vida
qual é o mote?

- Deve ser celebrada,
como se dança a dança da vitória
e o fox-trote.

Coiote, velho Coiote,
da eterna alegria da vida
me dá um toque?

- Deve ser perseguida
com um sonho livre de quaisquer amarras
e de peiote.

Coiote, velho Coiote,
e se eu te achar noutra vida
Hermes, Krishna ou Loki?

- Deve ser reinventada.
O fogo brilha com a mesma luz
em todo archote.


.....

Com a promessa de mais e melhores posts,

Abraços a todos!

Ana Lúcia

quinta-feira, março 03, 2005

Deixa Chover...

Se você tentou
e não aconteceu,
valeu.
Infelizmente, nem tudo é
exatamente como a gente quer...


Lembram dessa música, Pessoas?

É só o que me ocorre cantar esta semana.

Nestes poucos dias, tivemos notícias muito ruins na Biblioteca Nacional. Um de nossos colegas mais queridos está, infelizmente, com câncer, e o Governo mudou as regras para a aprovação do plano de carreira pelo qual tanto lutamos, o que provavelmente significa que continuaremos sem nenhum. E, nem preciso dizer... sem aumento também.

Diante disso, nem tivemos ânimo para nos indignar com um problema técnico: uma falha na Desinformática da casa, que apagou os arquivos armazenados em ambiente de rede, o que inclui relatórios, pesquisas, CIs e todos os textos e cartazes das exposições que fizemos ao longo de 8 anos. E hoje eu nem me abalei quando soube que não houve inscritos suficientes para formar uma turma de Especialização em Literatura Infanto-Juvenil, que eu ia cursar na Unilasalle-Rio, aos sábados, por ser o único horário que tenho disponível. Essa é apenas a menor das decepções e chateações que tive, ou melhor, que tivemos ao longo da semana. E, na verdade, a única que diz respeito apenas a mim.

De qualquer forma, estou fazendo o melhor que posso. Hoje, um dia de chuva (bem de acordo com a música, mas eu tive que sair de casa), fiquei pensando em outras estratégias para divulgar meu trabalho, e mais uma vez prometendo a mim mesma que me empenharia nisso. Também listei alguns artigos que pretendo escrever, para colocar na Estante algo mais interessante do que as minhas lamúrias. Se o fim de semana for bom e o meu curso no PROLER começar com o pé direito, talvez eu consiga mudar de humor. Mas por enquanto - desculpem - só consigo pensar em como eu gostaria de ter nascido virada para a Lua.

Até a próxima! E que a vida sorria para todos nós...

Abraços esperançosos,

Ana Lúcia