segunda-feira, março 21, 2005

A Páscoa: Origens e Mitos





Oi, Pessoas! Tudo bem?

O post de hoje é um daqueles “históricos e informativos”, mas, seguindo o espírito dos últimos tempos, não resisto a usar um “causo” doméstico como introdução. Ocorre que, na sexta-feira passada, Luciana chegou da creche com uma linda Carta ao Coelhinho da Páscoa, que consistia em um papel dobrado, pintado de azul, tendo na frente o título escrito por uma das professoras e na parte interna a informação:

Gostaria de ganhar este ovinho:

E logo embaixo, colada pela Luciana, a ilustração recortada de um anúncio das Lojas Americanas - ou coisa que o valha - mostrando o ovo de Páscoa escolhido por ela: o da “Hello Kitty”, de 200 gramas, fabricado pela Lacta. Agora, a expectativa é de receber exatamente esse... e, como ela só tem 4 anos e é um verdadeiro doce de coco, eu, que pensava em dar um ovinho “simbólico” acompanhado de um coelhinho de pelúcia ou coisa assim (pois nossa despensa está cheia de chocolate que sobrou de viagens e do Natal), vejo-me agora meio que constrangida a comprar o Hello Kitty. O que fazer... né?

Mas isso tudo me fez pensar um pouco sobre o significado da festa, que anda meio esquecido, assim como acontece com o Natal e o Halloween. Por isso, tal como fiz para as duas outras datas, vou colocar aqui algumas informações sobre a Páscoa, começando por aquela que todos já devem conhecer: as raízes dessa celebração não são apenas cristãs.

Com efeito, a Páscoa, tal como a celebramos no Ocidente, é o resultado de uma fusão de comemorações pagãs (de origens diversas) e de tradições judaicas, sendo a festa cristã derivada principalmente destas últimas. No que toca aos pagãos, a maior parte das civilizações na área do Mediterrâneo tinha algum tipo de comemoração relativa ao Equinócio de Primavera, época associada à fertilidade dos campos e presidida, em geral, por deidades do sexo feminino. Várias Deusas são relacionadas a esse período, como a Deméter grega e a Ishtar babilônica, sendo o nome em Inglês da Páscoa - Easter - provavelmente derivado do nome da Deusa-Mãe dos saxões, Eostre, ou ainda da germânica Ostara.

Ao mesmo tempo, Deuses associados à renovação, tais como Osíris (no Egito) e Dionísio (na Grécia) eram festejados nessa época, sendo comuns os dramas sagrados em que um homem, muitas vezes o chefe ou rei local, era – simbolicamente ou não – sacrificado em prol de uma colheita farta. Em Roma, por volta do ano 200 antes de nossa era, o Deus aparece com o nome de Attis, consorte de Cybele (uma Deusa “importada” da Frígia), que teria nascido de uma virgem e que todos os anos devia “morrer” em uma festa que durava de 22 a 25 de Março, sempre iniciada numa sexta-feira. O último dia celebrava a ressurreição do Deus... exatamente como ocorre com Jesus na comemoração cristã. Ambos os ritos estavam ativos na mesma época e na mesma região geográfica, o que leva a crer que tenha havido uma interpenetração entre eles. A maior parte dos cristãos atuais, porém, desconhece a existência do culto de Attis, enquanto os seguidores das tradições pagãs têm o Equinócio de Primavera como uma das suas oito festas principais. A celebração inclui quase sempre uma fogueira, sobre cujas cinzas é costume pular para assegurar o equilíbrio das noites e dos dias e a fertilidade das colheitas.

Por outro lado, a tradição cristã da Páscoa está relacionada à morte e à ressurreição de Jesus, que, como outros Deuses e Heróis de inúmeras mitologias, ascende aos Céus depois de ter conhecido o Mundo Inferior. A data é ainda associada à celebração judaica da Passagem, descrita no Êxodo, na qual um Anjo da Morte passou sobre as residências dos hebreus – que estavam marcadas com o sangue de um sacrifício animal – e as dos egípcios, que não tinham marcas, e onde morreram os filhos mais velhos de todas as famílias. Os hebreus, enquanto isso, comiam pão ázimo (sem fermento) e se preparavam para deixar o Egito, sob a liderança de Moisés.

Ambos os episódios estão imbuídos do simbolismo do reinício, do recomeço, e são festas importantes para judeus e cristãos, sendo que os primeiros em geral atribuem mais importância à comemoração da Passagem (Pessach) do que os cristãos à Páscoa. Ainda assim, esta é celebrada com missas e ritos que lembram tanto o episódio do Antigo quanto do Novo Testamento. Eu me lembro de um canto, particularmente sinistro, que ouvi numa missa de Páscoa aos 8 anos de idade, no qual se recordava a passagem do Mar Vermelho:

Carros e homens nas águas perecem...

E a vozinha indignada da Ana Lúcia lá num dos últimos bancos (algo que toda a família Merege, até hoje, gosta de recordar):

- Não pode! Que horror! Coitadinhos dos egípcios!!

Hehehe... Pois é... Senso de justiça começa cedo!

Mas, na verdade, nesse tempo eu não sabia nada sobre os pagãos e as comemorações pascais que não fossem judaico-cristãs. Só sabia um pouco sobre o simbolismo dos ovos da Páscoa (que já eram trocados pelos persas em suas comemorações da Primavera) e dos coelhos, que simbolizam a fertilidade, não preciso dizer o porquê. A associação de uns com outros se encontra num mito anglo-saxão em que Ostara, desejando alegrar algumas crianças, transformou seus pássaros de estimação em coelhos que, daí por diante, puseram ovos coloridos... que não eram da Hello Kitty, mas que, naqueles tempos menos consumistas, teriam deixado contentes as pequenas Lucianas pagãs.

Bom... mas há que ser realista, de qualquer modo... E, seja como for, acho que teremos uma Páscoa feliz!

Desejando o mesmo a todos,

Até a próxima!

Abraços,

Ana Lúcia

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