quinta-feira, novembro 03, 2011

Rabindranath Tagore


Pessoas Queridas,
Hoje, na Biblioteca Nacional, precisei catalogar um documento em páli, um idioma indoeuropeu que atualmente é estudado com o fim de decifrar e interpretar textos budistas (antes que alguém pense que eu sei ler em páli, não se precipitem: bibliotecários descrevem documentos com base em dados fornecidos pelos doadores, instrumentos de pesquisa e outras fontes, não necessariamente precisam ler aquele idioma. Ufa!).

A peça é linda, escrita em preto e ouro sobre folha de palmeira laqueada. Para quem vier ao Rio, vale uma visita aqui ao Setor de Manuscritos, sem falar que se me avisarem antes podemos tomar um café; mas não é desse documento que eu quero falar, e sim num autor de que me recordei, depois de muito tempo, devido a uma confusão inicial com os idiomas.

O autor é Rabindranath Tagore, que viveu entre 1861 e 1941 e não escrevia em páli, mas sim em bengali, tendo se afirmado como o mais importante nome dessa literatura. Autor de dramas, hinos, poemas, contos e romances, foi um grande batalhador pela arte e pela cultura bengali, defendendo principalmente o entrelaçamento entre a música e a poesia – compôs cerca de 2.000 canções, fundindo a música hindustani a tradições folclóricas de diferentes partes da Índia, sobretudo de Bengala, sua terra natal.

O prestígio de Tagore não se limitou à Índia. Em 1913, ele se tornou o primeiro autor asiático a receber o Prêmio Nobel de Literatura; dois anos depois recebeu da Coroa Britânica o título de Sir, ao qual renunciou em 1919 como forma de protesto à política britânica no Punjab. Mas Tagore não ficou sem título nenhum: além do Nobel, recebeu de seu amigo, o Mahatma Gandhi, a denominação de Sentinela da Índia. Outro admirador foi William Butler Yeats (já contemplado com um post aqui na Estante), que escreveu a apresentação da edição inglesa de Gitanjali, um dos mais famosos livros de Tagore.

Anos atrás, li alguns contos e poemas de Tagore traduzidos para o português, e fiquei com uma ótima impressão. Agora, lembrando-me dele, fui procurar material na rede e me deparei com uma preciosidade: um livro inteiro colocado à disposição do público. A tradução do bengali para o inglês é do próprio autor, de forma que é quase como ler no original. E ainda tem belas ilustrações, que casam perfeitamente com a prosa poética desse The Crescent Moon.

Espero que vocês tirem uns minutinhos para passar os olhos pelo livro. Vale a pena. E só para dar um gostinho separo aqui meu poema predileto, que fala... bom, de fadas, é claro. De que mais? :)

FAIRYLAND

If people came to know where my king’s palace is, it would vanish
into the air.
The walls are of white silver and the roof of shining gold.
The queen lives in a palace with seven courtyards, and she
wears a jewel that cost all the wealth of seven kingdoms.
But let me tell you, mother, in a whisper, where my king’s
palace is.
It is at the corner of our terrace where the pot of the tulsi
plant stands .
The princess lies sleeping on the far-away shore of the seven
impassable seas.
There is none in the world who can find her but myself.
She has bracelets on her arms and pearl drops in her ears; her
hair sweeps down upon the floor.
She will wake when I touch her with my magic wand and jewels
will fall from her lips when she smiles.
But let me whisper in your ear, mother; she is there in the
corner of our terrace where the pot of the tulsi plant stands.
When it is time for you to go to the river for your bath, step
up to that terrace on the roof.
I sit in the corner where the shadow of the walls meet
together.
Only puss is allowed to come with me, for she know where the
barber in the story lives.
But let me whisper, mother, in your ear where the barber in
the story lives.
It is at the corner of the terrace where the pot of the tulsi
plant stands.

....

Bons sonhos e até a próxima!

2 comentários:

Vânia Vidal disse...

Li muito Tagore ao longo de minha adolescência budista. The crescent Moon é um livro muito bonito, já nem lembrava mais que existia. Sei que ainda tenho alguns livros dele pela casa, mas quase tudo o que eu tinha em páli, ou em bengali já fora doado. No original só ficaram algumas escrituras e parcos textos religiosos. Minhas estantes são repletas de coisas assim, em línguas esdrúxulas, de diferentes procedências e sonoridades. Do oriente e do ocidente.

bjs Vania

Ana disse...

O que mais me lembro de Tagore é um conto numa antologia de contos indianos da Ediouro. Fala sobre um órfão chamado Nilcanta (um dos nomes do Senhor Shiva) e sua delicada relação com a família que o acolhe.

Meu pai comprou nos últimos anos algumas traduções de Tagore, não sei se permanecem na estante. Quanto aos livros em páli ou bengali, só mesmo na Biblioteca Nacional. :)