sexta-feira, dezembro 24, 2010

Do Ano que se vai



Pessoas Queridas,

Mais um ano se foi, e neste a minha vida mudou muito.

Houve uma perda, a morte de meu pai, embora eu esteja em paz sabendo que ele teve uma vida longa, produtiva e quase sempre feliz. Também houve preocupações, adiamentos e frustrações que fazem parte de toda jornada, e com os quais às vezes a gente consegue aprender e se transformar.

Eu aprendi bastante, como escritora e como pessoa, e muito desse aprendizado se aplica nos dois casos. Ora fluido, ora complicado, o processo da escrita leva você a refletir, a se confrontar com aspectos de sua própria personalidade, e os confrontos se multiplicam quando entra em cena a figura do leitor.

Este ano, em que produzi centenas de páginas, foi mais pródigo em retornos, críticas e feedbacks do que qualquer outro. Desde o simples incentivo dos amigos até as considerações de editores e leitores críticos, que me fizeram perder o sono, mas também – depois de respirar fundo – reagir e pôr mãos à obra, repensando, reescrevendo e aperfeiçoando os textos. Daí resultaram não apenas histórias melhores, mas também uma escritora mais consciente de suas falhas e disposta a trabalhar duro para corrigi-las.

E do mesmo processo emerge também uma Ana mais ativa, mais corajosa, disposta a dar a cara à tapa – é o que se faz quando se publica – mas que, finalmente, parece ter compreendido que, por melhor que se faça, não há como agradar a todo mundo. Seja na escrita ou na vida.

Algumas das minhas histórias só aparecerão a partir do ano que vem. Espero que vocês venham a lê-las e que dividam suas impressões comigo. Até lá, como um retrospecto do que foi o ano de 2010, deixo os links para alguns de meus trabalhos publicados na rede.

No site Contos Fantásticos, o anfitrião Afonso Luiz “Fantastic” Pereira serve minha receita especial em Fogo Brando. Leiam e lambam os beiços.

Antes do fim ou, talvez, Fins do Mundo que alguns esperam para breve, acessem o Café de Ontem do Júnior Cazeri, que no ano que vem lançará a revista virtual 1000 Universos.

E antes que o ano acabe, conheçam o segredo da Linha de Montagem de uma famosa fábrica no Pólo Norte, desvendado em um dos Contos Sobrenaturais de Anny Lucard.

Espero vocês lá. E, é claro, também aqui, nas prateleiras desta Estante Mágica.

Boas Festas e até breve!

Ana

quinta-feira, dezembro 09, 2010

Narrar, ser mãe, ser pai - Celso Gutfreind



Pessoas queridas,

Como vocês devem saber, adoro contar histórias, além de escrevê-las. Quem leu meus contos e romances já percebeu que quase sempre tem um narrador ou mestre de sagas - isso inclui Anna de Bryke e os marioneteiros Cyprien e Zemel - e quem conhece meu livro "Os Contos de Fadas" sabe que dedico um capítulo à arte de contar histórias, inclusive com o propósito da cura ou do suporte psicológico. Minhas referências nessa área, porém, sempre foram mais baseadas na escola junguiana, de resto seguida pelo Joseph Campbell e outros estudiosos dos mitos e histórias tradicionais.

Pois bem, acaba de me cair nas mãos o livro de um psicanalista que eu achei muito bacana. Pós-doutor pela Universidade Paris 6, o gaúcho Celso Gutfreind pesquisa a utilidade terapêutica da narrativa, e é também escritor, poeta, contador de histórias e pai. Em seu livro Narrar, ser mãe, ser pai, publicado pela Difel, Celso discorre sobre o processo psicológico da parentalidade, afirmando que não há pais à vontade se não contarem histórias... e que, para se tornarem psicologicamente disponíveis para seus filhos, os pais precisam estar à vontade com suas próprias histórias.

Eu já refleti bastante sobre isso e concordo tanto com a posição do Celso que até deixei de lado minha birra com os freudianos pra curtir esse livro, tão próximo da psicologia quanto da poesia e da literatura. E, sem dúvida, cheio da sensibilidade que deve ter um contador de histórias. É por isso que o recomendo.

Abraços a todos,

Ana