O vento ainda soprava quando Mikela saiu da tenda. Em volta do acampamento, a chuva tinha deixado seus sinais: folhas lustrosas e gotejantes nos arbustos, galhos partidos, nuvens espessas e baixas no céu sombrio. As tendas tinham resistido, mas o toldo que protegia o fogão de pedras desabara, e um caldeirão, esquecido ali pelas mulheres, transbordava com a água da chuva. Que bom seria, pensou Mikela, se em vez disso pudessem vê-lo sempre cheio de comida!
Recolhendo as saias, ela se agachou sobre as cinzas molhadas, esvaziou o caldeirão, ouvindo o rumor da conversa na tenda vizinha. Então, o marido de Blanche já tinha voltado, assim como o outro caldeireiro, o gordo Samael. Talvez tivessem vindo mais cedo por causa da chuva. Isso não era bom, pois certamente queria dizer que não tinham achado trabalho, mas era o que qualquer homem sensato teria feito. Qualquer um, até um cabeça-dura como Estienne. E, de fato, se os seus olhos não a enganavam, era ele mesmo que vinha vindo, puxando o cavalo pelas rédeas, enquanto Estin se encolhia sob uma manta no alto da carroça.
- Alô, mãezinha! - O vento trouxe até ela a voz alegre, não a do filho, mas a do marido. Graças a Deus, pelo jeito de falar, ele tivera sorte. Molhado até os ossos, ele veio ao encontro da mulher, deixando que Estin conduzisse a carroça até o abrigo das árvores.
- Conseguimos trabalho - foi logo dizendo Estienne, antes de beijá-la. - É numa fazenda aqui perto, precisam de vários consertos e de algumas ferramentas. Há trabalho para uns cinco dias, talvez mais. E eu já trouxe uma parte do pagamento. Consegui até um frango. Há quanto tempo seus filhos não vêem carne, hem, mãezinha?
- Há muito, mas não morreram por isso e hoje vão comer bem - disse Mikela, e o homem sorriu, pois tinha ouvido o que esperava. Mão na mão, os dois olharam em torno, contemplando sua única riqueza. Agnès, de quatro anos, que brincava ao lado da tenda com a prima Amine; Lorenz, ensaiando os primeiros passos; Estin, ocupado em secar o pêlo dos cavalos com a ajuda do amigo Samy. E nesse momento os olhos do pai se estreitaram, percebendo a ausência cada vez mais comum nos últimos tempos.
- Onde está o Zemel? - Uma censura, mais do que uma pergunta. - Até onde eu sei, é tarefa dele tratar dos cavalos.
- É, sim. Mas ele não está aqui. Ele foi até a aldeia, logo depois que vocês saíram. Deve ter ficado em algum lugar, esperando passar a chuva.
- Hah! Eu sabia! - resmungou Estienne. - Perambulando por aí, como sempre. É disso que ele gosta.
- Ele foi tentar a sorte - disse Mikela. - Você sabe que ele faz o melhor que pode.
- O que não é muito.
- Não é culpa dele. E também não é culpa de meu pai - acrescentou ela, em tom defensivo. - Ele não queria ter ficado aleijado como ficou. Não queria ter parado de treinar Zemel. E, se ele diz que devíamos ir para Pwilrie...
- Ah, não! Não de novo!
- ... Então, talvez devêssemos tentar, ao menos por algum tempo - insistiu Mikela. Contrariado, Estienne sacudiu a cabeça, deixando claro que não queria falar no assunto, embora ambos soubessem que não podia ignorá-lo. Não se quisesse o bem de Zemel, como queria o dos outros filhos. E no entanto aquilo podia representar um golpe duro para toda a família.
- Vamos pensar nisso numa outra hora - disse Mikela, por fim, diante da obstinação do marido. - Vamos pegar as coisas que você trouxe e acender o fogo. Você e Estin vão se secar e mudar de roupa e eu vou começar a fazer um ensopado. Você vai se sentir bem melhor, vai pensar melhor... assim que tiver posto alguma coisa dentro da barriga.
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