Procurando um lugar na barca, percebi, na bolsa de uma passageira, um brilho verde fosforescente. Atravessava a trama do tecido, como se ela houvesse capturado um vagalume. Fechei os olhos antes de chegar mais perto e descobrir que se tratava de algum badulaque de metal. Para que, tão cedo, um choque de realidade?
Então, achei um lugar vazio entre uma janela e um idoso que lia um texto fotocopiado. Peguei meu caderno, querendo espremer ao menos algumas palavras no tempo da travessia, mas antes de começar não resisti a dar uma olhada por sobre o braço do vizinho. Seriíssimo, ele lia sobre as catástrofes que nos aguardam no Dia do Arrebatamento, quando os justos serão separados dos pecadores. Suspirei e voltei ao meu livro inacabado de fantasia, sabendo que o senso comum me vê da mesma forma que a esse senhor.
Dois malucos.
Um comentário:
O senso comum é o maior inimigo da imaginação. Sempre fugi dele como o diabo, da cruz. Ás vezes acho que estou perdendo as forças, cansando de correr e que ele finalmente vai me alcançar. Quando isso acontece, normalmente vem uma brisa reconfortante que recarrega minhas energias e eu volto a me distanciar dele. Gostei do conto! =)
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