quarta-feira, outubro 09, 2013

Joaninha


O dia hoje tinha tudo para ser daqueles azedos. Preocupações, problemas a enfrentar, dor na cervical, efeitos colaterais dos remédios e ainda a chatice de ter de ir à sede do plano de saúde e pegar autorização para um exame. Aquelas coisas que fazem a gente se lembrar de que a vida não é uma viagem de férias.

Resmungando, fui até o local e peguei minha senha: 950. A telinha mostrava o número da vez em números verdes e quadrados: 913. Nada a fazer senão me sentar, abrir o caderno, escrever uma ou duas páginas de um texto que até que está indo, mas não tão bem quanto eu gostaria. Enfim.

Quarenta minutos depois, chegou a minha vez e me sentei diante de uma atendente jovem, chamada Dayanne. Expliquei a situação, peguei o requerimento, a carteirinha, quando vejo ela está erguendo o teclado do computador e olhando com atenção para baixo. Ia perguntar o que aconteceu, mas Dayanne se antecipou: era um bug. Não desses virtuais, mas um de verdade, aliás uma: uma ladybug, ou seja, uma joaninha minúscula, que tinha passeado ali por cima e ela vira desaparecer entre as teclas. E com a qual estava preocupada, pois não queria magoar o bichinho.

Na mesma hora, esqueci a pressa e tudo o mais e fui olhar também, procurando a joaninha. Não a localizei, mas isso me proporcionou a ocasião para falar da Luciana e da recomendação que sempre fazemos para ela estar com as mãos limpas quando mexe no computador, que assim não atrai bichinhos. E, como a carteira estivesse aberta, foi também ocasião para mostrar a foto da Luciana e para explicar que não, eu não sou budista (?) , a imagem do Ganesha que tem ali faz parte do meu "kit ecumênico" que inclui também uma invocação em runas, a figurinha de um lobo e a oração de São Francisco. Dayanne achou isso legal e comentou que o ambiente ali bem que precisava de tudo aquilo para dar uma clareada: de um padre, um pastor, um pai-de-santo e um monge budista. E um rabino, lembrei, enquanto ela, tendo desistido da caça ao bug, acabava de preencher os meus dados para a autorização.

E, quando ela acabou de me explicar para onde devia ligar daqui a 48 horas, quem aparece, feliz e saltitante, sobre o teclado? Claro, a joaninha. Um lembrete para que eu soubesse que a vida tem encrencas, mas que, com garra e bom-humor, a gente consegue voltar à tona. Peguei meus papéis e saí desejando bom dia a Dayanne e a sua amiguinha, que acabou ficando ali mesmo, talvez para um novo passeio através das letras e símbolos.

E eu vim pra cá sentindo que o dia, afinal, podia não ser tão ruim.

E contei esta história.

2 comentários:

Astreya disse...

Que texto querido e delicado, Ana. Eu sinto muito pela sua coluna e espero que você melhore logo. Que surjam mais joaninhas para te alegrar nos períodos difíceis, sempre :).

Kleris disse...

Que texto fofo, Ana. Gosto dessas histórias de pausas da vida para respirar um pouco. Eis que fiquei numa sala de espera hoje e, apesar de poucas reflexões, queria ter tido uma joaninha pra dizer Oi rs Mas quem sabe mais tarde já não veja uma barata e pense na joaninha? Contanto que ela não voe, claro, que aí o caso fica sério :DD