quinta-feira, dezembro 30, 2021

Dois Anos em Resumo

 Pessoas Queridas,

Mais um ano chega ao fim, o segundo da pandemia. Uns mais, outros menos, todos fomos afetados de várias formas e tivemos que nos adaptar a uma vida cheia de restrições, cuidados e novas regras que, parece, irão nos acompanhar ainda por algum tempo.

Eu perdi um primo querido e alguns amigos para a Covid, além de acompanhar com dor e indignação as cenas do teatro de horrores perpetrado no Brasil. Fora isso, tive muita sorte. Não adoeci, pude trabalhar de casa até o final de novembro e produzi bastante. Com todos os pulos que as editoras independentes tiveram que dar para manter a cabeça fora d´água, também publiquei bastante. Neste post, compartilho com vocês um pouco do que fiz, e enquanto o escrevo aproveito para refletir sobre as decisões e metas do próximo ano.

Eu e minha parceira de escrita! O prêmio
é das duas, mas a caveirinha vai morar
com ela em João Pessoa.

No início de 2020, eu estava escrevendo uma noveleta que chegou a quase 12.000 palavras. Escrevi mais 10 contos nos meses seguintes. Em 2021 escrevi 11 contos, o mais longo com cerca de 6.000 palavras. Somando tudo, e levando em conta apenas as versões finais, foram quase 100.000 palavras escritas durante a pandemia, 22 contos no total, dos quais 14 foram publicados e 4 outros, pelo menos, têm destino certo. Também publiquei pela Editora Draco a terceira edição do meu livro de estreia, O Caçador; um livro de terror e suspense escrito em parceria com Allana Dilene, que venceu o Prêmio ABERST de melhor narrativa juvenil; e a coletânea, organizada por mim, Contos de Fadas Sombrios. Pra não dizer que só falei de flores, tive contos rejeitados em três revistas e dois concursos, e alguns projetos floparam ou foram abandonados. Mas o saldo foi pra lá de positivo.

Sob o meu outro chapéu, escrevi um texto por semana para a página e as redes da Biblioteca Nacional, com dois temas principais: História do Livro e Escritores Brasileiros. São textos de divulgação para o grande público, mas vêm sendo bem recebidos; quem se interessar pode lê-los aqui. Também tive oportunidade de tagarelar um pouco sobre livros manuscritos e História das Bibliotecas no podcast Perdidos na Estante. E fiz muitos cursos legais na minha área de atuação e áreas correlatas.

Por que estou contando tudo isso? 

Porque ao longo desses anos de tanta produção também houve bastante análise e auto-análise. Quem me conhece sabe que sou muito ansiosa, que somatizo minhas encucações e que isso se agravou ao longo de 2018 e 2019, de forma que mesmo sem a pandemia eu já tinha decidido reduzir minhas atividades, cuidar mais da minha saúde... Enfim, todas as decisões que a gente toma ao fim de cada ano ou depois de um momento de crise e quase nunca põe em prática.

 Dessa vez eu tomei algumas iniciativas, como procurar uma terapeuta e melhorar a minha alimentação, mas tenho algumas metas por alcançar, e para isso era essencial que eu aprendesse a ser mais legal comigo mesma. Que eu assumisse menos tarefas, que parasse de me cobrar produtividade, que deixasse de ter expectativas quanto a algumas pessoas e me doasse mais a outras, que se importam comigo e gostam de mim.  

Fazer essa retrospectiva, escrever sobre aquilo que considero as minhas conquistas, me ajudou a perceber o quanto já caminhei, que minhas metas não têm que ser as mesmas de outras pessoas e que, para o bem ou para o mal, eu encontrei minha voz de contadora de histórias.

E não preciso mais provar nada a ninguém.

Assim, gente amiga, é com carinho que me despeço de vocês e deste dezembro. Que o próximo ano nos encontre em paz e saúde, que a gente consiga encontrar forças para vencer os monstros e que a vida seja melhor para todos.

Até a próxima!

segunda-feira, dezembro 27, 2021

Minhas Leituras Favoritas em 2021 - Nacionais

 Gente amiga,

Como prometido, estou de volta para falar sobre minhas melhores leituras em 2021, agora com foco nos nacionais.

Tive oportunidade de ler muita coisa boa publicada em revistas, em e-books solo, em blogs, em newsletters. Aqui falarei apenas de livros, impressos ou digitais, sendo um de contos (de autora única), quatro romances adultos e um juvenil. Vale lembrar que li muitas outras obras nacionais de que gostei e que foram habilmente construídas e escritas; as que destaquei foram as que, acima dos critérios técnicos, me proporcionaram os melhores momentos como leitora, me empolgaram, prenderam e/ou tocaram de diferentes formas. Sem mais delongas, vamos lá?


O Jovem Arsène Lupin e a Dança Macabra, de Simone Saueressig

Vou começar minha lista de nacionais por onde terminou a de estrangeiros: pelo juvenil! Este livro da Simone traz uma história bem amarrada, cuja caprichada ambientação nos leva a uma jornada pelas ruas e, especialmente, pelos subterrâneos de Paris. Um ponto muito positivo é que seu personagem consegue agir como o adolescente que é e, ao mesmo tempo, ter atitudes que revelam o futuro anti-herói Arsène Lupin, o Ladrão de Casaca. Este é o primeiro livro de uma série e eu já estou de olho para ver quando sairão os demais!



O Som do Rugido da Onça, de Micheliny Verunschk

Esse livro me transportou a muitas histórias que li e muitos documentos que estudei na Biblioteca Nacional. Umas e outros contam de jovens indígenas levados ao Velho Mundo por viajantes e naturalistas -- Spix e Martius, neste caso, que estiveram no Brasil  em 1817 –, mas poucos mostraram tão bem e de perto o choque de culturas, indo além do factual e do simples estranhamento e permitindo ao leitor ter um vislumbre do mundo europeu através dos olhos das duas crianças. A boa narrativa é por conta da autora, mas o livro se baseia numa história real -- e eu não direi que tem um toque de fantástico ou realismo mágico, pois sei, no fundo do coração, que a Grande Onça existe. E, com sorte, ainda anda por aí.



Calote, de Leonardo Valente

O primeiro de todos os livros que li este ano nos coloca diante de uma situação à primeira vista singela: e se de repente ninguém pagasse as contas pendentes? Como iriam se virar os bancos, as empresas, o que seria do capital especulativo? Acompanhamos a trajetória de dois personagens nesse ato de resistência – para então nos darmos conta de que, na verdade, o que acompanhamos é uma bola de neve passando como um rolo compressor por cima de um sistema cruel. E dá muita, muita vontade de juntar mais uns punhados para fazer a bola crescer.



Crônicas da Lua Cheia – A Ascensão do Alfa, de Clecius Alexandre Duran

Meu carinho pelos lobos e a convicção de que eles são (ou podem ser) bonzinhos meio que cai por terra com os livros do Clecius. Ele explora o lado mais violento e sanguinário do mito do lobisomem, e faz isso muito bem, com um estilo todo próprio, cada vez mais apurado, e mostrando capricho na pesquisa. Neste livro, ele nos leva a uma viagem pelo Rio Grande do Sul, nos tempos da Revolução Farroupilha, para contar a história de Sétimo, um jovem e impetuoso gaúcho cujo caminho cruza com o de uma alcateia de metamorfos – e com outros personagens das lendas locais, que aparecem quando menos se espera e dão uma outra dimensão à história. É ler para crer.



Dezessete Mortos, de Nikelen Witter

Mais um passeio pelo pampa gaúcho, desta vez levada por uma nativa. O livro reúne contos de Nikelen Witter cuja ação transcorre no Rio Grande do Sul, em diferentes períodos. A maior parte deles tem um forte sabor regional, tradicionalista; outros soam mais universais, pela ambientação ou pelo próprio tema, mas todas as narrativas são bem contruídas e amarradas, os personagens são verossímeis, as tramas são instigantes. Eu, que em geral me atenho aos romances, desta vez não pude deixar de incluir este livro como um dos melhores que li no ano, e recomendo toda a obra da Nikelen a quem tem boa cabeça e coração valente.  




Claroscuro, de Oscar Nestarez

Este foi um livro que eu li antes do lançamento, visto ter sido sua revisora, e me prendeu desde as primeiras palavras. Conta a história de dois irmãos que mantêm um estranho equilíbrio entre si: quando um está bem, alegre, de bom astral, o outro se vê imerso em tristeza e apatia. A narrativa sóbria constrói uma tensão que se aprofunda pouco a pouco, à medida que os irmãos se tornam mais velhos e um deles começa a ter pensamentos sombrios. Este livro foi o segundo a ser lançado pela Coleção Dragão Negro, da Editora Draco, e parece que só estará disponível até o final de janeiro, quando termina a campanha do último livro. Aproveitem e cliquem aqui para conhecer todos eles.

E vocês, que livros nacionais os encantaram este ano? Partilhem conosco!



quarta-feira, dezembro 22, 2021

Minhas Leituras Favoritas em 2021 - Estrangeiros

 Pessoas Queridas,

Seguindo uma tradição que já leva mais de dez anos, vou deixar algumas linhas, neste e no meu próximo post, sobre os livros que mais gostei de ler ao longo de 2021.

Como das últimas vezes, muitas das minhas leituras foram contos isolados ou publicados em revistas. Livros, não contei, mas estimo que tenham sido em torno de 80, numa proporção de um pouco mais da metade de estrangeiros de vários países. Alguns eram lançamentos (ou pelo menos eu não conhecia), outros reedições de obras de décadas atrás.

Para este post eu decidi escolher seis livros estrangeiros, sendo um deles juvenil. O mesmo farei com a postagem sobre os brasileiros. A ordem é aleatória, e o único critério é terem se destacado como livros que eu gostei de ler, me prenderam e, em alguns casos, me levaram a reflexões. Vamos lá?



Sobre os Ossos dos Mortos, de Olga Tokarczuk

Esse livro – bom, esse livro foi meu favorito do ano. Além de uma história fascinante, que não dá para largar, leva você a mergulhos e reflexões sobre a condição humana, as pessoas, a natureza, a relação que temos com ela e uns com os outros. A ambientação, nas montanhas da Polônia, e os personagens de apelidos curiosos são tão bons que dá para literalmente vê-los, ainda que não sejam detalhadamente descritos. Quanto à protagonista... olha, quando eu acabar de envelhecer, acho que vou ser como ela. Menos o veganismo, que acho que não alcanço nesta vida.




1793, de Niklas Natt Och Dag

Um thriller histórico dos bons, passado em Estocolmo. Tem umas partes bem cruas, mas nada é gratuito: tudo faz parte da construção de uma história com elementos tão fascinantes quanto perturbadores, que gira em torno da identificação de um cadáver mutilado. Seguindo o fio da investigação, achamos vários personagens que sofreram os mais diferentes tipos de violência e injustiça, e devo dizer, só o fim escolhido para uma delas proporcionou um pouco de alento. Se você estiver muito triste, guarde esta leitura para depois. Mas leia. Vale a pena.




Ponti, de Sharlene Teo

Ambientado em Singapura, em três diferentes momentos, o livro conta a história de Amisa, atriz de um filme de horror nos anos 1970; de sua filha Szu, que passa por uma adolescência difícil; e, já nos dias de hoje, de Circe, amiga de Szu, cujas memórias da mãe, da filha e da misteriosa senhora que vive com elas a faz reviver momentos e emoções intensas. “Ponti”, título do filme de horror, vem de Pontianak, uma criatura do folclore malaio semelhante a um súcubo ou vampiro feminino, e dá para sentir essa vibração passando por Szu, Circe e por você quando lê este livro. Ah! No momento, a versão Kindle na Amazon está baratíssima, então aproveitem!



Leopardo Negro, Lobo Vermelho, de Marlon James

Comecei a ler este livro em 2020 e terminei em março de 2021, porque não foi nada fácil. Parei muitas vezes, quase desisti, retomei, fui pesquisar uma coisa e outra e no final tenho certeza de não ter entendido tudo. Além disso, tem cenas de violência muito gráficas, No entanto, o imaginário de base africana é riquíssimo (o autor não é da África e sim jamaicano, antes que alguém faça essa observação), e eu não poderia largar a história pelo meio, nem abandonar seus protagonistas, um caçador de faro infalível e um metamorfo que – sim, acabou tendo um dedinho de influência na construção, ou recriação, do narrador do meu conto O Troca-Peles (que você encontra aqui), embora este seja baseado num conto maravilhoso russo. No fim, não foi a leitura mais prazerosa, mas valeu pelas impressões, pelas portas abertas, pelos mundos vislumbrados.




A Curva do Sonho, de Ursula K. Le Guin

Leitura compartilhada no fim do ano com o grupo Espalhe Fantasia. Ursula não decepciona ao contar a história de George Orr (qualquer referência não é coincidência), um sujeito absolutamente comum exceto por uma característica: o que ele sonha se concretiza. E não se trata do futuro, de previsões: todo o passado, as vidas das pessoas e suas memórias se realinham para que ele acorde na realidade com a qual sonhou. É um livrinho bem curto, doido e fascinante que eu recomendo a todos.



The Girl Who Circumnavigated Fairyland in a Ship of Her Own Making, de Catherynne M. Valente

O juvenil estrangeiro mais legal que eu li este ano conta a história de September, uma menina que passa por várias aventuras, mais ou menos ao estilo de Dorothy e Alice, mas com uma pegada um pouco mais agridoce. Já tem continuações, que ainda não li, e até onde sei teve apenas este primeiro livro traduzido no Brasil, pela Leya. Uma coisa muito legal é que esta e outras histórias de Valente foram musicadas por uma das minhas compositoras favoritas, S. J. Tucker; dá para ler com playlist própria, e deixo o link da minha canção preferida no canal da artista.

Bom, pessoal, essas foram minhas leituras estrangeiras mais legais em 2021. Agora quero saber das suas. Deixem aqui nos comentários, e aguardem: dentro de uns dias virá o post dos meus favoritos entre os livros nacionais.

Até lá, e um grande abraço!  


sexta-feira, dezembro 17, 2021

Contos Publicados : Agosto a Dezembro 2021

Cof, cof! Sai, teia de aranha! Aqui estou eu para uma série de posts que encerram mais um ano. Em minha defesa, saibam que foi bem atarefado, começando pelas publicações. Estas foram as que vieram à luz desde o último post, de 5 de agosto. 



Este projeto coordenado por Cristina Pezel reúne seis escritores de alguma forma ligados ao RPG. Inspirados pelas raças, classes e alinhamentos de Dungeons & Dragons, cada qual criou um personagem e contou uma história ambientada no universo mágico de Thalamh, criado pela Cristina com colaboração dos demais. No fim, ela escreveu um conto em que todos os personagens se encontram e contracenam – ou seja, é uma coletânea e ao mesmo tempo um romance fix-up. Certeza de que vocês irão gostar. Adquiram aqui

 


Organizada por Lu Evans, esta coletânea temática é sobre... labirintos, claro. O meu é imaginário, encontra-se numa pequena ilha da Índia onde um sábio de nome Satyaguru promove um desafio anual. Para lá se dirigem Mattan, o neto amalucado e amado pelos deuses de Balthazar de Tiro, e seu amigo egípcio, o quase sempre sensato Necos. Sua aventura é dividida em dois contos com os quais eu espero que vocês se divirtam. Se não, o livro tem vários outros contos bem legais, e é baratinho. Pode ser  comprado aqui . 


Também organizada por Lu Evans, essa foi uma coletânea em que eu colaborei bastante com ideias e paratextos. Era preciso contextualizar as histórias, que versam sobre povos antigos e/ou sobre mistérios arqueológicos das três Américas. E, o que é melhor, com participação de autores das três! A mim e a Lu se juntaram duas brasileiras, Roberta Cirne e Simone Saueressig, e cinco escritores e escritoras do Uruguai, Argentina, Bolívia, México e Costa Rica. O resultado é este livro escrito em duas línguas (as originais foram mantidas) que pode ser lido de graça no Google Play Books.  Meu conto abre o livro e leva vocês até a costa do Brasil, quando era habitada por povos sambaquieiros. Espero que gostem! 





Fiquei feliz e honrada pelo convite para integrar esta coletânea, organizada por Daniel Gruber e Irka Barrios. Nem todos os autores que aqui estão escrevem habitualmente histórias de horror, mas, sem exceção, todos se saíram bem nessa empreitada, que resultou num livro rico em diversidade de temas e narrativas. Meu conto, intitulado O Motim, se passa no Brasil e é protagonizado por uma bibliotecária escolar, em luta contra uma maré de horror nem sempre perceptível pelos que estão à sua volta. O livro esteve em Catarse e pode ser adquirido no site da Editora O Grifo

Ano que vem ainda vão sair alguns contos que escrevi durante a pandemia, mas as principais novidades virão via Editora Draco e vão levar vocês num longo passeio pelo Mediterrâneo e mais além dos Pilares de Melkart. Cortesia do deus Thoth. Já sabem do que estou falando, né? Seja como for, prometo que vai ser bem legal!

E ainda este ano eu volto aqui para falar das minhas leituras, escritas, prêmios e planos!

Grande abraço, continuem a se cuidar!