Quando os ratos descobriram os livros - e a noção de livros, de um modo geral, ainda era difícil para a maioria dos mais velhos - encontraram, na livraria que invadiam todas as noites, O Livro.
Era um livro incrível(...).
Lá havia animais usando roupas. Havia um coelho que caminhava nas patas de trás e usava terno azul. Havia um rato de chapéu que tinha uma espada e usava um grande colete vermelho, completo, com um relógio numa corrente. Até a serpente usava colarinho e gravata. E todos eles falavam, e nenhum deles comia nenhum dos outros, e - era esta a parte inacreditável - todos falavam com humanos, que os trtavam bem, como humanos pequenos (...).
Sim, O Sr. Coelho vive uma aventura era motivo de muitas discussões entre os Mutantes. Qual seria sua finalidade? Seria, como Perigoso Feijão acreditava, uma visão de algum futuro glorioso? Teria sido feito por humanos? A livraria tinha sido feita para humanos, é verdade, mas com certeza os humanos não fariam um livro sobre Ratânio Roberto, o rato que usava chapéu, enquanto ao mesmo tempo envenenavam ratos debaixo dos assoalhos. Ou fariam? Quanta loucura seria preciso para pensar desse jeito?
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Estas são as elocubrações que ocupam a mente de Perigoso Feijão, Pêssegos, Sardinhas, Bronzeado Intenso e dos demais membros de sua comunidade de ratos mutantes. Tornados racionais através da ingestão de restos da cozinha - ou do laboratório? - de uma universidade de bruxos, eles viajam na companhia de Maurício (um gato malandro, mas no fundo de bom coração) e de um garoto flautista, aplicando pequenos golpes - na verdade, um único golpe - em cidades do interior. Numa delas, entretanto, eles se deparam com algo bem mais complexo e assustador do que todas as coisas que tinham visto até agora, e devem usar de todo o seu talento, coragem e um bocado de sorte para escapar com vida. Ou com as sete vidas, no caso de Maurício...!
Essa história ágil, bem-escrita e que foge ao lugar-comum (acreditem: em fantasy, isso é bastante difícil), saiu da pena mágica de Terry Pratchett, um dos escritores mais conhecidos, prolíficos e criativos do gênero. Pratchett é o criador da série Discworld, cujo estilo humorístico (e um tanto cínico) já conquistou fãs no mundo inteiro, e da qual já foram lançados seis volumes no Brasil. Esta nova obra, entretanto, é independente... e um dos melhores livros que li nos últimos tempos.
Se alguém quiser seguir essa dica, estes são os dados:
PRATCHETT, Terry. O Fabuloso Maurício e seus roedores letrados. São Paulo : Conrad, 2004.
Leiam... e depois me digam...!
Abraços a todos,
Ana
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