quarta-feira, dezembro 30, 2020

Minhas Leituras Favoritas em 2020 - Nacionais

 Pessoas Queridas,

Aqui estou de volta para o segundo post das leituras do ano. Desta vez, serão os nacionais, usando o mesmo critério: em ordem de leitura, não necessariamente de preferência. Até porque são obras muito diferentes umas das outras, que provocaram vários tipos de reações e reflexões. Mas o prazer de lê-las foi enorme em todos os casos. Vamos lá?



 Guirlanda Rubra, de Erick Santos Cardoso

Como ele mesmo afirma, o livro de estreia do editor da Draco levou quinze anos para ser concluído. E valeu a pena! O Erick soube contar uma boa história dentro de um universo de fantasia diferenciado, que tende para o capa-e-espada e para a Idade Moderna mais que para o medieval e agrega várias referências de forma natural, não forçada. É também um romance de formação, mostrando a jornada e a evolução de Garlando, um herói relutante, presa de um Dom que não desejava e movido por um amor idealizado. Recomendo muito!



Torto Arado, de Itamar Vieira Júnior

 O vencedor do Jabuti (merecidíssimo!) foi o primeiro livro que li ao se iniciar a quarentena. A ambientação e a construção dos personagens são impecáveis, a crítica social é inserida de forma precisa, e o melhor de tudo? Itamar conta uma história envolvente, que prende você e te faz querer saber o que acontece a seguir com aquelas irmãs, com aquelas pessoas, com aquela comunidade. Quem não leu, faça a si mesmo um favor e leia, é realmente muito bom.



Ana de Corona, de Gisele Mirabai

Sabem aquela escrita que conversa com você? Aquele jeito de contar uma história que parece te envolver, aqueles personagens absolutamente críveis, aquele protagonista com quem você se identifica? Esse livro traz isso. Foi escrito no início da pandemia, quando se sabia muito menos que hoje sobre o Covid-19 e não se podia prever quando e como as coisas se resolveriam, portanto o desfecho fica na conta do hopepunk. E a gente precisa de mais obras como esta da Gisele. 


Porém Bruxa, de Carol Chiovatto

Delícia de fantasia urbana que li com o pessoal do Clube de Leitura Espalhe Fantasia. Trata-se de uma investigação de crimes em São Paulo, misturando magia e... bom, e crime mesmo. A protagonista e narradora é muito bem construída, o livro traz muita diversidade e representatividade e uma trama ágil, bem encaixada no momento atual. Super vale a pena


Lágrimas de Carne, de Fernanda Castro

Não é um romance, é uma noveleta, mas não poderia deixar de estar na lista dos favoritos do ano. Partindo do folclore e das crenças do sertão brasileiro, Fernanda construiu uma mitologia toda própria, com criaturas fantásticas que são, ao mesmo tempo, absoluta e dolorosamente críveis em sua humanidade. E contou uma história de fazer sangrar o coração. Não deixem de ler, porque é maravilhoso. 

***

Eu esperava terminar o ano contando algumas novidades, mas acho que as postagens de 2020 vão ficar por aqui. Em janeiro, não demorarei a falar um pouco da produção do segundo semestre, em retrospectiva, e se tudo correr bem terei boas novas.

Espero que o mesmo se dê para todos nós, não apenas no campo profissional e da produção -- embora fazer boa arte importe, sempre! -- mas também em todos os outros aspectos de nossas vidas. Que venham as vacinas e o controle da pandemia, que a gente possa sair e se reencontrar, ainda que com cuidados, porém sem medo. Que vidas e dignidade sejam preservadas e que voltem os abraços. 

E que todos estejamos lá para celebrar. 

Até o ano que vem!

terça-feira, dezembro 22, 2020

Minhas Leituras Favoritas em 2020 - Estrangeiros

Oi, Pessoas Queridas! Tudo bem? Após um longo hiato -- sim, fiz muita coisa, só não consegui registrar aqui! -- enfim reapareço para um ritual levado a cabo há mais de dez anos: falar um pouco sobre os livros cuja leitura mais me agradou nos últimos meses. 

 Notem que não se trata de "resenha" nem de apreciação crítica, no sentido de seguir parâmetros estabelecidos. Também não quer dizer que eu não tenha gostado de outras obras que li nesse período. Essas foram as que me deram mais prazer, conversaram mais com as minhas ideias, minha memória afetiva, me instigaram mais a criar... Enfim, as que se destacaram dentre as minhas leituras, lembrando que este foi um ano sui generis. Não tenho o registro do que li antes de 17 de março (que ficou na minha agenda do trabalho), assim como também não anotei as várias dezenas de contos que li no formato Kindle, quase todos nacionais. E, como as anotações foram bem corridas, não sei o quanto isso reflete a totalidade de leituras. 


 De qualquer forma, aqui vão, em ordem de leitura, meus favoritos do ano, começando pelos estrangeiros.

 
Circe, de Madeline Miller 

 Tal como no ano passado, o primeiro em ordem cronológica também foi o favorito do ano. Traduzido por Isa Próspero, lido e comentado com o grupo de leitura "Espalhe Fantasia" (por isso a leitura foi ainda mais prazerosa!), o livro conta em primeira pessoa a jornada de heroína de Circe -- sim, aquela mesma, a feiticeira das lendas gregas -- mostrando sua complicada relação com a família, seus amores, seu exílio, a maternidade, a descoberta do poder mágico, que passa pela descoberta da própria voz. Criticada por seu pai, Hélio, o titã que era senhor do sol, a voz de Circe é um elemento importante nessa narrativa -- para mim, o símbolo do poder da mulher, que começa a se impor quando ela ousa erguer a voz e se fazer ouvir. Recomendo a todo mundo, goste ou não de mitologia; se gostar e conhecer um pouco, a leitura será duplamente prazerosa.

 
O Urso e o Rouxinol, de Katherine Arden 

Já comentei sobre ele em postagem referente ao grupo de leitura, embora não tenha sido uma das obras que lemos em conjunto. O primeiro de uma série para jovens e adultos, muito bem ambientado na Rússia medieval, com uma heroína destemida que transita entre seres mágicos -- duendes, inclusive, o que é sempre um bônus -- e humanos absolutamente imperfeitos (e verossímeis), este livro, repleto de peripécias e reviravoltas, me fisgou e me deixou cheia de ideias para futuras histórias. Ainda não li as continuações (a primeira já está comprada), mas certamente está na minha lista para o ano que vem.

 
Changeling, de Victor Lavalle 

 Um livreiro negro, sobrevivente de complicado drama familiar, se casa com uma bibliotecária. Tudo vai bem, eles acabam de ser pais, quando uma súbita mudança no comportamento da esposa desencadeia eventos estarrecedores. O pai é levado a empreender uma jornada pelo lado sombrio de Nova York, e ao mesmo tempo visitar o que se esconde em seu passado, desvendando todo um mundo oculto a fim de -- talvez -- recuperar aquilo que mais ama. Não poderia recomendar mais esse livro, principalmente àqueles que gostam de fantasia urbana. E a tradução de Petê Rissati é muito boa.

 
Memórias de Porco-Espinho, de Alain Mabanckou 

Minha primeira leitura do autor congolês, que aqui envereda pelo realismo mágico (presente inclusive em referências trazidas por um personagem europeizado) e pelas lendas africanas, mostrando o relacionamento entre um feiticeiro e o porco-espinho que é seu "duplo" animal. Parte da história é bem enraizada na realidade local, visível a todos (embora as perspectivas possam diferir), outra parte transcorre dentro de parâmetros só compreensíveis dentro daquela cultura. Não foi uma leitura fácil, mas me intrigou e encantou.

 
Os Saqueadores, de Tom Cooper 

 Vamos de livro realista para concluir -- mas que livro! Vários personagens complexos, com histórias que vão do simples ao delirante, buscam sobreviver nos pântanos da Louisiana, conspurcados por um derramamento de petróleo: desde o rapaz inteligente que tenta se conformar com a morte da mãe e a perspectiva de uma vida de luta e pobreza até o velho que vai às últimas consequências para encontrar o tesouro perdido do pirata Jean Lafitte. O fim, ao menos para alguns, é a celebração do recomeço, ou pelo menos da resiliência. Venha passear no bayou! 

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Bom, pessoal, essas foram as minhas melhores leituras estrangeiras em 2020. Imagino que alguns livros sejam conhecidos de boa parte de quem me acompanha, mas acho que nem todos. Agradeço comentários e sugestões para 2021! 

 Até breve, com as leituras nacionais!