quarta-feira, julho 26, 2006

Um Ano e Um Dia... Dia do Escritor!

Pessoas Queridas,

Vocês devem estar estranhando me ver de volta tão cedo. Afinal, os intervalos entre meus posts têm sido de no mínimo dez dias, até mais... e pouca gente comentou o post sobre O Gênio do Crime. Vejam lá, não deixem de lê-lo só porque tem um novo! ;)

Este, na verdade, é "requentado". É um post datado de 24 de julho de 2003, em homenagem ao Dia do Escritor, que se comemora a 25 de julho. Naquele ano ele entrou um dia adiantado, neste vai entrar com um dia de atraso, mas não importa. Eu não queria deixar em branco, e tenho outros motivos para comemorar.

No ano passado, foi exatamente no Dia do Escritor que dei início à trilogia de fantasia medieval que tem ocupado meu tempo e meus pensamentos. A primeira versão do livro 1, O Castelo das Águias, foi escrita numa das minhas "febres ficcionais": 112 páginas, digitadas em Times tamanho 10 e espaço 1,5, em apenas 10 semanas. No dia 20 de outubro comecei a escrever o segundo livro da trilogia, cujo título é tão alusivo que até parece de propósito: Um Ano e um Dia. Isso porque hoje - justamente hoje - faz um ano e um dia que comecei a contar essa história!

Então, como forma de celebrar, aqui vai a homenagem ao Dia do Escritor, que postei dois anos atrás. Hoje meu estilo é um pouco diferente, mas fiz questão de não mudar uma vírgula, só para dar uma idéia de como minha escrita se transformou. Alguns de vocês sabem disso, pois estão comigo desde aquele tempo até hoje - eu lembro, e isso foi reiterado pelos comentários, felizmente ainda guardados na versão blig da Estante Mágica. O Morpheus, do Olhos do Corvo estava lá; a Janinha, que sumiu por um bom tempo e reapareceu agora, estava lá; e foi naquele post, onde eu lembrava ter escrito histórias ambientadas na revolução farroupilha, que o Milton Ribeiro me contactou pela primeira vez. Peço perdão aos presentes e ausentes que não citei, e garanto a todos: vocês foram, são e sempre serão muito importantes. Porque foi neste blog, a partir do incentivo que recebi dos seus leitores, que deixei de ser uma simples "rabiscadora" para aceitar o desafio de construir, ainda que aos trancos e barrancos, minha carreira como escritora de fantasia.


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Salve, Pessoas! Tudo bem?

Este post devia estar entrando amanhã, dia 25 de julho, quando se comemora o Dia do Escritor. Mas, como amanhã não devo ter tempo – e como, além disso, eu exerço meu ofício todos os dias – creio que não há problema em deixar agora, de véspera, algumas palavras sobre o que é para mim o ato de escrever.

“Para mim” não significa que vou teorizar sobre o ato, mas, pelo contrário, que pretendo falar sobre a minha própria experiência. Cada escritor, penso eu, tem a sua, assim como cada pessoa tem a sua própria maneira de se relacionar com seus deuses e seus demônios. Alguns escrevem para relatar fatos, outros para dar vazão aos seus sentimentos; alguns se atêm a técnicas e a um estilo, enquanto existem os que apenas rabiscam furiosamente. Há os que procuram ser inovadores na forma e geniais no conteúdo, e há os que declaram que buscam apenas contar uma boa história; e, depois de muito tempo, acho que finalmente cheguei à conclusão de que pertenço a essa confraria.

Foi um longo percurso, cheio de altos e baixos, desde os primeiros escritos – alguma coisa sobre um mundo povoado apenas por crianças, quando eu tinha cinco ou seis anos – passando por temas improváveis, como bandeirantes e heróis farroupilhas, e por histórias sobre astros de rock, nas adolescência, até chegar aos temas históricos e mitológicos que ainda hoje são o pano de fundo de minha ficção. A fantasy veio mais tarde, surgindo a partir das histórias que eu contava a minhas sobrinhas, e que aos poucos foram escorregando e se deixando fixar no papel. No início, minha escrita era meio preciosista – alguns ecos disso podem ser encontrados em “O Caçador” – mas hoje acredito que meu ritmo seja mais fluido, e as histórias, mais ágeis e leves. Não que estejam prontas e acabadas, é claro... E aqui eu tenho até medo de continuar, pois vou acabar falando sobre aquilo que, para mim, é inerente à criação literária: a terrível, a inevitável, a bendita e indispensável ansiedade.

Ela está presente em todos os momentos, mesmo os mais felizes, quando termino uma passagem difícil, quando coloco num texto o ponto final. Está presente quando escrevo e quando reviso, quando procuro a palavra certa e reescrevo mil vezes uma frase, e até mesmo, ai de mim, quando não escrevo. Talvez seja exatamente quando ela se torna mais viva: quando fico imaginando as histórias, criando cenas e diálogos em pensamento, para depois me desafogar em folhas e folhas de prosa. Não sei se todos os escritores se sentem dessa forma, mas imagino que sim, pelo menos em certo grau. E certamente foram muitos os que tentaram seguir o conselho de Rilke ao jovem poeta, e simplesmente não escrever... se fossem capazes de viver sem isso.

Mas acontece que muitos de nós não somos capazes. E temos que escrever, seja lá como for, não importando os sacrifícios que precisem ser feitos. Para alguns, as condições são mais favoráveis – Veríssimo, por exemplo, teve as tardes de domingo livres para escrever “Clarissa” – mas Lima Barreto usava o papel do Ministério da Marinha, Balzac gastava seus olhos escrevendo à luz de velas num sótão frio, e Jack London, meu irmão de totem, datilografava novelas após dezesseis horas de trabalho numa fábrica. E, à parte as questões materiais, quantos de nós não nos privamos de horas de sono e de lazer, e limitamos o tempo passado com nossos amigos e nossa família?

E, apesar de tudo, continuo achando que vale a pena. Para mim, pelo menos, que liberto meus sonhos através da escrita, que com ela exorcizo meus fantasmas e procuro construir mundos melhores. Quando escrevo, percebo como estou crescendo: na vida, na forma como ajo, nas coisas que faço. Porque, assim como não posso viver sem escrever, sei também que nenhum texto merece ser escrito sem que por trás dele exista vida. E o mais fascinante é que, apesar de todas as angústias, no fundo nosso ofício é tão simples quanto o define a frase de Wilde:

Para escrever bastam duas coisas:
Ter algo a dizer, e dizê-lo.


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Que a Musa nos inspire e nos ilumine a todos!!


Abraços carinhosos,

Ana Lúcia

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