quarta-feira, novembro 09, 2011

As Viagens Mágicas de Ana


Tempos atrás, revisitando as minibiografias que acompanham meus contos e artigos, percebi que tenho dado ênfase à minha paixão por viagens. Descrevo-me como uma ex-mochileira que virou ecoturista (categorias não mutuamente excludentes) e pelo menos uma vez cheguei a mencionar roteiros culturais.

De certa forma isso pode ser visto como uma tentativa de me dar a conhecer, ou mesmo estabelecer um vínculo com meu leitor em potencial: talvez ele simpatize comigo se partilharmos um interesse. E talvez haja uma razão, ainda que inconsciente, para eu ter escolhido falar sobre isso, quando há tantas outras coisas de que gosto – uma razão que se tornou mais clara à medida em que fui avançando nestas linhas. Pois é, por que dizer que curto viajar? Qual a relação entre as viagens e a literatura fantástica, ou, melhor ainda, qualquer tipo de literatura?

A resposta salta aos olhos: a ligação é enorme. E antiquíssima, se pensarmos na literatura desde os seus primórdios. Com o surgimento da linguagem, as viagens e deslocamentos deviam fazer parte de quase todas as narrativas: fugas, migrações, expedições de guerra, caça e exploração de novos territórios, que culminavam com o retorno vitorioso dos heróis. Essas histórias ancestrais se constituem na matriz de todas as mitologias e narrativas épicas, desde a Gesta de Gilgamesh às sagas vikings, sem esquecer a grande viagem que é contada na Odisseia. Mais tarde, trovadores e saltimbancos – muitos deles itinerantes – cantariam as proezas dos cavaleiros, enquanto Chaucer nos levava a trilhar a estrada de Canterbury e Dante os círculos do Inferno.

Então, de repente, os horizontes se alargaram. Do Oriente e do Novo Mundo chegavam relatos de viajantes, fantasiosos ou não, que povoavam nossos sonhos e semeavam o desejo de aventura. Mitos, lendas, narrativas de todos os tipos e origens vieram se somar ao caldeirão do nosso imaginário, incrementando a poção mágica da qual bebemos até hoje.

De lá para cá, a estrutura das histórias nem mudou muito. O cenário e os personagens variam, mas, no fundo, é sempre uma jornada, seja a do herói ou a do anti-herói. Nós a encontramos em lendas e narrativas épicas; em contos maravilhosos e de fadas; em Marco Polo, Andersen e Cyrano de Bergerac. Para entrar num terreno mais conhecido, Júlio Verne – que muitos acreditam jamais ter saído do seu gabinete – precisou fazer-se ao mar para criar o Capitão Nemo, herói de uma das suas muitas viagens fantásticas. A ficção científica, aliás, está repleta delas, seja no fundo do mar, ao centro da terra, pelo espaço ou através da linha do tempo. Isso vale também para a fantasia, em que frequentemente se empreende uma busca, tal como outrora a dos argonautas e a do Graal. E nós a acompanhamos, roendo as unhas, a cada passo (ou página) da história.

Creio ser essa a cumplicidade que busco com o meu leitor. Tal como outros escritores, entre eles meus amados Hesse e Jack London, sou aficcionada por viagens, mas elas significam muito mais do que uma oportunidade de espairecer e conhecer novos lugares. Viajar, para nós, é encontrar inspiração, imaginar enredos e cenários, deixar-se contagiar por cheiros, sons, imagens que depois traduziremos em palavras. Em suma, é algo fundamental para o processo de escrita, e – o que é melhor – algo que podemos facilmente compartilhar.

Porque, não importa a história ou o gênero, todo leitor é um viajante.

E nada nos deixa mais felizes do que vê-lo participar de nossas aventuras.

Texto escrito originalmente para a revista virtual “Fantazine”, cujo segundo número não chegou a ir ao ar.

2 comentários:

Marli Carmen disse...

Adoroooooooooooooo!!!


Oi, tem Votação!
Qual é o melhor slogan para divulgar meu livro no natal?
Você decide!
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Vânia Vidal disse...

Ana, ana, ana...

Concordo com você quando diz que vianges são fundamentais para o trabalho do escritor. Sabe que para mim, que sou uma pessoa inquieta, que detesta permanecer em um lugar por muito tempo, tem muitas idéias - e muda de idéia constantemente too - as viagens sempre tiveram um cunho existencial. Eram uma necessidade, são ainda, porém a vida tem me feito ficar fincada na minha torre de marfim. Graças aos deuses isso não durará muito e estarei na estrada novamente. Acho que sempre estive, pelo menos em pensamento. Quem sabe numa dessas idas e vindas não nos esbarramos? Talvez na Escandinávia... ou na Irlanda?
bjos
Vânia