quarta-feira, dezembro 04, 2013

O Brilho das Pequenas Coisas


Essa eu tenho que contar.

Como acontece pelo menos uma vez por semana, fui ao correio, aqui na Cinelândia, para postar livros pelo registro módico. A agência estava quase vazia, mas um segundo antes de mim chegou um rapaz bem novinho, de brinco na orelha, com uma caixa repleta de cartas que estendeu para o senhor no guichê.

- São 145 cartas simples, tentei arrumar o melhor possível pelos lugares de destino - disse ele, e em seguida perguntou se isso facilitava as coisas para o funcionário. Este foi categórico - claro que ajuda! - e começou a destrinchar as cartas, mas ao mesmo tempo me reconheceu como a frequente postadora de livros e perguntou se eu ia precisar de caixas. Sim, eu precisava. O senhor, então, pediu a uma colega que me ajudasse, o que no meu caso significa ouvir ponderações sobre o tamanho da caixa, escolher uma - hoje, aliás, tiveram de ser duas - dobrá-las, porque nunca consigo saber qual o A que junta com o B, e me lembrar pela milésima vez de que eu tenho de escrever que a caixa contém impressos e pode ser aberta pela ECT. Tudo com a maior paciência, simpatia e o direito a um "Tenha um bom dia!" pronunciado por todos os presentes quando saí.

Na porta da agência, uma moça de saia longa olhava para todos os lados como se estivesse indecisa. Perguntei se ela precisava de ajuda e aceitou com alívio: já tinha andado um bocado e não conseguia achar a Avenida Rio Branco. Pior senso de direção que o meu não existe, mas trabalho por aqui há 17 anos, então já aprendi onde fica a Rio Branco e pude mostrar direitinho a esquina onde ela devia atravessar. A moça agradeceu, cada uma foi para um lado, depois de atravessar na minha própria esquina virei para trás a fim de ver se ela estava na calçada certa.

Mas não estava. Porque no lugar onde já deveria ter atravessado havia uma senhorinha de aspecto humilde, segurando uma bengala. A moça tinha parado ali, esperava para ajudá-la a chegar do outro lado, o que fez assim que o sinal tornou a fechar.

Pois é. Talvez vocês me considerem piegas, ou achem que não é para tanto. Mas é nas pequenas coisas que eu percebo como as pessoas podem ser legais sem esperar nada em troca. E como cada elo dessa Corrente do Bem - ainda que descontínua, ainda que frágil - deixa nossos dias mais brilhantes.

...

Post ilustrado com imagem que encontrei em vários blogs. Se alguém souber a quem pertence, avise para eu conceder os créditos.

Nenhum comentário: