sexta-feira, maio 05, 2017

Para Quintana



Não lembro muito bem, mas creio que deve ter sido na primeira vez que visitei Porto Alegre com o então namorado João. Curiosamente, apesar de sermos do Rio, sem raízes gaúchas, nós dois curtíamos música nativista, e nessa viagem fomos assistir a um show do cantor João Chagas Leite. Nessa ocasião ouvi a linda canção Ave Sonora, ainda mais linda por homenagear um dos meus poetas favoritos, Mário Quintana – que foi jornalista, traduziu mais de cem livros, viveu solitário pela maior parte da vida e morreu na pobreza. Concorreu três vezes a uma vaga na Academia Brasileira de Letras, mas, apesar dos muitos poemas e muitos prêmios – inclusive da própria ABL --, nunca foi eleito. Razões alheias à magnitude da obra, como diz a letra de “Ave Sonora”, da autoria de Gilvan Retamoso Palma:

Ave sonora, saiba que agora
Não há censura nem linha dura pr'esta passeada
Ave sonora, vamos embora
Que a academia é só mania de quem tem plata
Que a academia é só mania de quem tem plata

Seja como for, hoje faz 23 anos que Mário Quintana se foi para o céu dos anjos e dos cata-ventos. Já o homenageei, anos atrás, com um poema que me recorda os saltimbancos de Athelgard, agora deixo aqui a canção dos conterrâneos e ainda um dos meus poemas favoritos. Conhecido, lá em casa, como o "Poema da Cabrinha".

A Canção da Menina e Moça

Uma paisagem com um só coqueiro.
 Que triste!
 E o companheiro?

Cabrinha que sobes o monte pedrento.
Só, contra as nuvens.
Será teu esposo o vento?

O meu esposo há de cheirar a tronco,
Como eu cheiro a flor.

Um coração não cabe num só peito:
Amor... Amor...

Uma paisagem com um só coqueiro...
Uma igrejinha com uma torre só...
Sem companheira... Sem companheiro...
Ó dor!

O meu esposo há de cheirar a tronco,
Como eu cheiro... como eu cheiro

A amor...

Nenhum comentário: