quinta-feira, julho 12, 2012

G de Grenouille


Pessoas Queridas,

Conforme o prometido, aqui estou eu dando prosseguimento à série Memórias de Leitura. Desta vez é com um livro lido já bem perto dos 20 anos: O Perfume, de Patrik Suskind.

O autor é alemão, mas a obra e ambientada em várias regiões da França - e no século XVIII, que deve ter sido o mais cheiroso de toda a História. No bom e no mau sentido. Com o crescimento das cidades, não acompanhado pela melhoria de infra-estrutura nem pelo que seria uma salutar mudança nos hábitos de higiene, as pessoas cheiravam muito, mas muuuuito mal. Até o Rei, segundo o autor, cheirava como um animal de rapina e a rainha como uma cabra velha (sim, eu sei várias frases desse livro de cor de tanto que o reli). Para "compensar", porém, usava-se muito perfume, no que os franceses sempre foram especialistas; e é justamente um perfumista o personagem principal do livro.

Jean-Baptiste Grenouille veio ao mundo por trás de uma banca de mercado, onde sua mãe estripava peixe. Ela o deixou onde caiu e esperava que ele morresse, mas o bebê foi encontrado e levado para um estabelecimento, comum na época, em que os órfãos eram mantidos (com o mínimo de recursos possível) para depois serem absorvidos pela força de trabalho, caso sobrevivessem. Isso aconteceu com Grenouille, mas ele possuía duas características que o tornavam especial: não tinha cheiro corporal nenhum e, por outro lado, era capaz de detectar o cheiro de qualquer coisa, até um componente desconhecido em meio a um perfume que misturasse várias essências.

Grenouille poderia ser um herói qualquer e fazer fortuna com sua habilidade – ele teria certamente conseguido isso – mas Suskind nos apresenta a uma situação bem mais intrigante. Associando o sentido do olfato à compreensão do mundo e sua tradução em sentimentos e em valores morais, ele torna Jean-Baptiste uma criatura singular, que causava prevenção e às vezes um certo asco em quem se aproximasse dele. Em contrapartida, era incapaz de amar, de se envolver e, ao que parece, até mesmo de odiar alguém.

Dentro dessa espécie curiosa de autismo e depois de algumas peripécias - destacando-se o destino trágico de todos aqueles que se envolveram com ele, principalmente seus patrões - Grenouille acabou por desenvolver um ideal: criar o perfume perfeito, composto por notas olfativas adoráveis, às quais ninguém pudesse resistir. Começou por extrair a essência de flores, para o que aprendeu algumas técnicas interessantes (amantes de romance histórico, isso é pra vocês!), mas logo percebeu que se sairia muito melhor se sua matéria-prima fosse... bem... um pouco mais humana.

Instigante, né? Também acho. Porém não vou contar mais sobre a trama, uma vez que não pretendo estragar a surpresa de quem não leu. No espírito desta série, direi apenas que o livro me fascinou, não só pelo protagonista - que eu imaginava ser daquele tipo de homem feio e atraente; nada do gnomo baixinho e de voz grasnante que o autor descreve – mas pela própria escrita, que me manteve presa a cada frase e a cada palavra. Suskind não se perde em grandes conjecturas, conta sua história de forma objetiva, mas a forma como o texto se desenvolve e o desenlace surpreendente fizeram desse um dos melhores livros que já li. Está na lista até hoje. Aliás, não sou só eu que penso assim: buscando na Internet confirmar a data da publicação (1985, a edição original), vejo que O Perfume foi considerado “o livro da década” na Alemanha dos anos 80.A Wikipedia diz que a informação carece de fontes, mas eu acho bem provável. É um livro maravilhoso.

E já que fui à Internet, aqui vai um pouco mais de informação. Em 2006, O Perfume foi levado às telas pelo cineasta alemão Tom Tykwer. Grenouille é vivido pelo ator inglês Bem Whishaw e o filme tem participações de Dustin Hoffmann e Alan Rickman (não como Professor Snape, embora Jean-Baptiste talvez gostasse de aprender a técnica das poções). É um bom filme, mas para quem quiser realmente curtir a história, se envolver com ela, meu conselho é só um: leiam o livro. Sem a narrativa de Suskind, vocês não sentirão do perfume mais que um leve cheirinho. :)

....

Pessoas queridas, viajarei nos próximos dias e ficarei ausente da rede entre 14 e 21 de julho. Vou descansar, passear e planejar muita coisa legal para o próximo semestre. Espero que continuemos juntos quando tudo recomeçar.

Até lá - e um grande abraço a todos!

4 comentários:

Vânia Vidal disse...

Estava aqui lendo o seu texto e lembrando que certa vez, enquanto caminhávamos pela Feira do Livro, você me mostrou O Perfume e discorreu animadamente sobre ele. Eu, para variar, hesitei um pouco entre comprá-lo ou não,e me dei mal. Havia uma pessoa ao lado, que encantada com o que você havia dito, comprou o único exemplar na mesma hora. E o pior era que eu havia ficado curiosa com a História, que raiva eu tenho das indecisões dos meus neurônios!!! Suas dicas são quase sempre muito boas...devia ter acatado.
beijos,
vania

Astreya disse...

Eu já tinha ouvido falar nesse livro exatamente por causa do filme, Ana. Não assisti o filme nem li o livro, mas pelo que você falou, vale muito a pena. Mais um que vai para a lista...

Angela disse...

Que legal Ana, também gosto bastante deste livro, embora tenha lido apenas uma vez ainda lembro de certas passagens do livro! Vendo seu post me deu vontade de reler =)

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