quinta-feira, novembro 05, 2015

Quando For Assim


          A Mulher Grisalha não tem qualquer problema com falares, sotaques e jeitos coloquiais. Tolera a maior parte das gírias e vícios de linguagem, aliás cultiva alguns em seu próprio jardim, e compreende a inevitabilidade dos jargões de ofício. No entanto, há expressões que a desgostam, e é esse o caso do “Quando For Assim”.

           Essas três palavrinhas parecem amigáveis, mas escondem uma realidade terrível: a da censura velada à sua forma de resolver problemas, quando não ao seu direito de opinar e até de pensar.  Claro que às vezes a intenção é a melhor e a orientação é necessária, mas o uso da expressão, principalmente quando é dita em tom condescendente e acompanhada de um braço ao redor do seu ombro, acaba com qualquer possibilidade de gratidão. Você tem sua percepção, raciocínio e atitudes questionados: ok, você estava sozinha para resolver esse e aquele problema, ninguém soube te dar informações ou você não tem meios para fazer algo do jeito canônico, mas, quando for assim, siga o procedimento X, mesmo que tenha conseguido fazer o que precisava de um jeito muito mais simples.

Ou: é proibido/impossível, mas, quando, for assim, fale comigo que eu arranjo tudo.

Ou ainda (essa está nas entrelinhas e é a pior de todas): ninguém te deu retorno sobre nada, mas, quando for assim, você deve ser capaz de adivinhar exatamente o que se passa na cabeça dos outros e agir de acordo com os que eles esperam. Se não, cadê sua inteligência? Cadê sua boa vontade e capacidade de observação? Cadê, ó Mulher Grisalha, cadê seus superpoderes?

Enfim, são palavrinhas camaradas, mas deve haver alguma vibração cósmica no som, fico incomodada sempre que escuto. E o resultado é que uso este espaço, que devia ser de uma crônica, para um desbafo, ou um mimimi, aliás outra palavra corriqueira que me dá nos nervos. Sei que é chato vir aqui e se deparar com isso; peço desculpas.


E prometo que, quando for assim, avisarei no subtítulo do texto para que vocês possam fechar a página. 

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