sexta-feira, outubro 06, 2006

F de Frodo (Parte 1: Aquisição)

Oi, Pessoas! Tudo bem?

Após (mais uma) longa ausência, eis-me aqui para dar prosseguimento à série Memórias de Leitura. Desta vez com uma obra que, tenho certeza, quem não conhece de livro conhece de filme: O Senhor dos Anéis, de J. R. R. Tolkien, com quase certeza o primeiro livro que li no gênero fantasia.

A história dessa leitura é a história da minha aquisição de proficiência na língua inglesa. Eu explico: aos 16 anos, no segundo ano do segundo grau do Colégio Marista São José – de onde vêm meus traumas com bullying, minha desconfiança relativa a colégios tradicionais e minha aversão à cor marrom-escura – eu nunca tinha feito um curso de idiomas, meu conhecimento do Inglês se resumindo às bases fornecidas por duas aulas semanais. A estrutura da língua é relativamente simples, por isso eu conseguia ler os textos mais fáceis, mas quando estes eram um pouco mais complexos eu tinha muita, muita dificuldade. Ao mesmo tempo, meu interesse por Mitologia, Folclore e temas correlatos estava se “refinando”, o que demandava leituras mais avançadas do que a enciclopédia de mitos legada por meu avô Jorge.

Nessa época – por volta de 1985 – chegou às livrarias uma versão traduzida de O Senhor dos Anéis, que foi anunciada nos jornais e recebida entusiasticamente pelos meus (poucos) amigos apreciadores de Literatura. Se era a edição da Martins Fontes, que hoje publica Tolkien no Brasil, ou uma edição portuguesa, ó pá, não tenho certeza. O que me lembro é que foi com a firme intenção de adquirir os volumes que, uma tarde depois das aulas, fui à Livraria Leonardo da Vinci, no Centro do Rio, acompanhada por um amigo que já era useiro e vezeiro naquelas duas salas.

(Para quem não é do Rio: a Da Vinci, que funciona no subsolo de um prédio comercial, é a mais antiga livraria de obras importadas da cidade, e na minha opinião é a melhor. Se a gente não tomar cuidado se perde lá dentro).

Então, lá estava eu, com a edição do Senhor dos Anéis nas mãos. Era cara, mas eu já tinha ido sabendo o preço e podia pagar, então não foi um choque muito grande. Também, era uma edição bonita, em três volumes, de capa dura... mas à qual, observou meu amigo, faltavam os mapas e glossários que ele conhecia de edições estrangeiras. E como, Ana de Deus, como você vai ler O Senhor dos Anéis sem mapas e glossários?

Enquanto discutíamos essa (im?)possibilidade, eu namorava, com os dedos e os olhos, uma outra obra que encontrei na mesma estante: um livro chamado Medieval Epics, publicado por uma universidade inglesa, que continha nada menos que quatro clássicos: “Beowulf”, “A Canção de Rolando”, “A Canção dos Nibelungos” e “El Cid”. Era um volume de umas 800 páginas, de capa dura, portanto achei que devia ser caro, mas – surpresa – era tão barato quanto um daqueles livrinhos da Ediouro que eu costumava comprar. Só não dava para acumular com O Senhor dos Anéis, pensei, com tristeza... que durou até o momento em que meu talentoso amigo resolveu o problema. Vendo que eu me dispunha a encarar os textos em Inglês, ele achou, duas ou três prateleiras abaixo, uma edição em pocket book do mesmo livro, também em três volumes, em papel ordinário é claro, mas que continha os – preccciosssos! – mapas e glossários. E que era mais barata que os épicos medievais. E que me permitiu não só adquirir as duas obras naquele dia, mas também juntar a eles um livrinho de contos de fadas escoceses e, ainda, convidar meu sábio e merecedor amigo para um delicioso milk-shake no Bob´s. Perfeito!

E aí, naquela noite, começou meu “mergulho” no Inglês. Um capítulo todas as tardes sem falta, e às vezes mais um à noite, sempre com o dicionário do lado, que eu usava quando não conseguia entender nem mesmo o sentido de uma frase. Se era só uma palavra que faltava, eu ia em frente: sempre fui adepta desse método mais solto. Pelas verdes colinas do Condado e nas Minas de Moria, na floresta de Tom Bombadil e na corte de Lórien, lá fui eu, caminhando sempre... até que, já sem precisar do dicionário, sem limitar a leitura diária a um ou dois capítulos, passei a seguir fervorosamente os passos de Frodo Baggins rumo a Mount Doom.

.......

Até aqui tudo bem? Espero que sim. Gastei uma página inteira falando sobre a aquisição da obra e de um segundo idioma, mas minhas memórias de leitura não ficam por aqui. Dentro de alguns dias voltarei, não para fazer um resumo ou uma análise de O Senhor dos Anéis - para isso há muitos especialistas – mas para falar sobre o impacto que a obra teve sobre mim, como leitora iniciante e futura escritora de fantasia.

Conto com vocês!

Abraços a todos,

Ana Lúcia

Nenhum comentário: