sexta-feira, outubro 04, 2013

Unicórnios


Pessoas Queridas,

Meio devagar por causa de uma crise de coluna, quero, assim mesmo, inaugurar as postagens de outubro falando sobre algo especial. No caso, um ser especial: meu animal fantástico preferido, sobre o qual tive a oportunidade de escrever um texto para Bestiário, coletânea de contos que organizei em parceria com a Ana Cristina Rodrigues para a Editora Ornitorrinco. Agora, partilho-o com vocês, apresentando sua Majestade da floresta... o Unicórnio!

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Ao contrário do cavalo alado, o unicórnio não surgiu pela primeira vez em relatos da mitologia ocidental, e sim em tratados de história natural provenientes da Grécia. O mais antigo é o de Ctésias, médico que viveu no século V anterior a nossa era, cujo relato descreve os unicórnios como “asnos selvagens”. No século seguinte, o filósofo Aristóteles (384 – 322 antes de nossa era) os associou ao órix, uma espécie de antílope.

Mais tarde, as palavras monoceros (significando “um chifre”) e rhinoceros (“chifre no nariz”) foram usadas para se referir ao unicórnio, que o romano Plínio, o Velho (23 – 79) dizia ter “corpo de cavalo, pés de elefante, rabo de javali e um longo chifre saindo da testa”. Provavelmente a descrição era a de um rinoceronte, animal que chegou a ser confundido com os unicórnios em algumas ocasiões.

Da Antiguidade, o unicórnio passou à Idade Média, durante a qual se tornou um dos animais mais representados em escudos, brasões e bestiários. Sua aparência nem sempre se assemelhava à de um cavalo dotado de chifre; era frequente que exibisse cascos e barbicha de bode, e, às vezes, cauda de leão. Segundo as lendas da época, os unicórnios habitavam as florestas profundas e eram solitários, juntando-se apenas durante o período do acasalamento. Os filhotes nasciam desprovidos de chifre e ficavam aos cuidados da mãe até serem capazes de viver sozinhos.

Os unicórnios eram famosos por sua ferocidade. Com seu chifre espiralado, enfrentavam leões e até mesmo elefantes. Por outro lado, podiam ser atraídos e pacificados por uma jovem donzela – uma lenda surgida com a literatura cavaleiresca, que fazia da criatura um símbolo de pureza e de virtude. Inúmeras pinturas e tapeçarias medievais retratam damas acompanhadas de unicórnios.
Outra crença, também ligada à pureza, atribuía poderes mágicos ao chifre: seu toque denunciaria a existência de veneno em uma bebida. Isso fez com que se pagassem grandes somas por “chifres de unicórnio” que na verdade eram de narval, um mamífero aparentado com a baleia. Mercadores do norte da Europa fizeram fortunas comerciando esses chifres.

Além dos bestiários e dos romances, tratados de alquimia também mencionam os unicórnios, que para eles simbolizam o elemento mercúrio e a união entre os princípios positivo e negativo. Já para os chineses, o unicórnio – ou sua versão local, chamada ki lin – é um animal sagrado, ligado à honra e à justiça e cuja aparição se dá antes do nascimento ou da morte de um grande homem.

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Inúmeras páginas da literatura se ocupam de unicórnios. Uma das obras mais conhecidas do gênero fantástico é "The last unicorn", de Peter Beagle, que não teve tradução no Brasil, mas virou longa de animação dirigido por Jules Bass e Arthur Rankin, Jr. (ainda vou falar do filme e do livro na série Memórias de Leitora). O mesmo Beagle organizou uma coletânea sobre unicórnios, em dois volumes, chamada "Immortal unicorns". Uma busca na Internet revelará dezenas de livros e séries em que os unicórnios ocupam papel fundamental, incluindo a recente coletânea "Zumbis X unicórnios", organizada por Holly Black e Justine Larbalestier, e o primeiro volume da série de Diana Peterfreund, que no original se chama "Rampant" (menção a uma posição adotada por um animal representado na heráldica) mas aqui saiu como "Caçadora de unicórnios". Nesse livro retoma-se a ideia de que os unicórnios são perigosos, violentos e até traiçoeiros, e não as criaturas nobres com as quais nos acostumamos ao ler fantasia contemporânea. Muito menos os bichos fofinhos que dançam ao redor dos arco-íris. :)

Quanto a mim, além do conto do Bestiário, menciono unicórnios em um episódio de meu livro Pão e arte e em um conto ainda inédito chamado O Potro dourado. Todas essas histórias giram em torno de um núcleo de protagonistas, a família do saltimbanco Zemel, que vive em Pwilrie, no leste de Athelgard. Aqui, os unicórnios tendem a ser dóceis, embora não exageradamente fofos... e algo me diz que ainda reservam algumas surpresas aos leitores da série iniciada por O Castelo das Águias.

É só esperar um pouquinho.

Abraços - e até a próxima!

2 comentários:

Vânia Vidal disse...

Oi, Ana,

Dos animais fantásticos, esse é um dos que mais gosto. Recentemente ganhei uma camiseta com um, que amei, etc.

É um animalzinho muito simpático, pena que não posso vê-los.

beijos,
vania

Laísa Couto disse...

"Os unicórnios eram famosos por sua ferocidade. Com seu chifre espiralado, enfrentavam leões e até mesmo elefantes."

Lembrei uma passagem de Stardust de Gaiman, o duelo entre um unicórnio e um leão.