sexta-feira, junho 21, 2013

Solstício de Inverno



Pessoas Queridas,

Em meio a essa onda de manifestações que agita o Brasil, quase me esqueci de reservar alguns momentos para pensar na entrada da nova estação - e, claro, escrever algumas linhas a esse respeito.

Em qualquer hemisfério, o solstício de inverno marca a entrada de um novo ciclo. A noite anterior a ele costuma ser a mais escura do ano, uma escuridão que lembra o ventre da mãe , assim como o seio da terra onde germinam as sementes. É um tempo de recolhimento, quando pensamos naquilo que passou, descartamos o que já não serve e nos purificamos para renascer com novo ânimo na primavera. Isso é verificado em todas as tradições, até onde sei, que celebram o solstício, que vemos associado ao mito de Perséfone na cultura clássica e ao nascimento de Jesus entre os cristãos.

Para alguns povos nativos americanos, o inverno está ligado à direção norte e ao domínio do Búfalo Branco,  que nos convida, ao mesmo tempo, à introspecção e ao agradecimento por tudo que colhemos ao longo daquele ciclo. É o momento de estar em casa, junto aos entes queridos, contando histórias e comendo o que foi armazenado durante as estações mais amenas.

Aqui no Rio de Janeiro não há muito que evoque essa atmosfera, mas o Brasil é grande, por isso este post é ilustrado com uma imagem de neve brasuca: a que caiu no mês passado em São Joaquim, região serrana de Santa Catarina. Enquanto nós só temos a névoa matinal e um mini-friozinho à noite, lá eles tomam vinho e comem pinhão ao redor da fogueira. Dá um pouquinho de inveja, confesso. Mas não muita, já que eu tenho que levantar todo dia às seis e meia da matina.

Um bom inverno a todos, com as bênçãos do Búfalo Branco! E até a próxima.

domingo, junho 16, 2013

J de João Grilo


Este post não ia sair hoje. Na verdade, eu até já tinha publicado aqui um pouco mais cedo. Mas eis que o Marco Haurélio, editor de Os Contos de Fadas e autoridade em assuntos folclóricos e cordelísticos, acaba de avisar que hoje é aniversário do Ariano Suassuna. Então, não tive como adiar... Venham de lá estas memórias.

O Auto da Compadecida foi um dos primeiros livros que li na biblioteca de casa (isto é, descontada a do meu avô, quase só Humberto de Campos e Malba Tahan, e os meus livros infantis e de recontos clássicos). A capa era como essa que ilustra o post, uma edição antiga da Agir, mas se não me engano havia verde em lugar do vermelho. Que eu me lembre, não vi o livro sendo lido por meus pais ou por um de meus irmãos, o que invariavelmente aguçava minha curiosidade; devo ter pegado na estante, como peguei tantas outras coisas, ao acaso, apenas procurando algo novo e legal para ler.

E, que bom, acertei em cheio. :)

O texto dessa obra é o de uma peça teatral. Na verdade, como já diz o título, um auto, composição com elementos cômicos e fundo moralizante que foi usada desde a Idade Média, muitas vezes por autores religiosos. A ligação cultural existente entre o Nordeste, cenário da peça, e o universo medieval - apontada por Suassuna e outros pesquisadores do tema - me escapou completamente naquela época. O que chamou a atenção foi a presença dos cangaceiros, que me levou a procurar informações adicionais sobre o tema (foi pouco depois disso que eu li Capitães de Areia e me apaixonei não pelo Pedro Bala, mas pelo Volta Seca), os diálogos incríveis e, claro, a esperteza do João Grilo, um pícaro brasileiro, aparentado com Malasartes e com meus tricksters preferidos.

João Grilo foi imortalizado pelo trabalho de Suassuna, mas aparece em textos mais antigos, como Proezas de João Grilo de João Martins de Athayde. Na verdade é uma personificação do que os nordestinos do interior chamam de "amarelo", o sertanejo castigado pela seca e pela pobreza, mas que, com esperteza e resiliência, consegue superar as dificuldades. No Auto de Suassuna, ele enrola de forma magistral o casal de patrões mesquinhos, religiosos avarentos e um cangaceiro desconfiado. No fim, como se não bastasse, o próprio Diabo, embora aí conte com a ajuda providencial de Manuel (avatar negro de Jesus Cristo, cuja aparição denuncia o preconceito existente no próprio Grilo) e sua mãe, a Compadecida do título. As tiradas de João não seriam possíveis, porém, se não fosse o seu "segundo", Chicó, um loroteiro de marca maior, cujas invenções levam Manuel a advertir: "Estou de olho"!

Quase vinte anos após essa leitura que tanto me agradou, assisti à minissérie da Globo, estrelada por Matheus Nachtergaele como João e Selton Mello como Chicó, ambos impagáveis, assim como o resto do elenco. Na série, e no filme que veio a seguir, o papel de Chicó é ampliado, garantindo um interesse romântico e uma rixa com um valentão (outro tipo frequente no imaginário nordestino, que para alguns autores se opõe à figura do "amarelo"). E, claro, mais planos mirabolantes orquestrados por João Grilo.

A leitura do Auto abriu portas para que eu conhecesse outros textos teatrais, literatura regional e cordel. O próprio livro foi relido muitas vezes, e a cada uma iam se agregando novos significados. O que estava lá desde o início e sempre permaneceu foi o prazer dessa leitura ágil e divertida, que entrou sem esforço para minha memória afetiva.

E mais não sei. Só sei que foi assim. :)
.....

Abraços a todos,

Até a próxima!

Leve um Dragão na Mala!



Pessoas Queridas,

Que tal viajar e levar um dragão na mala? Ou melhor, dois - e não pagar pelo excesso de bagagem?

Até o dia 05 de julho, a Editora Draco está fazendo uma incrível promoção de seus livros, com descontos de 40% na compra de dois ou mais títulos (incluindo os que estão em pré-venda, Solarpunk e Brasil Fantástico), frete grátis, brindes e kits promocionais. O kit com os três volumes de Amores Proibidos, lançados até agora, está com 50% de desconto (R$ 49,90 os três) e O Castelo das Águias sai por apenas R$ 21,00 - mais barato que um almoço na taverna A Espada e o Lírio!! :)

A lista completa dos livros, regras para obter os descontos, formas de pagamento e tudo o mais podem ser acessadas aqui. E se você ler até o final, vai descobrir uma forma de concorrer a um exemplar do primeiro volume de Imaginários em Quadrinhos.

Estamos à sua espera para voar com os dragões!

sexta-feira, junho 07, 2013

Cloud Atlas, o filme



Pessoas Queridas,

Mais um fim de semana se inicia, e aproveito para dar essa dica a quem for ficar em casa e curtir um filminho com pipoca. Se bem que nesse caso é um filmão: Cloud Atlas, baseado no livro homônimo de David Mitchell, que no Brasil saiu com o título de A Viagem.

Apesar da tradução incompreensível ("O Atlas das Nuvens" seria bem mais legal) o filme é de fato uma viagem através do tempo, do espaço e das vidas de muitas pessoas, interligadas por um lugar, um objeto ou um ideal. Seis histórias são contadas, seus capítulos se intercalando de forma que, pouco a pouco, você começa a perceber os elementos que as conectam umas às outras. Olhando por esse ângulo, acho que foi uma sorte eu ter visto o filme em DVD, com a possibilidade de recuar e tornar a ver certos trechos que pareciam um pouco obscuros, mas isso não se deve ao hermetismo do filme; é que eram muitos detalhes a serem percebidos em cada cena.

Um grande must é a caracterização dos artistas. Em cada uma das histórias, Tom Hanks, Hale Berry, Hugo Weaving, Jim Sturgess e Hugh Grant, entre vários outros, interpretam pelo menos um papel, principal ou secundário, às vezes uma microponta como a de Hale Berry na história do advogado nos Mares do Sul. Em alguns casos dá para reconhecer os rostos, em outros só nos créditos, e não há como não soltar várias exclamações de surpresa. Quem diria que a enfermeira durona era o...?

À parte a maquiagem, atuações e o visual como um todo, a história me prendeu durante aquelas quase três horas. Digo "a história" porque, isoladamente, cada uma das seis tem uma trama simples, sem granes surpresas; algumas não fariam sentido se fossem contadas sozinhas, sem o apoio das demais, porém esse não era o objetivo e sim construir algo maior, que integrasse todas as seis e criasse uma grande história, em diferentes níveis como uma espiral, mas com um tema em comum.

E qual seria esse tema? É curioso. Logo que vi o filme, procurando uma imagem para ilustrar este post, li uma citação atribuída ao autor do livro, David Mitchell, segundo o qual o tema central de sua obra seria o instinto predatório, a sanha de domínio e de obtenção de poder do homem sobre o homem. De fato, uma frase dita pelo médico/monstro da primeira história é repetida pelo homem da tribo pós-catástrofe séculos depois (ambos interpretados por Tom Hanks): "O fraco é o alimento do forte". No entanto, minha visão do filme teve o viés oposto; para mim o tema central não foi o poder e sim a conquista e a defesa da liberdade, tanto no sentido mais literal (a libertação física de um escravo) quanto no que se refere à liberdade de crença,convicção, sexualidade e poder de escolha. Algumas se dão em um nível mais pessoal, como a de Robert Frobisher (autor da sinfonia "Cloud Atlas" na história passada em 1936) e a do impagável editor Cavendish; outras ganham conotação universal, principalmente a de Sonmi-451, garçonete em Nova Seul, geneticamente modificada para sê-lo enquanto durar sua vida útil.

(Aliás, alguém notou que 451, o número dessa entre outras Sonmis, é a temperatura da queima do papel, citada também em Fahrenheit 451 de Ray Bradbury? Eu sim).

Ao ver esse filme, algumas pessoas talvez pensem na ideia da reencarnação, principalmente por causa da repetição de atores. É uma interpretação, mas não me satisfaz, não acho que tenha sido essa a intenção do autor. Ainda assim, vejo algo de espiritual na ideia central da obra, porém não um espiritual religioso; só mesmo aquela ideia de que todos estão conectados, exista ou não algo "maior" ou "além" de nós e da nossa compreensão. Enfim, a velha e boa constatação de que nenhum de nós é uma ilha.

Cloud Atlas, o livro, está disponível para compra em livrarias aqui ou online - minha amiga viu uma edição paperback na Cultura do Rio por R$ 19,90 - e a Companhia das Letras pelo que li comprou os direitos, mas ainda não há data prevista para a tradução. Não tenho dúvida de que será um desafio, pois apreciações do livro em inglês disseram que há muitos neologismos, que o homem do futuro pós-apocalíptico se expressa de um jeito peculiar (se for como o menino do primeiro conto de A Voz do Fogo, sai de baixo!) e que além disso usa recursos complicados de narrativa. Já um ponto a favor é que Mitchell disse ter se inspirado em parte em Se Um Viajante Numa Noite de Inverno, meu livro favorito de Italo Calvino.

Pesando os prós e contras, depois de ter adorado o filme e sabido que o Cavendish do livro é melhor ainda - e, ora, R$ 19,90 não me farão mais pobre - acho que não vou esperar pela versão brasileira e sim me arriscar a ler o original mesmo. E, daqui a um tempo, assistir ao filme de novo, com o arcabouço da história em mente e prestando mais atenção aos detalhes sutis.

Vale a pena.

quarta-feira, junho 05, 2013

Tributo



Ia... Zul! Até o espirro de Vovô tinha saudade do Líbano. Mamãe espirrava baixinho: sua máxima sempre foi passar pelo mundo sem chatear o próximo. Já minha filha é uma Lu aventureira, planeja longas e exóticas jornadas: Yyy-eti!

Quanto a mim, depois de muitos anos descobri como usar o espirro para ajudar na conquista da sonhada assertividade. É só sentir que ele vem e murmurar baixinho as primeiras sílabas: Huit, zi, lo... e então completar a invocação em alto e bom som, POCHTLI!

Esse é meu hino de todas as manhãs. Um tributo alérgico, úmido e bravio ao Senhor da Guerra, o Grande Asteca, o Deus Beija-Flor.