terça-feira, outubro 18, 2005

O Jogo do Equilíbrio: um trechinho pra dar gosto!

Giflet se adiantou a passos medidos, e, erguendo sua bola, fingiu fazer uma cuidadosa pontaria.

- Quem é nosso primeiro competidor? - perguntei, em tom sarcástico. - Um estudante?

- Giflet, estudante de Leis e o maior dos poetas de Pwilrie - respondeu ele. - E aquele que vai mandar para o chão você e os seus versos de pé quebrado.

- Ah! Boa sorte, jovem mestre! - repliquei, e me preparei para desviar. Giflet girou a bola acima da cabeça, três ou quatro vezes, ante a emoção do público. Por fim, atirou-a, mas tão desastradamente que nem precisei me mover. A multidão começou a rir, apontando o estudante que saía pisando duro, enquanto eu encolhia os ombros e falava como se estivesse desapontado.

- Ainda não foi dessa vez, pessoal... O próximo!

Mariotte abriu caminho para o segundo competidor, um ferreiro grandalhão que fez pontaria por muito tempo antes de atirar. Essa bola passou bem perto do meu quadril, obrigando-me a uma ligeira torção para o lado e arrancando aplausos da platéia. Agradeci e chamei o terceiro, o quarto e o quinto jogadores, cujas bolas não chegaram à altura da corda. O sexto competidor era um camponês alto e forte, e seu tiro foi tão preciso que me permitiu pegar a bola.

- Podemos ter mais um jogador! - anunciei, devolvendo-a para Andry. - Belo tiro, camarada! Obrigado!

- Mas era para derrubar você! - disse ele, e o seu desapontamento arrancou gargalhadas da multidão. A essa altura, eu já estava mais que descontraído, e comecei a brincar e a incentivar os jogadores. Mais de vinte se sucederam, artesãos, negociantes, estudantes, até uma mulher, que gritou com voz estridente antes de atirar:

- Isso é para você não se fazer mais de galo com as nossas filhas no Festival, seu safado!

- Oh-oh! - fiz eu, desviando-me facilmente. - Não sei quem são suas filhas, senhora, mas parece que foi por um triz que não ficaram sem galo!

Despejando uma torrente de impropérios, ela se afastou. Olhei triunfantemente para o próximo da fila, que se aproximava devagar da marca estipulada por Mariotte. Dentre todos os afetos e desafetos ali presentes, era a ele que eu dedicava meu espetáculo.

- Quem é o próximo? - perguntei, olhando-o nos olhos. - O nosso bom Rupert? Tem certeza de que é uma bola o que tem na mão?

- É uma bola, e vai acabar com a sua raça, bastardo sujo! - gritou ele, atirando furiosamente e às cegas. Como era de se esperar, a bola passou longe, e Rupert saiu quase correndo, sob as vaias da multidão que já se pusera francamente ao meu lado. Os próximos tiros foram ainda piores, e consegui pegar mais duas bolas, que Mariotte não demorou a trocar por moedas. Foram dois amigos que as compraram. Já não devia haver ninguém querendo me ver cair.

- O próximo! - gritei, e outra bola passou bem longe de mim e da corda. Fiz um floreio, acompanhando a trajetória, e chamei novo jogador; e foi então que, quando já não esperava mais por isso, o arremesso de um sargento da Guarda acertou em cheio a aba do meu chapéu.


......

Bom, Pessoas... Este é um trecho de "O Jogo do Equilíbrio". A narrativa é bem diferente da que usei em "O Caçador", como podem ver.

Adoraria que deixassem aqui seus comentários sobre o texto. E, como um pouquinho de propaganda não faz mal... se alguém quiser saber como o Cyprien vai sair dessa, o livro já está à venda através do meu e-mail: anamerege@ig.com.br.

Abraços a todos,

Até a próxima!

Ana Lúcia

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