segunda-feira, setembro 27, 2004

Kokopelli: um Mito Anasazi

Pessoas Queridas,

Vocês conhecem de sobra a minha admiração pela cultura e pelos mitos dos nativos americanos. Ana e a Margem do Rio traz uma bela história amazônica, e por aqui já andou uma Cinderela algonquina, sem falar nos muitos pulos e uivos do Coiote. Então, hoje é a vez de um personagem conhecido principalmente nas culturas Hopi e Navajo, e que parece ter tido um papel de destaque entre os Anasazi, antepassados dos Pueblo: Kokopelli.

Associado à figura dos tricksters, mas principalmente aos mitos de fertilidade, Kokopelli, com sua flauta e sua aparente corcunda, está representado nos mais antigos petroglifos do Sudoeste da América do Norte. Comparativamente, ele pode talvez nos fazer lembrar de outros flautistas (e sedutores), como Krishna, Hermes e Pan; as lendas a seu respeito são inúmeras, mas a que vou contar foi adaptada do livro que acompanha as Cartas do Caminho Sagrado, de Jamie Sams (que, vocês devem saber, é um dos meus livros de cabeceira). Quanto à cultura Anasazi e à Mesa Verde, vocês podem encontrar um resumo aqui, bem como uma imagem e mais informações acerca de Kokopelli.

Então... senta que lá vem história!! ;)

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Kokopelli e Flor do Gelo

Tinha sido um ano muito seco na região de Mesa Verde quando Kokopelli, o grande xamã, apareceu para falar ao povo. À distância, ele parecia ser corcunda, mas quando se aproximava era possível perceber que, na verdade, tinha às costas uma grande sacola de talismãs, remédios e sementes que trazia para comerciar. Em sua cabeça, um arranjo de plumas vermelhas dava a impressão de que usava uma coroa de fogo, e sua flauta reluzia ao Sol, o brilho uma fonte de encantamento tão grande quanto a música.

Ao terminar de tocar, ele embrulhou a flauta em um pano tecido, como se fosse uma criança, e a consagrou ao Povo que Habita as Estrelas, proclamando que a melodia vinha das estrelas e chamava o Pai Trovão para se unir à Mãe Terra. Dessa união nasceria uma Criança Mágica, que, um dia, viria a liderar seu povo e conduzi-lo de volta ao Céu. Isso porque – disse o xamã – tinha havido um tempo, antes da Criação, em que todos os seres eram como centelhas pertencentes ao Fogo Primordial, e que tinham vindo à Terra para semeá-la com pensamentos, idéias e ações.

Tão logo Kokopelli falou, o fogo explodiu em inúmeras fagulhas, e ao longe o povo de Mesa Verde ouviu o som dos trovões, que traziam enfim a chuva tão esperada. Kokopelli aconselhou a todos que pegassem seus potes de barro e corressem para coletar a preciosa água da chuva, assim que começasse a cair no alto da meseta. Todos se apressaram a fazê-lo, à exceção de uma jovem muito bonita, cujo olhar voltado para as nuvens transmitia inocência e serenidade.

Curioso, Kokopelli se aproximou e perguntou à moça por que não correra para buscar os potes. A resposta o maravilhou e encheu de assombro: ela já colocara os potes no alto da meseta, pois, tão logo ouvira a flauta do xamã, soubera que ele iria trazer a chuva. O rosto às vezes bondoso, às vezes brincalhão de Kokopelli se abriu então num sorriso, e ele exclamou: Quer dizer que é você!

O povo de Mesa Verde encheu todos os recipientes que puderam ser transportados à meseta e, depois, se reuniu numa prece de agradecimento ao Grande Espírito e ao xamã que trouxera a chuva, Kokopelli. Este colocou a flauta nos braços da jovem - que pertencia ao Clã do Milho e se chamava Flor do Gelo – para que todos soubessem que, dali em diante, ela partilharia sua música e sua semente.

Conta a lenda que Flor do Gelo deu à luz um filho que se tornou o líder da tribo, e que tinha em si a bondade de sua mãe e o Fogo Criador de seu pai. Ele também se tornou um grande xamã e usou sua magia para cumprir a missão que lhe fora destinada. Sim, porque a região de Mesa Verde, no Colorado, foi abandonada – às pressas, ao que tudo indica - por volta do ano 1250 de nossa era... o que nos leva a imaginar se a lenda, afinal, tinha um fundo de verdade, e se a Criança Mágica foi capaz de reconduzir seu povo às estrelas.

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Lindo, não? Eu também achei... ;)

Esperando que o Fogo Criador nos ajude a revelar o que temos de melhor,

Aqui vai meu grande abraço!

Até a próxima!

Ana Lúcia

Um comentário:

WALTAMIR LEOCADIO DA SILVA disse...

Cara Ana:

Linda estória.

Acredito que a 'Estrela' para a qual muitos povos mesoamericanos do passado tenham 'regressado' esteja aqui mesmo em nosso Planeta (um dos lugares mais belos do Universo!).

"Orion' parece ser, em verdade, lugar de origem e destino de muitos outros povos antigos, tais como Sumérios, Egípcios, Maias, Astecas, etc.

O que me faz acreditar nessa 'teoria' é a presença em nosso espírito da existência da Atlântida, cujo conhecimento nos veio por meio do Filósofo Platão.

Certo, também, de que muitas outras civilizações do passado desapareceram sem deixar vestígios.

Mas não podemos esquecer de que também fazemos parte do Universo, daí não podermos descartar a probabilidade de que a vida tenha tido origem em outro Planeta!

Ana, continui com a Estante Mágica. Gostei muito.

Abraços.

WALTAMIR LEOCADIO DA SILVA