sexta-feira, dezembro 27, 2019

Melhores Leituras de 2019 - Estrangeiros

Pessoas Queridas,

Como combinado, aqui estão os títulos dos livros estrangeiros que mais curti ler em 2019. Decidi usar a mesma porcentagem: pouco mais de 70 lidos, 7 destaques, e olha que legal: à exceção do primeiro, que tem coautoria de um homem (cabendo controvérsias), todos foram escritos por mulheres.

É provável que isso reflita a totalidade de leituras, mas não tenho certeza. Fui pinçando do diário -- e gostei do que resultou. Espero que vocês também curtam as minhas impressões.




O Labirinto do Fauno, de Cornelia Funke e Guillermo Del Toro

Possivelmente o melhor livro que li este ano, e em edição lindíssima, o que tornou a experiência ainda mais legal. A controvérsia que citei acima se deve ao fato de que, pelo que entendi (se alguém tiver notícia do contrário, diga-me), Cornelia foi a única autora do livro, escrito com base no roteiro de Guillermo e no filme feito a partir dele. De qualquer forma, ainda que consideremos ambos como autores, as histórias curtas, ao estilo de contos de fadas, inseridas em meio aos capítulos que narram a aventura de Ofelia foram ideia (e criação) de Cornelia, e as imagens, metáforas e construções literárias são obra sua -- e ela consegue, com mestria, transpor para o livro a atmosfera de medo, sombras e fantasia que encantou nossos olhos e imaginação no cinema. Obra maravilhosa, do início ao fim.



A Sociedade Literária e a Torta de Casca de Batata, de Mary Ann Schaffer e Annie Barrows

Mais um do qual foi feito um filme, que também achei legal - só que o livro tem espaço para falar bem mais das pessoas de Guernsey e de suas histórias, além de uma trama paralela (e deliciosa) de espionagem literária. Ou seja, temos o mundo dos escritores e editores mais bem representado e a cidadezinha como um cenário mais vívido e interessante. A narrativa é leve e ágil sem ser superficial, e tudo é bem amarrado. Gostei de fato.





As Alegrias da Maternidade, de Buchi Emecheta

Como no ano passado, li muitos autores africanos em 2019, principalmente mulheres. Desta, nigeriana, li três livros, e este foi o favorito. É a história de uma mulher do interior, enviada para se casar com um desconhecido que vive em Lagos, e os vários percalços que tem de enfrentar, desde o estranhamento causado pela cidade e o desapontamento com o marido até os perrengues para criar os filhos em meio a uma sociedade cada vez mais influenciada pelos colonizadores, na qual os valores tradicionais não podem mais servir de referência. À parte a temática, de que gosto, a narrativa é agradável e objetiva, e a protagonista muito bem construída.




Você Nasceu Para Isso, de Michelle Sacks

Inverti a ordem de leituras entre este e o próximo, porque o livro faz contraponto com o anterior. Aqui não temos uma mãe de vários filhos passando perrengue e sim a mãe de um bebê lindo e saudável, morando num lugar lindo e com um marido protetor e amoroso. No entanto, as coisas não são o que parecem -- e isso não se refere apenas a circunstâncias externas, mas ao que se passa na cabeça dessa mulher. Filho, marido, tarefas domésticas, será que isso basta para ela? Será que basta para alguém? E quando você sente, sem saber como, que é preciso dar um... basta? Leiam e depois me digam.



No Jardim do Ogro, de Leila Slimani

Da mesma autora do ótimo Canção de Ninar, este livro também tem a ver com o que está acima, na lista. Trata-se de uma mulher cuja vida e casamento, aparentemente, são perfeitos, mas que anseia por mais, e não mede consequências no sentido de buscar o que deseja. Quem ler este livro se lembrará provavelmente de A Bela da Tarde, de Joseph Kessel (e que virou filme com Catherine Deneuve): Adèle tem uma compulsão parecida com a de Séverine, embora a forma como as histórias se desenrolam sejam diferentes. E Slimani conta a sua de um jeito perturbador, levando o leitor pela mão até a beira do abismo. Gostei de ter ido até lá com ela.




As Horas Vermelhas, de Leni Zumas

Passado num futuro próximo e alternativo, o livro conta a história de cinco mulheres, entrelaçadas umas às outras e unidas por questões ligadas ao universo feminino, agora e sempre (ou há muito tempo) motivo de disputa, acusações e proibições: questões sobre o corpo, o sexo, a reprodução, mas também sobre a depressão, a solidão e o direito de viver do jeito que bem se entende. Enquanto lia, mais uma vez me ocorreu: as personagens deste livro são as tais descendentes das bruxas que nossos avós queimaram. E eu gostei de lê-lo. Cabe, porém, um aviso: não se parece tanto assim com A História da Aia: não tem o mesmo alcance, nem o mesmo peso, embora seja uma boa história com uma narrativa que prende do início ao fim.




A Filha do Rei do Pântano, de Karen Dionne

Fechamos esta lista como a abrimos: com a história de uma menina (neste caso não fica menina até o fim do livro) às voltas com o único tipo de lobo realmente mau, o que caminha sobre duas patas. Na verdade, são duas meninas: a narradora e sua mãe, que foi sequestrada na adolescência e obrigada a viver por vários anos em companhia do raptor, criando a filha de ambos. A narrativa é hábil, os cenários bem detalhados; para mim, a história no presente não fez muita diferença, e sim a parte que focava na infância da protagonista. E ela até é legal... mas para mim a grande heroína da história, uma heroína relutante e trágica, é sua mãe, tão anulada em favor da filha (e pela própria filha) que nem chegamos a saber seu nome.

... 

Bom, pessoal, estas são minhas impressões sobre os estrangeiros lidos em 2019. O que acharam? Meio diferentes dos nacionais, não é?

Deixem aqui seus comentários e sugestões. Ainda tem tempo antes do fim do ano!

Abraços e até a próxima!

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