segunda-feira, dezembro 20, 2004

Top 20 2004 (final)... e até 2005!!

Oi, Pessoas! Tudo bem?

O post de hoje vai ser um pouco longo, porque será o último do ano. Luciana entra de férias no dia 22, depois vem o Natal, uma viagem a Caxambu (charrete, pedalinhos... um bom lugar para levar crianças!), e ainda o Réveillon, que vai ser aqui em casa. Vou ficar afastada da rede até Janeiro, e não queria deixar a Série Top 20 inconclusa até lá. E sendo assim... Vamos a ela!

1. Chapeuzinho Vermelho em Manhattan, de Carmen Martín Gaite. Mais uma releitura do conto de fadas, tendo como pano de fundo o direito à liberdade de escolher nosso próprio caminho. A protagonista é uma menina do Brooklyn que idolatra sua avó, uma cantora aposentada, detentora da receita de uma torta de maçã que desperta o interesse do solitário Mr. Edgar Woolfe, dono da confeitaria “O Doce Lobo’. As dúvidas, angústias e escolhas da Chapeuzinho Urbana são admiravelmente enoveladas em torno da velha e sempre deliciosa trama. Para ler e reler.

2. O Assassino Cego, de Margaret Atwood. A esposa de um magnata e sua irmã se envolvem com um fora-da-lei cuja especialidade são as histórias baratas de fantasia e ficção científica. Uma delas, a do Assassino Cego, é narrada à medida que se desenvolve a história dos protagonistas, e ambas contam com a mestria de Atwood para torna-las imperdíveis. Ah...! E tem uma surpresa no final... mas eu não vou estragá-la, OK?

3. Praça do Diamante, de Mercè Roboreda. Sensível retrato de uma mulher na Barcelona dos anos 30, quando a Guerra Civil influi profundamente nas vidas, amores e famílias de toda a Espanha. Cada pequeno acontecimento é narrado com tal harmonia e riqueza de detalhes que, no final, a impressão não é a de ter lido um livro, mas admirado um quadro. Muito bom!

4. Contos Romanos, de Alberto Moravia. Escrito há várias décadas, este livro continua divertido e delicioso de ler. O retrato dos tipos e da vida dos subúrbios de Roma mostra, ao mesmo tempo, o poder de observação, o talento literário e a capacidade de Moravia de penetrar na alma dos personagens. Impossível, ao ler, não descobrir ali semelhanças com muitos de nossos conhecidos... Ou quem sabe até mesmo com a gente?

5. Sei Lá, de Margarida Rebelo Pinto. Primeiro livro da autora, de quem já se publicara no Brasil Não Há Coincidências e que vem sendo chamada de "a Bridget Jones portuguesa". Com uma diferença: as personagens de Pinto não são do tipo "boazinhas e desastradas" nem fazem troça de si mesmas. São mulheres independentes, com pouca ou nenhuma auto-ilusão e línguas ferinas, além do incomparável "jeitinho português". E para mim, que já vivi lá (ou melhor, que já lá vivi), o reencontro com o calão (as gírias) e os sítios (lugares) conhecidos é muito porreiro... ou seja, muito legal! ;)

6. Sacred Ground, de Bárbara Wood. Mais um daqueles romances históricos que eu adoro, onde se misturam Antropologia e tradições dos nativos americanos. Na Califórnia, os objetos encontrados nas várias camadas de uma escavação são o ensejo para reconstituir a história de uma linhagem de mulheres fortes e intuitivas. A trama é batida, mas a narrativa é boa e prende, embora o desfecho não convença muito. Entretanto, é melhor que a média no gênero. Ah! E foi traduzido no Brasil, com o título de Solo Sagrado. Mas eu só descobri depois de comprar a versão pocket.

7. Diário de Lô, de Pia Pera. A história de Lolita, de Nabokov, é relida, dissecada e recontada com as palavras de ninguém menos que... É claro...! Lolita!! Com a sensibilidade, o mau-humor e a crítica arrasadora comum nos adolescentes, ela desconstrói sua relação com Humbert Humbert (aqui chamado Guibert) e cria um novo e surpreendente romance. Não percam... mas não deixem de ter o original por perto. Vocês voltarão muitas vezes a ele, com certeza!

8. A Cidade das Feras, de Isabel Allende. Primeiro "livro para jovens" da autora de A Casa dos Espíritos e vários outros best-sellers, conta a história de Alex e Nádia, dois jovens que participam de uma expedição à selva amazônica e se deparam com a tentativa de exploração da terra por empresários gananciosos. O encontro com o xamã Walimai (que aparece nos Contos de Eva Luna) e com o misterioso Povo da Neblina leva Alex e Nádia a uma busca de visão: uma jornada xamânica em busca de autoconhecimento e do contato com seus animais de poder. O final é meio precipitado, mas mesmo assim é um bom livro para quem gosta de aventura, fantasia e ficção com um fundo de espiritualidade.

E agora, de uma só vez, aqui vão duas menções honrosas:

1. Melhor livro de contos:

Os Melhores Contos do Faroeste, organizado por Jon E. Lewis. Um panorama abrangente do gênero, desde as primeiras incursões no século XIX até os trabalhos mais recentes (o último é de 1986). Ao longo do volume, pode-se observar as mudanças de perspectiva quanto aos tipos retratados - xerifes "durões" passando a usar mais o raciocínio para resolver problemas, mocinhas menos indefesas - e também na relação com a terra e os nativos, que, antes inimigos, passam a ser vistos de forma mais humana, embora não sem estranheza. Faz parte do livro o conto Um Homem Chamado Cavalo, de Dorothy M. Johnson (levado à tela em 1970 com o mesmo título), que, sozinho, já seria um bom motivo para ler a obra. Mas a maior parte dos outros textos também é de primeira qualidade. Vale a pena.

2. Melhor romance:

Ali e Nino, de Kurban Said. Este é um dos romances mais peculiares e controversos do século XIX. Publicado em 1937, ele narra uma história de amor que transcende fronteiras, e cujo próprio cenário já prenuncia o conflito: a cidade de Baku, no Azerbaijão, a fronteira da Europa no extremo Leste. A história se passa durante a Revolução Russa e a grande indagação - Baku passará a fazer parte da Europa ou continuará a pertencer à Ásia? - repercute no relacionamento entre o nobre muçulmano Ali Khan Chirvanchir e sua amada, Nino Kipiani, filha de um comerciante cristão da Geórgia. O choque entre as culturas, o panorama efervescente e a necessidade do casal de fazer escolhas e concessões para afirmar seu amor garantem um livro cheio de surpresas e reviravoltas, além de muito bem escrito... e, de certa forma, atual na previsão das guerras que ocorreriam no Oriente Médio e no Leste Europeu. Simplesmente imperdível!

.......

Bom, Pessoas... Eu disse que o post seria "um pouco" longo... mas não esperava que fosse tanto. Vou ficar por aqui, desejando a todos um feliz Natal, muita energia e inspiração no Solstício (dia 21 às 12:43, hora de Londres) e um final de ano repleto de paz e harmonia. Que 2005 possa trazer coisas boas a todos nós, a toda a Humanidade, a todo o Universo!

Abraços pra vocês,

Até Janeiro!

Ana Lúcia

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