quarta-feira, fevereiro 12, 2014

O Solitário Andar Por Entre a Gente


Esta manhã, passando pelo parque a caminho do trabalho, avistei o grupo de terceira idade que pratica T´Ai Chi Chuan na clareira. O instrutor é um senhor de setenta ou mais, cabelos brancos e porte de atleta; os outros também são flexíveis e fortes, favorecidos pela genética e pelo fato de, possivelmente, haverem desde cedo se preocupado com a saúde do corpo e do espírito.

Menos aprumado, mas ainda assim positivo e operante, é o grupo de ginástica, também composto de idosos, com os quais os do T´Ai Chi partilham o espaço aberto. Não sei se há um professor; talvez eles se revezem conduzindo a sequência de movimentos fáceis, mas que já custam um bom esforço a alguns. Esses gemem ao se alongar e flexionar as pernas, enquanto outros riem, fazendo troça de si mesmos e dos companheiros; o ritmo varia uma escala inteira entre o mais lento e o mais allegro, é uma orquestra que afina instrumentos, mas, em meio à cacofonia, a música ainda se adivinha bela.

Na ponta da clareira, um último grupo de idosos está sentado ao redor de uma mesa de pedra e joga cartas. Ontem jogavam dominó, talvez um dia tenha havido uma mulher entre eles, as caras não são sempre as mesmas, porém lá estão todos os dias, salvo nos de chuva. Serão amigos de longa data, ex-colegas, primos e vizinhos; alguns devem ter se conhecido ali mesmo no parque, mas o que me faz pensar é que, para a maioria deles, são esses os amigos que terão até o fim da vida.

Não sei como estarei dentro de vinte, trinta, quarenta anos. Se cumprir as promessas que faço a mim mesma e tiver sorte, serei capaz de executar os movimentos do T´Ai Chi; se assim não for, espero estar bem o suficiente para, pelo menos, fazer parte do grupo de ginástica. E, de um ou de outro jeito, vou adorar se o inverno desta vida me reservar amigos com quem sentar, jogar e recordar os bons e velhos tempos.

Pois hoje, como sempre, a clareira ficou para trás, e eu ainda sou a mulher de cabelos grisalhos, que canta em voz baixa uma canção enquanto se afasta pela trilha entre as árvores. 

Um comentário:

Mylle disse...

Ou, melhor ainda, que o seu futuro te reserve tudo isso junto :)