quarta-feira, julho 07, 2004

Contar Histórias: um improviso

Oi, Pessoal!! Tudo bem?

Então, aqui estou eu para falar um pouco sobre o ato de contar histórias. Ou talvez seja melhor dizer: a arte de contar histórias. Pois essa é, na verdade, uma arte, talvez a primeira que surgiu, na tentativa de dar voz e forma ao que se passava no interior da alma dos homens.

Os primeiros contadores de histórias eram, possivelmente, xamãs e feiticeiros, ou talvez seus precursores: pessoas a quem se atribuía algum tipo de poder que lhes permitia o contato com o mundo invisível. Suas narrativas eram vinculadas aos mitos de criação e aos dramas do cotidiano, que recriavam por meio de palavras, a fim de que seus ensinamentos pudessem ser transmitidos e perpetuados pelas gerações futuras.

Surgiram, assim, as primeiras cosmogonias, as primeiras mitologias; sem dúvida, surgiram também o ritmo e a métrica, o poema e a canção. Isso porque todas essas artes, conforme se observa até hoje nas sociedades tradicionais, estão profundamente entrelaçadas. Dança, música e cantos estão presentes nos rituais, como os da iniciação e da caça, e os mitos e histórias não são apenas narrados, mas recitados. Mesmo nas primeiras civilizações, as histórias eram contadas por meio de rimas e de música. A Epopéia de Gilgamesh é um poema, assim como a Odisséia de Homero e o Beowulf dos saxões. Gregos, celtas, vikings e árabes, todos eles conheceram a poesia antes da prosa, e a tradição foi mantida ao longo da Idade Média pelos trovadores, prolongando-se, ainda, através da cultura popular da Europa e de suas colônias do Novo Mundo. Mais tarde, a narrativa assumiu características próprias, principalmente nas sociedades modernas; mas os contadores de histórias contemporâneos muitas vezes se utilizam de recursos comuns à música, à poesia e ao teatro para transmitir sua mensagem. E onde digo transmitir, poderia perfeitamente dizer... compartilhar.

Pois esse não é um ato intelectual, mas espiritual e afetivo. Por isso, as melhores histórias não são lidas ou ensaiadas, mas contadas espontaneamente, a partir do que carregamos em nossa bagagem de cultura e de experiência de vida. Independente de qualquer sentido, contar histórias pressupõe antes de tudo a vontade de falar do que se sabe, de doar sabedoria e conhecimento, de passar adiante aquilo que se aprendeu. Mais simplesmente ainda: contar histórias é aumentar o círculo. E, mesmo na falta de uma fogueira, ou dos fogões a lenha de nossas avós, podemos fazê-lo aqui e agora, partilhando nossas histórias, lançando fios invisíveis que nos unem numa só rede.


Escrito de improviso no catamarã e na Biblioteca Nacional (de propósito, porque bons narradores trazem as histórias no coração!) :)

Leituras que inspiraram este texto:

CAMPBELL, Joseph. O Poder do Mito. Ed. Palas Athena.

SAWYER, Ruth. The Way of the Storyteller. Ed. Penguin USA.

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Então, este foi meu improviso, meu repente, sobre a arte de contar histórias... Espero que vocês tenham gostado!

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