sexta-feira, dezembro 27, 2019

Melhores Leituras de 2019 - Estrangeiros

Pessoas Queridas,

Como combinado, aqui estão os títulos dos livros estrangeiros que mais curti ler em 2019. Decidi usar a mesma porcentagem: pouco mais de 70 lidos, 7 destaques, e olha que legal: à exceção do primeiro, que tem coautoria de um homem (cabendo controvérsias), todos foram escritos por mulheres.

É provável que isso reflita a totalidade de leituras, mas não tenho certeza. Fui pinçando do diário -- e gostei do que resultou. Espero que vocês também curtam as minhas impressões.




O Labirinto do Fauno, de Cornelia Funke e Guillermo Del Toro

Possivelmente o melhor livro que li este ano, e em edição lindíssima, o que tornou a experiência ainda mais legal. A controvérsia que citei acima se deve ao fato de que, pelo que entendi (se alguém tiver notícia do contrário, diga-me), Cornelia foi a única autora do livro, escrito com base no roteiro de Guillermo e no filme feito a partir dele. De qualquer forma, ainda que consideremos ambos como autores, as histórias curtas, ao estilo de contos de fadas, inseridas em meio aos capítulos que narram a aventura de Ofelia foram ideia (e criação) de Cornelia, e as imagens, metáforas e construções literárias são obra sua -- e ela consegue, com mestria, transpor para o livro a atmosfera de medo, sombras e fantasia que encantou nossos olhos e imaginação no cinema. Obra maravilhosa, do início ao fim.



A Sociedade Literária e a Torta de Casca de Batata, de Mary Ann Schaffer e Annie Barrows

Mais um do qual foi feito um filme, que também achei legal - só que o livro tem espaço para falar bem mais das pessoas de Guernsey e de suas histórias, além de uma trama paralela (e deliciosa) de espionagem literária. Ou seja, temos o mundo dos escritores e editores mais bem representado e a cidadezinha como um cenário mais vívido e interessante. A narrativa é leve e ágil sem ser superficial, e tudo é bem amarrado. Gostei de fato.





As Alegrias da Maternidade, de Buchi Emecheta

Como no ano passado, li muitos autores africanos em 2019, principalmente mulheres. Desta, nigeriana, li três livros, e este foi o favorito. É a história de uma mulher do interior, enviada para se casar com um desconhecido que vive em Lagos, e os vários percalços que tem de enfrentar, desde o estranhamento causado pela cidade e o desapontamento com o marido até os perrengues para criar os filhos em meio a uma sociedade cada vez mais influenciada pelos colonizadores, na qual os valores tradicionais não podem mais servir de referência. À parte a temática, de que gosto, a narrativa é agradável e objetiva, e a protagonista muito bem construída.




Você Nasceu Para Isso, de Michelle Sacks

Inverti a ordem de leituras entre este e o próximo, porque o livro faz contraponto com o anterior. Aqui não temos uma mãe de vários filhos passando perrengue e sim a mãe de um bebê lindo e saudável, morando num lugar lindo e com um marido protetor e amoroso. No entanto, as coisas não são o que parecem -- e isso não se refere apenas a circunstâncias externas, mas ao que se passa na cabeça dessa mulher. Filho, marido, tarefas domésticas, será que isso basta para ela? Será que basta para alguém? E quando você sente, sem saber como, que é preciso dar um... basta? Leiam e depois me digam.



No Jardim do Ogro, de Leila Slimani

Da mesma autora do ótimo Canção de Ninar, este livro também tem a ver com o que está acima, na lista. Trata-se de uma mulher cuja vida e casamento, aparentemente, são perfeitos, mas que anseia por mais, e não mede consequências no sentido de buscar o que deseja. Quem ler este livro se lembrará provavelmente de A Bela da Tarde, de Joseph Kessel (e que virou filme com Catherine Deneuve): Adèle tem uma compulsão parecida com a de Séverine, embora a forma como as histórias se desenrolam sejam diferentes. E Slimani conta a sua de um jeito perturbador, levando o leitor pela mão até a beira do abismo. Gostei de ter ido até lá com ela.




As Horas Vermelhas, de Leni Zumas

Passado num futuro próximo e alternativo, o livro conta a história de cinco mulheres, entrelaçadas umas às outras e unidas por questões ligadas ao universo feminino, agora e sempre (ou há muito tempo) motivo de disputa, acusações e proibições: questões sobre o corpo, o sexo, a reprodução, mas também sobre a depressão, a solidão e o direito de viver do jeito que bem se entende. Enquanto lia, mais uma vez me ocorreu: as personagens deste livro são as tais descendentes das bruxas que nossos avós queimaram. E eu gostei de lê-lo. Cabe, porém, um aviso: não se parece tanto assim com A História da Aia: não tem o mesmo alcance, nem o mesmo peso, embora seja uma boa história com uma narrativa que prende do início ao fim.




A Filha do Rei do Pântano, de Karen Dionne

Fechamos esta lista como a abrimos: com a história de uma menina (neste caso não fica menina até o fim do livro) às voltas com o único tipo de lobo realmente mau, o que caminha sobre duas patas. Na verdade, são duas meninas: a narradora e sua mãe, que foi sequestrada na adolescência e obrigada a viver por vários anos em companhia do raptor, criando a filha de ambos. A narrativa é hábil, os cenários bem detalhados; para mim, a história no presente não fez muita diferença, e sim a parte que focava na infância da protagonista. E ela até é legal... mas para mim a grande heroína da história, uma heroína relutante e trágica, é sua mãe, tão anulada em favor da filha (e pela própria filha) que nem chegamos a saber seu nome.

... 

Bom, pessoal, estas são minhas impressões sobre os estrangeiros lidos em 2019. O que acharam? Meio diferentes dos nacionais, não é?

Deixem aqui seus comentários e sugestões. Ainda tem tempo antes do fim do ano!

Abraços e até a próxima!

segunda-feira, dezembro 23, 2019

Melhores Leituras de 2019 - Nacionais


Pessoas Queridas,

Como já é praxe, vou deixar algumas linhas sobre os livros que mais gostei de ler ao longo de 2019. Não são necessariamente lançamentos, estão em ordem de leitura e não de preferência, e o fato de estarem aqui significa antes de mais nada: eu tive prazer lendo esse livro. Porque achei bem escrito, porque me inspirou a escrever, porque me fez rir e/ou refletir, porque me fez lembrar minha infância... Enfim, gostei e quero partilhar a experiência.

Este ano não fiz distinção entre juvenis e adultos, fantasia ou ficção realista, apenas farei um post para nacionais e para estrangeiros. Começo pelos primeiros: cinco dentre os mais de cinquenta títulos, não computados contos avulsos e em revistas, que li este ano, escritos por autores e autoras brasileiros. Vamos lá?




Extemporâneo, de Alexey Dodsworth

Até o presente momento, não houve um só trabalho do Alexey, livro ou conto, de que eu não tenha gostado. Este não fugiu à regra, pelo contrário: é um dos meus favoritos. Seu protagonista (que guarda alguns traços em comum com o autor; eu pelo menos achei...) acorda todos os dias para uma realidade diferente, em universos diferentes e – mais complexo ainda – nos quais habita um corpo diferente do anterior. Só que a história não se limita ao personagem: ele se movimenta em meio a uma trama que mistura aventura, política e crítica social numa narrativa ágil e super bem amarrada. O desfecho? Um sopro de alento, uma declaração de amor à vida. O livro me fez tão bem que eu até vou reler, para entrar 2020 com o pé direito, e o mesmo recomendo a todos vocês.




De Ferro e de Sal, de Simone Saueressig

Sou suspeita para recomendar este livro, já que além de amiga da autora sou uma grande fã, mas vamos lá: aqui Simone Saueressig dá (mais) um show de construção de universo.  As regiões com seus costumes diferenciados, a vida na cidade, a guilda dos ferreiros, o povo mágico que vive no entorno -- tudo é habilmente forjado neste livro de fantasia dark com sabor de crônica medieval. Um aviso deve ser dado: como outras obras de Simone, esta começa parecendo meio juvenil, com personagens adolescentes, mas depois a trama e a narrativa se adensam, de modo que o leitor deve estar preparado para cenas fortes e grandes emoções.




Matando Gigantes, de Claudia Dugim

Claudia Dugim é uma das vozes mais originais da fantasia e da FC brasileiras, e este livro não fugiu à regra. A história se passa dentro de um veículo espacial, habitado por seres humanos de diversas etnias e por uma colônia de minúsculos humanoides, que lembram muito vaga-lumes, também com muita diversidade entre si. Estranhos e sangrentos assassinatos entre os primeiros marcam o início dos contatos entre os grupos e uma série de conflitos internos pelo poder, que irão causar uma verdadeira sacudida no status quo. Tive o prazer de ler esse livro em primeira mão – na verdade fui a revisora – e tenho certeza de que irá agradar em cheio a quem busca uma ficção científica mais focada em questões sociais, com narrativa e personagens bem distantes do lugar comum.



A Imensidão Íntima dos Carneiros, de Marcelo Maluf

Esta é uma sensível história familiar, passada entre as montanhas do Líbano, décadas atrás, e o Brasil contemporâneo, onde um jovem busca renconstruir a história do avô que não chegou a conhecer. O carneiro, aqui, aparece como símbolo da solidão e do sacrifício, bem como da ancestralidade; foi ela que me atraiu para o livro, do qual acabei por gostar mais pela delicadeza e a poesia da prosa do que, propriamente, pela história. Ainda assim, um dos nacionais que mais gostei de ler em 2019, e o primeiro que leio do autor. Certamente procurarei por outros.




Assim na Terra como Embaixo da Terra, de Ana Paula Maia

Outra autora de que sou fã (porém não a conheço pessoalmente). Este é um livro que traz as marcas da escrita de Ana Paula – é duro, cru, visceral --, mas não se passa num local de trabalho e sim numa colônia penal onde, mais que o encarceramento, o que a todos assombra e oprime é a crescente loucura do diretor. A tensão cresce página a página, e a gente se vê torcendo para que determinados personagens fiquem bem, embora muito pouco seja dito sobre eles. No fim, um gancho inesperado para outras obras da autora – pelas quais, se lerem qualquer uma delas, vocês se sentirão imediatamente atraídos.

***

Então, pessoal... Esses foram os meus favoritos, de autores brasileiros. Antes do fim do ano ainda posto os estrangeiros. Por ora, queria saber se já leram algum destes, se têm vontade de ler, se conhecem os autores... Também quero saber o que recomendam em termos de livros nacionais. 

Deixem seus comentários!

Abraços a todos, e até breve!



sexta-feira, novembro 01, 2019

Em breve: FLINIT

Pessoas Queridas,

Entre os dias 7 e 10 de novembro vai rolar a FLINIT, uma grande feira literária aqui deste lado da poça. Mais de 150 autores vão estar lá, e a programação vai ser bem diversificada, com atividades para todos os gostos e faixas etárias.


Claro que eu não poderia ficar de fora, e lá estarei, participando de mesa na quinta-feira e, todos os dias, recebendo quem chegar com meus livros e coletâneas e um bom papo sobre Literatura Fantástica. Comigo vão estar a Cristina Pezel e outros amigos e artistas talentosos.

Apareçam! Quero abraçar vocês.

domingo, outubro 20, 2019

Será?

Meus personagens sabem caçar e pescar. Eu daria uma flechada no meu pé e me enrolaria na linha de pesca.

Meus personagens tocam instrumentos, eu já nem sei como segurar um violão.

Meus personagens navegam, rastreiam, se orientam pelas estrelas. Eu já me perdi dentro da casa onde morava.

Meus personagens têm coragem, presença de espírito, respostas ágeis. Eu não estou à altura.

Meus personagens sabem contar histórias.

E eu, será que também sei?

sábado, setembro 21, 2019

Viagem Literária 2019 : Preparativos


Pessoas Queridas,

Passadas a Bienal e a Feira Fantástica, esta semana será de trabalho na BN, revisão de textos e, sobretudo, preparação para a Viagem Literária promovida pelo SP Leituras em parceria com o Estado de São Paulo.


Ao longo de três dias, irei visitar cinco bibliotecas municipais falando sobre meus livros e sobre Literatura Fantástica. Também pretendo divulgar, de leve, nossas atividades na Biblioteca Nacional. Será uma pequena Odisseia da qual, mais tarde, pretendo postar fotos e impressões. Ao longo da viagem, porém, irei dando notícias pelas redes sociais, por isso os convido a me acompanhar no Facebook, Twitter e/ou Instagram.

Pela Magia e pela Arte - o pé na estrada eu vou botar!

quarta-feira, setembro 11, 2019

Feira de Literatura Fantástica - 13 e 14 de Setembro na Biblioteca Parque de Niterói

Pessoas Queridas,

Acabou a Bienal, e meus olhos já estão abertos pra outra emoção!


Nos dias 13 e 14 (sexta e sábado) realizaremos a segunda edição da Feira de Literatura Fantástica na Biblioteca Parque de Niterói. A programação está incrível, como vocês podem conferir neste link do Fantasia Brasil. E parece que os deuses do tempo vão nos ajudar: sábado, ao que tudo indica, teremos swordplay, para todas as idades!

Bora pro nosso lado da poça!

quinta-feira, agosto 29, 2019

Orlando, vencedor do I Prêmio Odisseia - Rumo à Bienal!

Pessoas Queridas,

É com muito orgulho que anuncio a vitória de Orlando e o Escudo da Coragem na categoria Narrativa Longa Juvenil do I Prêmio Odisseia de Literatura Fantástica, cujo resultado foi anunciado durante a VI Odisseia em Porto Alegre.

Com os finalistas,vencedores e organizadores do I Prêmio
Odisseia de Literatura Fantástica

Fiquei muito emocionada, pelo reconhecimento e porque, realmente, não esperava ganhar. Mesmo assim consegui dar o meu recado, no sentido de multiplicarmos as iniciativas que, além de premiarem os autores mais destacados, contribuam para promover a cultura e o amor à leitura.


Antes de ir a Porto Alegre, eu estive num evento literário em Antônio Prado, na serra gaúcha, e conversei com alunos de duas escolas sobre meus livros. Eles já tinham lido "Orlando" e "Contos Fantásticos de Avós Extraordinários" e tive o prazer de ver os trabalhos que fizeram a respeito.

Cartazes sobre os "Contos Fantásticos" - alguém
esteve no blog Estante Mágica e viu a ilustração de A Era do Leonte!

Cartazes sobre "Orlando"

Esses foram, em resumo, eventos maravilhosos que trouxeram a oportunidade de rever amigos, de conhecer pessoas novas, de transmitir minha mensagem e de renovar minhas forças e determinação de trabalhar em prol da cultura, especialmente da Literatura Fantástica.

Agora, minha energia se direciona para a Bienal que vai começar dia 30 aqui no Rio. Vou estar lá aos sábados e domingos, no estande O 83 do Pavilhão Verde, da Editora Draco. E espero todos os amigos para lhes dar um grande abraço, além, é claro, de apresentar nossos incríveis livros e HQs. Orlando vai estar lá, assim como a nossa nova coletânea, Duendes, com onze contos de fantasia sombria.

Vamos lá?

terça-feira, agosto 20, 2019

Rumo ao Paralelo 28 e à Odisseia!

Pessoas Queridas,

Lá vou eu para uma nova jornada, com grandes expectativas!

Minha viagem começa no dia 22 de agosto, que passarei em trânsito. Vou para Antônio Prado, cidade da serra gaúcha onde, no dia 23, visitarei duas escolas (soube que os jovens fizeram trabalhos sobre um conto meu, estou supercuriosa) e, à tarde, participarei da Odisseia Itinerante de Literatura Fantástica, que vai rolar em meio ao Festival Literário Paralelo 28. Minha mesa é com Enéias Tavares e André Cordenonsi; vamos falar de steampunk e de fantasia medieval, tudo junto e misturado!





À noite eu viajo para Porto Alegre, e nos dias 24 e 25 de agosto vou estar na VI Odisseia de Literatura Fantástica. O evento contará com venda de livros e outros produtos e com mesas-redondas de que participarão escritores, editores e pesquisadores do Fantástico.

Estou numa mesa marcada para o sábado, às 14 h, cujo tema é  “Fantasismo e a (Re) construção de mundos fantásticos”. Vou debater com André Cordenonsi, Bernardo Stamato, Leandro Pileggi e Simone Marques. Esperamos muita participação do público.


Por fim, no domingo, às 18 horas, haverá a cerimônia de entrega do I Prêmio Odisseia de Literatura Fantástica, do qual meu livro Orlando e o Escudo da Coragem é um dos três finalistas na categoria Narrativa longa – literatura juvenil.


Aqui está a sinopse, para quem não conhece:

Dividido entre o Dom da Magia e o desejo de ser um cavaleiro, Orlando tem uma única certeza: ele lutará até o fim por aquilo em que acredita. E toda a sua coragem e habilidade serão postas à prova durante um torneio no misterioso Reino das Colinas Negras. Depois de “Anna e a Trilha Secreta”, este é o novo livro dedicado aos leitores mais jovens por Ana Lúcia Merege, criadora do universo Athelgard.
                     


                 

Curtiu? Então torça pela gente!

Até lá, ou até breve!


Veja a programação completa da Odisseia

sábado, agosto 03, 2019

Contos Novos no Ar!


Pessoas Queridas,

Foram-se as férias, e agora entramos firmes e fortes no segundo semestre do ano.

Tenho muitos eventos programados, e aos poucos falarei deles, para convidar e para contar como foi. Por ora, fico feliz por anunciar que a campanha dos Duendes foi um sucesso, e que, enquanto esperamos pelo livro, há mais contos meus no ar esperando para ser lidos. "No ar", literalmente, pois são todos e-books ou PDFs. Querem conhecê-los?



"Ainda Centauros", bem curtinho, saiu em e-book por uma iniciativa da Casa Fantástica -- por sinal, o evento em Paraty foi ótimo -- e pode ser lido de graça na Amazon, clicando aqui.



"Cybermadrinha" foi republicado no primeiro número da revista Literomancia, e o PDF vocês baixam também de graça aqui.



Por fim, "O Touro Vermelho" foi selecionado entre cerca de 200 contos para integrar o segundo número da revista A Taverna e está à venda pela Amazon. Para adquiri-lo, cliquem aqui.

O ano ainda trará algumas surpresas -- com sorte, mais do que eu espero -- mas, por ora, torço para que leiam e gostem desses continhos. E quem ler, por favor, não deixe de avaliar, de comentar, de ao menos me contar... Seu feedback é da maior importância!

Até breve, com mais novidades!

quarta-feira, julho 10, 2019

Arthur Rackham, Artista do Mundo Feérico

Pessoas Queridas,

Venho compartilhar um pouco sobre o trabalho de Arthur Rackham, cuja arte será reproduzida nos marcadores e postais da coletânea Duendes: contos sombrios de reinos invisíveis.



Rackham (1867 – 1939) nasceu em Londres, numa família com doze filhos. Segundo seu biógrafo, Derek Hudson, era apaixonado por desenho desde criança e escondia papel e lápis sob as cobertas; quando sua mãe confiscava o papel, desenhava na fronha do travesseiro (eu queria ter visto esses desenhos).

Aos 18 anos o jovem Rackham começou a trabalhar como escriturário e, ao mesmo tempo, a estudar e praticar na Lambeth School of Art. Em 1892 deixou o escritório e passou a trabalhar como repórter e ilustrador no jornal The Westminster Budget, mas os desenhos que realizava para eles eram muito convencionais. Assim, voltou seu interesse para os livros ilustrados, onde tinha mais liberdade criativa. Sua primeira ilustração em livro foi publicada num guia dos Estados Unidos e Canadá, chamada To the Other Side, em 1893. Tempos depois, trabalhou em The Ingoldsby Legends (1898) e Tales from Shakespeare (1889), considerados dois dos mais importantes livros ilustrados daquela época.

Ilustração de The Ingoldsby Legends

A consagração de Arthur Rackham como ilustrador se deu com a publicação da primeira edição de The Fairy Tales of the Brothers Grimm, em 1900. O livro foi um sucesso, várias vezes reeditado, e apenas um dos muitos que ilustrou com temas ligados aos contos de fadas. Segundo o artista, seu sucesso se devia ao profundo conhecimento dos contos e do imaginário associado – e a verdade é que seus melhores e mais conhecidos trabalhos seguem a temática feérica, ou se referem à literatura para crianças e jovens com um pé na fantasia, como Peter Pan (o autor J. M. Barrie contratou Rackham para ilustrar Peter Pan in Kensington Gardens, livro que saiu em 1906 e antecede a “obra canônica” Peter and Wendy, de 1911) e Alice in Wonderland (1907). Outras obras de grande sucesso foram Rip van Winkle (1905), The Romance of King Arthur (1917) e The Legend of Sleepy Hollow (1920).


As fadas de Rackham

Nos anos 1920, tendo ilustrado dezenas de livros e recebido prêmios, Arthur Rackam viu suas vendas descrescerem um pouco no Reino Unido, ao mesmo tempo que sua fama se ampliava nos Estados Unidos da América. Na década seguinte sua saúde, assim como a de sua esposa, Edith, começou a declinar. Ainda assim, o artista continuou a produzir maravilhas, como uma bela edição dos contos de Andersen (1932), ilustrações para Goblin Market, de Christina Rossetti (1933) e, no mesmo ano, The Arthur Rackham Fairy Book.

O último projeto em que Rackham trabalhou teve para ele um grande valor sentimental: as ilustrações de The Wind in the Willows (escrito por Kenneth Grahame em 1908), que não pudera fazer alguns anos antes devido a outros compromissos, mas que lhe vinham sendo pedidas por pequenos leitores. A última ilustração foi concluída pouco antes da morte do artista, de câncer, em 1939. O livro foi publicado postumamente no ano seguinte.

O Piquenique do Toupeira e do Rato d´Agua, em
The Wind in the Willows

Arthur Rackham deixou um incrível legado que inspirou muitos artistas plásticos e escritores. Desejamos que inspire também os leitores de Duendes, razão pela qual utilizamos suas ilustrações, hoje em domínio público, na arte das nossas recompensas. Por enquanto, quem adquirir a coletânea através do Catarse irá receber um postal e um marcador, mas esse brinde será duplicado tão logo a campanha atinja a meta estendida de R$ 8.000,00. E esse é só o primeiro dos nossos potes de ouro!

Vem com a gente?





Para conhecer, apoiar e divulgar entre no site do Catarse. Agradecemos desde já por sua colaboração!

quinta-feira, julho 04, 2019

Duendes: Contos Sombrios de Reinos Invisíveis : Catarse


Pessoas queridas,

Venho apresentar o meu novo projeto na Editora Draco. Trata-se da coletânea Duendes : contos sombrios de reinos invisíveis.

O livro reúne dez (talvez venham a ser onze!) dos melhores autores nacionais de fantasia, cujas narrativas mostram o Povo Pequeno em seu aspecto mais sinistro. Algumas são ambientadas no mundo contemporâneo, outras se inspiram em histórias tradicionais de várias culturas: a britânica, a eslava, a japonesa, a latino-americana e, claro, a brasileira. Muito mais do que simplesmente histórias bem contadas, trazemos um sólido trabalho de pesquisa em mitologia e folclore, que serviu para embasá-las e alinhavá-las.

A capa do livro, ainda não finalizada. Não está ficando o máximo?

Teço esta rede com minha experiência de vários anos pesquisando de mitos e contos de fadas. Os fios se estenderam pelas mãos de Aya Imaeda, Cristina Pezel, Daniel Folador Rossi, Diego Guerra, Isa Próspero, Luiz Felipe Vasques, Sid Castro, Silas Chosen  e Simone Saueressig (se atingirmos as metas extras, haverá mais um – surpresa!).

Para incrementar a pré-venda, a Editora Draco deu início a uma campanha no Catarse, através da qual a obra pode ser adquirida com desconto, brindes, como postais e marcadores de página, e ainda em conjunto com os outros livros de fantasia da editora, tais como as demais coletâneas organizadas por mim: Excalibur, Medieval (coorganizada com Eduardo Kasse e Prêmio Argos de Ficção Fantástica em 2017) e Magos (Prêmio Argos de 2018).

Se você curtiu a ideia, não hesite: dê um passo à frente, acesse o link do Catarse. Se não é muito fã de duendes e folclore, ou de fantasia sombria, tudo bem – mas ficaremos muito gratos se compartilhar o link, esta postagem ou os nossos posts em redes sociais. 

domingo, junho 23, 2019

Parceria Tabula Rasa: Fantásticas

Pessoas Queridas,

Sigo com as postagens da parceria com o portal Tabula Rasa, que está com a campanha #LivroBRNoCinema.

Segundo suas idealizadoras, Anny Lucard e Louise Duarte, a campanha se propõe a divulgar livros nacionais com potencial para se tornarem filmes, bem como como prestar um serviço diferenciado, de baixo custo, focando a divulgação de autores nacionais ainda desconhecidos do grande público. Os blogs parceiros irão divulgar esses livros, e também uns aos outros, criando o efeito "teia" que tanto adoro quando se trata de partilhar cultura, literatura e informação.




O livro que recomendo hoje é Fantástica, coletânea da Giz Editorial organizada por Giulia Moon e Walter Tierno, trazendo contos de amor, terror e aventura. Entre seus autores está Dany Fernandez, redatora do blog Barato Literário, no qual ela divulga não apenas literatura, mas quadrinhos, eventos e muitas coisas legais.

Vamos conferir?

quinta-feira, junho 20, 2019

Parceria Tabula Rasa: Vanguardia

Pessoas Queridas,

Retomo aqui as postagens da parceria com o portal Tabula Rasa, que está com a campanha #LivroBRNoCinema.

Segundo suas idealizadoras, Anny Lucard e Louise Duarte, a campanha se propõe a divulgar livros nacionais com potencial para se tornarem filmes, bem como como prestar um serviço diferenciado, de baixo custo, focando a divulgação de autores nacionais ainda desconhecidos do grande público. Os blogs parceiros irão divulgar esses livros, e também uns aos outros, criando o efeito "teia" que tanto adoro quando se trata de partilhar cultura, literatura e informação.




O livro que recomendo hoje é Vanguardia, de Joe de Lima, um thriller com toques de terror e ficção científica. Vejam a sinopse da Amazon:

Atravessando o espaço sideral, a Vanguardia está numa jornada de cento e quarenta anos rumo a um planeta desabitado. No interior da nave colonizadora, seções protegidas por imponentes portas de aço transportam uma tripulação de cinquenta mil pessoas acomodadas em cápsulas de sono. Quando uma dessas câmaras dá defeito, um jovem enfermeiro chamado Victor acorda antes da hora.

Sem pistas do que realmente está acontecendo, Victor se depara com um grupo de desconhecidos e um ambiente opressor. À medida em que um passado distante vem à tona, um pesadelo desperta, ameaçando as vidas de todos.


Legal, não é? Vamos lá conferir o livro do Joe!

E até breve, com mais uma divulgação da campanha #LivroBRNoCinema!

domingo, junho 02, 2019

Eventos de Maio - Fotos e Lembranças



Eu já estava ficando impaciente, confesso. O ano avançava, avançava, e nada acontecia. Estava escrevendo, claro, e trabalhando na BN, mas nada de eventos literários. Eu estava com saudade!

Felizmente, em maio surgiram os primeiros convites para eventos, a começar pela oficina de Criação de Mundos Fantásticos que ministrei na UFRJ-ECO, no decorrer da SIQ - Semana Internacional de Quadrinhos.


Ao meu lado estava o grande amigo e "parceiro de doideiras" Luiz Felipe Vasques. O público, formado na maioria por estudantes da ECO, adorou a oficina, e já estamos sendo sondados para fazer outra edição. Ainda não tem nada certo, mas... Quem sabe?



Já no dia seguinte foi a vez de falar com o público mais novo, no SESC Niterói. Escrevo para crianças na faixa dos 9 anos para cima, mas esse grupo era bem variado, dos 6 aos 12 anos de idade, além de alguns educadores. 


Sem problema: todo mundo era bem animado, e foi muito legal conversar com eles, contar como é ser escritor e ficar sabendo que vários também escrevem histórias e poemas.



Por fim, nos dias 25 e 26 de maio aconteceu o NitComics, quando eu e a Cristina Pezel, minha companheira nos eventos do grupo Fantasia Brasil, levamos nosso trabalho para expor no Praia Clube São Francisco.



Embora mais voltado para os quadrinhos e quadrinistas, o evento trouxe uma oportunidade de interagir com o público, o encontro com alguns amigos e a surpresa de ver ali vizinhos, conhecidos e antigos colegas da minha filha.



E, dentre essas surpresas legais, teve a do menino que correu para comprar "Anna e a Trilha Secreta", que ele tem de ler na escola (assim fiquei sabendo que o livro foi adotado de novo no Salesiano!) e a do rapaz que comentou ter comprado um livro da Editora Wish sobre contos de fadas. Ele mal acreditou quando lhe contei quem fez o prefácio. ;) 


Enfim, maio trouxe ótimas oportunidades de estar com o público, de conversar, de mostrar meu trabalho. Foi um ótimo "esquenta" para os próximos meses, nos quais teremos muito agito e incríveis novidades. Palavra de lobo -- ou, como dizem uns personagens muito gracinha da minha amiga Cláudia Du, juro pelas estrelinhas!

Continuem comigo! Eu chamo vocês. 

quarta-feira, maio 08, 2019

Um Poema de Paulo Leminski



Razão de Ser

Escrevo. E pronto.
Escrevo porque preciso
preciso porque estou tonto.
Ninguém tem nada com isso.
Escrevo porque amanhece.
E as estrelas lá no céu
Lembram letras no papel,
Quando o poema me anoitece.
A aranha tece teias.
O peixe beija e morde o que vê.
Eu escrevo apenas.
Tem que ter por quê?

Paulo Leminski

domingo, abril 07, 2019

Parceria Tabula Rasa : Quem Precisa de Heróis?

Pessoas Queridas,

Prosseguindo na divulgação dos demais parceiros na campanha #LivroBRNoCinema, do portal Tabula Rasa, venho apresentar o livro "Quem Precisa de Heróis?, da Vivianne Fair.




Neste livro, Sephira é uma jovem donzela que está fugindo, perseguida por dois encapuzados. Para a sorte da moça, quatro heróis estilosos surgem para salvá-la. Azar o deles se morrem por suas mãos.

São ressuscitados por um clérigo e têm que pagar uma taxa absurda. Como heróis não costumam ter dinheiro – fazem tudo de bom coração e com os conselhos de seus livros de auto-ajuda – resolvem ir em busca da jovem e receber a recompensa pela captura dela, além de salvar o mundo da ameaça que a moça representa: pode destruir tudo com um... espirro! 

De seu lado, a jovem logo encontra um elfo boa-pinta disposto a ajudá-la. Afinal, ela destruiu a sua aldeia e agora ele não tem nada melhor para fazer. De outro, um belo e poderoso feiticeiro, no melhor estilo vilão de RPG, deseja o poder de Sephira e procura seduzi-la. Envia à moça um ovo, que revela ser um enorme dragão vermelho voador cuspidor de fogo. Claro que isso desperta nela seu instinto maternal, e a jovem acolhe o dragão de quinze metros com muito carinho.

Quem está certo, no final das contas? Você teria alguma ideia de como impedir alguém que pode destruir o mundo na primeira TPM?

...

"Quem Precisa de Heróis" foi lançado numa campanha de financiamento coletivo. Eu participei e tenho o livro, que ainda não li -- mas tenho certeza de que ele é tão legal quanto os outros trabalhos da autora, que incluem sua série "A Caçadora", o romance "A Rainha Sombria" e o conto "A Elfa Maga", publicado na coletânea Magos, que organizei para a Editora Draco.

Esses e outros trabalhos da Vivianne -- inclusive suas ilustrações e tirinhas divertidas -- vocês encontram no site da autora, o Recanto da Chefa. Passem lá!

E até breve, com mais uma divulgação da campanha #LivroBRNoCinema!

segunda-feira, abril 01, 2019

Parceria Tabula Rasa : A Vampira Nerd

Pessoas Queridas,

Prosseguindo na divulgação dos demais parceiros na campanha #LivroBRNoCinema, do portal Tabula Rasa, venho apresentar o canal A Vampira Nerd.


Sobre o canal, diz sua criadora, a gamer e designer gráfica Rebeca Monteiro:

“Sou apaixonada pelo mundo cinematográfico e aqueles filmes coreanos que dão o que falar. No meu canal, você pode encontrar informações como aqueles filmes que foram inspirados por livros, críticas de filmes e seriados e não esquecendo de falar dos poderes ou curiosidades dos seus super-heróis favoritos. Com uma paixão pelo mundo cinematográfico, criei esse canal para compartilhar ideias e conhecimento da cultura pop e cultura oriental.”

Eu não sou fã de dorama, então assisti a um vídeo da Rebeca sobre o filme "Diário de uma Paixão". Achei a análise muito interessante, favorecida pelo jeito espontâneo da blogueira. Foi bem legal a forma como ela abordou as diferenças entre o livro e o filme, uma coisa que nem sempre a gente vê - frequentemente vemos analisados só um ou só o outro. Esse foi um plus que encontrei e do qual gostei muito.

Assim, convido todo mundo a conhecer e a se inscrever no canal da Vampira Nerd -- ela tem muito a dizer e diz de um jeito bacana!

Até breve, com mais uma divulgação da campanha #LivroBRNoCinema!

segunda-feira, março 25, 2019

Parceria Tabula Rasa : Ah, e Por Falar Nisso

Pessoas Queridas,

Eu sei, eu sei que este blog anda meio parado. São dezessete anos... Não há como manter uma produção constante. E este ano vai demorar um pouco para ter novidades, eventos, masssss... para agitar um pouco as coisas, venho anunciar que fechei uma parceria com o portal Tabula Rasa, que está com a campanha #LivroBRNoCinema .


Segundo suas idealizadoras, Anny Lucard e Louise Duarte, a campanha se propõe a divulgar livros nacionais com potencial para se tornarem filmes, bem como como prestar um serviço diferenciado, de baixo custo, focando a divulgação de autores nacionais ainda desconhecidos do grande público. Os blogs parceiros irão divulgar esses livros, e também uns aos outros, criando o efeito "teia" que tanto adoro quando se trata de partilhar cultura, literatura e informação.

O primeiro blog que divulgo aqui é o Ah, e Por Falar Nisso.... Criado em 2008 como um blog pessoal, tornou-se uma página que oferece informação, opinião e curiosidades sobre diversos produtos da cultura pop. Cinema, TV, literatura, música, comportamento nas ruas e na rede -- tudo isso tem espaço nesta página, criada pela jornalista Fabiane Bastos. Dei uma passeada no blog e encontrei artigos muito legais sobre séries e filmes que estão sendo lançados agora, escritos por uma blogueira antenadíssima. Vale a pena conferir!

Até breve, com mais uma divulgação da campanha #LivroBRNoCinema!

sexta-feira, janeiro 11, 2019

A Bruxa Meregilda


       Não é segredo pra ninguém que existem casas assombradas. Algumas podem dar dor de cabeça aos moradores – quando têm fantasmas de pessoas malvadas, por exemplo, ou aqueles monstros peludos que se escondem no armário – mas outros seres podem tornar a experiência bem divertida.

            O apartamento em que eu morava quando criança era assombrado por um duende. Ele era bonzinho, não brigava com ninguém nem fazia barulho, de forma que os adultos da família até esqueciam que estava em casa. Aí, quando ninguém esperava, ele fazia das suas, bagunçando os livros do meu pai ou deslizando um dedinho curioso pelo quadro recém-pintado da minha irmã.

            Eu também era alvo das travessuras do tal duende. Uma coisa que ele fazia era encolher minhas roupas, um tantinho por vez, de forma que depois de uns meses elas não cabiam mais. Também escrevia nos meus cadernos - eu tinha que comprar um novo toda semana. E cada história era mais doida que a outra. A maioria eu joguei fora, mas algumas guardei e ainda leio de vez em quando. Só pra lembrar de como era viver com aquele duende arteiro.
Quem me conhece sabe: os duendes não saíram da minha vida.
Os cadernos também não.


            À medida que eu crescia, ele foi ficando mais discreto, mas ainda aparecia de vez em quando. Nos fins de semana, minha mãe ficava acordada até tarde, e jura que escutava o duende entrar em casa pé-ante-pé. Isso só acabou depois que me casei e fui morar em Portugal. O duende sumiu na mesma época, e, pelo que sei, meus pais e minha irmã sentiram muita falta dele.

            Não sei se os lugares onde morei depois eram assombrados. De vez em quando o banheiro ficava alagado ou o bife queimava, mas essas provas não são suficientes. Além do mais, minhas roupas passaram a servir durante anos e ninguém escreveu uma linha sequer nos meus cadernos. Minha vida era bem mais tranqüila do que antes. Mas não tão divertida.

            Então, algum tempo depois de eu ter mudado para o meu novo apartamento, comecei a perceber uma presença estranha. Não era um duende nem um monstro. Só descobri o que era algum tempo mais tarde, quando minha filha Luciana tinha uns três anos. Foi aí que a bruxa começou a nos visitar.

Luciana aos cinco anos, quando já era
grande amiga da Meregilda. ;)

            Eu disse bruxa, sim, mas fiquem calmos. A maioria das bruxas é do Bem, pelo menos quando a gente é legal com elas. O que lhes dá má fama é o fato de que não são pessoas comuns. Podem se vestir, falar e agir como todo mundo, mas, olhando bem, dá pra ver que lá no fundo elas são diferentes. Isso assusta mais do que vocês podem imaginar.

            Seja como for, a bruxa apareceu numa noite de chuva, quando a Luciana não estava querendo ir se deitar. Eu já tinha insistido, oferecido leite quente e cantado musiquinhas pra ela, e nada. Fui ficando impaciente, cheguei a contar um-dois-três, e mãe quando conta um-dois-três pode apostar que a coisa é séria. Mesmo assim, ela ainda não queria dormir, e eu ia começar a brigar quando, de repente, quem foi que surgiu do nada e se intrometeu?

            Pois foi ela mesma, a bruxa. E era uma bruxa até simpática, só que muito séria. Cruzando os braços, ela olhou para a Luciana e disse que se chamava Meregilda; que dormia durante o dia e acordava às nove da noite, e que, a essa hora, as crianças tinham que ir para a cama. Luciana fez uma cara meio de medo, meio de choro, e foi então que a Bruxa Meregilda propôs fazer um trato com ela.

            Vocês sabem que as bruxas fazem tratos, não é? Sua voz em troca de um par de pernas, seu bebê por um repolho e coisas assim. Mas a proposta da Meregilda foi mais simples. Foi o seguinte: a Luciana ia logo pra cama e a bruxa contava uma história pra ela. Uma história emocionante, mas não assustadora. E que fazia ter ótimos sonhos.

            Ouvindo isso, a Luciana se animou, mas ainda estava em dúvida e olhou pra mim. Como a essa altura eu já tinha percebido que a bruxa era legal, falei que ela devia experimentar, e lá se foram as duas de mãos dadas para o quarto.

            E o que aconteceu? Aconteceu que a Meregilda contou uma história ótima. Ou talvez nem fosse tão boa, e sim apenas uma história maluca feito aquelas do duende. Só que a bruxa contava de um jeito engraçado, e ainda dava um jeito de aproveitar as coisas que a Luciana dizia no meio. E quando, depois de muita contação e muita risada, minha filha pegou no sono, o sorriso dela me deu a certeza de que aquela era a primeira de uma longa série de histórias.

            A partir daí, a Bruxa Meregilda voltou várias vezes. Nem sempre tinha histórias novas, então repetia uma que tivesse feito sucesso ou pegava emprestado num livro. Com o tempo, a Luciana também aprendeu a ler, e as duas liam em voz alta uma para a outra. Na verdade, fizeram isso ontem mesmo, e algo me diz que vão fazer hoje de novo. Porque, se vocês pensam que a Meregilda foi embora depois que a Luciana cresceu, podem tirar o cavalinho da chuva! Ela continua por aqui. E pelo jeito não vai embora tão cedo.

E não vai mesmo. Ela está a todo vapor. Na Bienal 2017, por
exemplo, foi vista em companhia de jovens escritores, como
Danilo Sarcinelli.
            E sabem o que mais? Eu acho que nos últimos tempos ela anda se encontrando com o duende, aquele de quando eu era criança, e trazendo ele escondido aqui em casa. Quem mais teria feito uma história tão doida como esta aparecer no meu computador?