segunda-feira, junho 06, 2005

Mais um Livro Chegando... !

Oi, Pessoas! Tudo bem?

Entrando no terceiro mês da greve, já tendo ido (ou levado Luciana) a todas as revisões médicas pendentes e com a obra no escritório em andamento, ainda assim tenho a felicidade de constatar que minha rotina tem menos a ver com ociosidade do que com um período muito produtivo, mas ao mesmo tempo dedicado a minhas realizações pessoais. Uma espécie de ano sabático, eu diria, embora para um ano ainda faltem quase dez meses. Pois a verdade é que, mesmo com horas de sobra para ver os filmes que desejar ou ir tomar um cappuccino, minhas atividades como escritora não pararam, e as coisas felizmente continuam a acontecer. Várias edições de meus cursos estão programadas, um artigo para a Ciência Hoje das Crianças está em andamento e minha ficção... Bom, essa é uma notícia que guardo para mais tarde!

No inventário desses dias de greve - acho que já deu para notar que mantenho um diário dela - contabilizei 33 livros lidos, alguns dos quais já foram citados aqui (e recomendados a meus alunos e às comunidades de leitores do Orkut, quando este acha por bem permitir que a gente escreva). Agora, quero citar rapidamente mais um: Herdando uma Biblioteca, do paranaense Miguel Sanches Neto, que conheci primeiro através do livro de contos Hóspede Secreto e que só agora soube ser também professor e crítico literário.

Não sei se já disse a vocês, mas, ao mesmo tempo em que sou uma voraz devoradora de resenhas, tenho muita desconfiança de críticos, em especial aqueles que fazem juízos de valor, como Harold Bloom (sim, ele faz algumas análises interessantes, mas é arrogante e preconceituoso, inclusive quanto a livros que admite não ter lido. E além disso eu detesto cânones). Sanches Neto, entretanto, faz uma admirável mea culpa de sua profissão na crônica Teoria da Amizade, em que relata sua reação diante do livro "ruim, que qualquer adolescente poderia ter escrito" e cujo esperançoso autor é seu amigo de infância.

Os amigos da gente não deveriam escrever livros. Seria mais fácil para o crítico não ter amigos escritores. Os livros deveriam ser escritos apenas por nossos inimigos. Se um destes publica um livro ruim, dá motivo para o crítico extravasar sua maldade e suas frustrações (...). Se o livro do inimigo for bom, mais fácil ainda. É a chance de provar da humildade e elogiar a obra com gordos e sibilantes adjetivos. Nossa consciência fica em paz e saímos do episódio como uma pessoa extremamente compreensiva, sem rancores.

No entanto, o amigo de Sanches Neto não apenas escreve um livro ruim como pede sua apreciação, confiando tanto em seu próprio talento (eu entendo, pobre criatura... Somos tantos autores órfãos à espera de um afago!) quanto na amizade de infância que, ele crê, poderá lhe abrir as portas do sucesso literário. O crítico, então, refaz o trajeto percorrido por sua consciência, que só o deixou em paz quando, finalmente, ele enviou ao jornal uma apreciação honesta e, portanto, negativa da obra. Até o dia, é claro, em que

(...) o texto saiu, ilustrado com a foto enviada ao editor. Ele sorria de uma maneira confiante, como no tempo em que éramos crianças.

.......

Pois é, pessoas. Hipotético ou não (pois ele pode ser uma síntese de vários de nós, autores iniciantes e canhestros, para não dizer iludidos), eu me identifiquei com o amigo de Sanches Neto, mas entendi a posição do próprio crítico e me solidarizei com ele. Também achei vários pontos de contato em outras crônicas, que falam de amor aos livros, da mania de freqüentar sebos, da importância do espaço reservado aos livros em casa e (estou com um pouco de vergonha, mas vá lá) da preferência por leituras de ficção ou de assuntos culturais em detrimento do que se pode chamar notícias da atualidade. Só recuso o rótulo de "alienada", que Sanches Neto atribui a si mesmo. Aí também não... Eu só demoro um pouquinho para fazer a atualização dos dados! ;)

Mas o que me levou a falar sobre Herdando uma Biblioteca, além de fazer a recomendação do livro, foi o depoimento do autor em uma outra crônica, chamada Lendo em Trânsito. Nela, Sanches Neto não está no papel de crítico, mas no de escritor, e escritor iniciante, que, tendo apanhado um ônibus para ir encaminhar seu livro aos jornais, emprestou um exemplar a um passageiro. 25 minutos depois, o rapaz terminou de lê-lo (tratava-se de um livro de poesia), devolveu a obra e disse: gostei. O ônibus parou e ele desceu, deixando em Sanches Neto uma sensação alegre, pois

(...) Minha literatura podia ser lida no ônibus por um passageiro anônimo. Não tomava mais que vinte e poucos minutos da vida das pessoas e não dependia do trabalho promocional feito pelo autor. (...)Meses depois (...) vi o volume num canto da sala do editor, entre outros livros, todos mal-impressos. Não tinha saído matéria sobre ele e não iria sair. Mas aquele volume, abandonado como refugo, não passara pela vida em vão. Tinha tido um leitor. Um leitor anônimo e em trânsito. Estava plenamente justificado.

.......

Bem... Se eu precisava de incentivo para publicar mais uma das minhas obras de ficção... Este bastou, não bastou?

É assim, pessoas, que eu anuncio para daqui a alguns meses meu novo livro independente: O Jogo do Equilíbrio. De todos os textos que eu tinha para publicar, achei esse o mais interessante: uma novela no gênero fantasia, sem magos nem guerreiros, apenas um saltimbanco que batalha seu pão de cada dia com humor e criatividade. O lançamento está previsto para Novembro, quando haverá no Rio o próximo Paixão de Ler, e todos vocês estão convidados. Não faltem!

E agora... vamos à luta. A vida chama!

Abraços a todos,

Ana Lúcia

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