sexta-feira, janeiro 14, 2005

Propostas Para o Novo Ano

Oi, Pessoas! Tudo bem?

Espero que tenham tido um excelente fim de ano e que estejam entrando neste com todo o gás. Eu estou recuperando o meu... Bom, pelo menos tentando!

Quando me sentei para escrever o primeiro post de 2005, eu pretendia listar minhas resoluções de Ano Novo, todas relativas ao meu trabalho como escritora e promotora de leitura (pois minha vida pessoal vai muito bem, graças aos Deuses). Mais uma vez, iria fazer o que fiz com freqüência ao longo do último ano, prometendo ser disciplinada, escrever pelo menos um post por semana na Estante Mágica, fichar ao menos um livro técnico por mês e batalhar a divulgação dos meus livros e dos meus cursos de todas as formas possíveis. E o mais importante: iria retomar meu trabalho como ficcionista, parado desde 2003, à exceção de muitas revisões e de um bocado de fan fiction baseada no universo de Harry Potter.

Tudo isso eu venho prometendo fazer. E, em relação aos cursos, até que consegui alguma coisa, embora de forma canhestra. No entanto, para as demais resoluções, tem-me faltado ânimo, e eu me vejo diante de uma série de caminhos, sem que consiga me decidir a dar o primeiro passo. Acho que foi por isso que protelei tanto o meu regresso ao blog. Agora, porém, o livro maravilhoso que tenho em mãos me deu algumas idéias, e pode ser que a partir delas eu consiga equacionar meus problemas e reencontrar a inspiração e o entusiasmo de antes.Estou falando de Seis Propostas Para o Milênio, de Ítalo Calvino, que todos já conhecem, mas a cujas obras nunca é demais retornar.

Em 1984, Calvino preparou uma série de seis conferências na Universidade de Harvard, as quais tratavam dos valores literários que deviam ser preservados no curso do próximo (atual) milênio. As cinco primeiras se intitulavam "Leveza", "Rapidez", "Exatidão", "Visibilidade" e "Multiplicidade". A morte súbita do autor não permitiu que essas conferências fossem proferidas, nem tampouco que ele escrevesse a última, que seria intitulada "Consistência". Mas acho que, se conseguir observar as primeiras, isso já estará representando um grande avanço.

Leveza e Rapidez são os dois primeiros pontos. Entre 1997 e 2003 produzi cerca de 3.000 páginas de texto (não, isto não é um exagero), das quais as primeiras me parecem mais satisfatórias que as mais recentes, porque foram escritas com entusiasmo e não dentro do espírito de "estar produzindo uma obra-prima da literatura fantasy". Em suma, quando comecei eu estava me concedendo o prazer de contar uma história, enquanto que os últimos contos estão cheios de períodos difíceis e elocubrações que nada acrescentam ao texto.

Assim, pelo bem do meu trabalho e dos leitores, mas principalmente para o meu próprio bem, estou tentando resgatar a antiga simplicidade. Talvez não seja fácil, mas acho que não é impossível; estou me "remetendo aos clássicos" para me inspirar nesse sentido. O conselho é de Calvino, que cita a economia de palavras na literatura popular como uma forma de preservar a essência das histórias que devem se perpetrar ao longo de milênios. Quem sabe, com um pouco de prática, as minhas atuais decalogias voltem às dimensões originais de simples novelas? ;)

Exatidão é a palavra seguinte. Calvino a desdobra em três partes: um projeto de obra bem definido, a evocação de imagens visuais nítidas e uma linguagem que seja capaz de traduzir adequadamente as nuances do pensamento. A necessidade de atender a essa demanda se completa no quarto valor citado, a Visibilidade. Aqui, o desafio é produzir um texto cujo significado e intenções possam ser percebidos pelo leitor, não obstante o fato de o escritor usar a matéria-prima de sua imaginação e sensibilidade, as quais, muitas vezes, são intraduzíveis.

Bom... Eu diria que esses não são meus principais problemas. Meus textos não têm nada de hermético, embora às vezes minha linguagem seja meio preciosista, o que para a maior parte dos leitores de fantasy pode ser muito aborrecido (é o caso deste post, mas eu sei que vocês me compreendem, e além do mais isto não é um texto de ficção). No entanto, outros escritores do gênero costumam lançar mão de significados ocultos, de correspondências, de referências que deviam enriquecer a obra, mas que, se as pistas não forem habilmente dispostas, não serão percebidas pelo leitor.

Assim, continua o desafio de produzir textos que se passem em um outro universo, mas que não pareçam completamente estranhos aos olhos alheios. Sem ceder à tentação de me estender em detalhes, que eu seja capaz de situar os que me lêem em uma realidade um pouco diversa da nossa, na qual a mágica supera a lógica... mas que, ainda assim, eles possam compreender e se encantar com as histórias.

Por fim, Calvino fala sobre a Multiplicidade: a tentativa do escritor de transmitir conhecimentos, se aventurar no campo científico ou filosófico, transitar enfim em veredas alheias à simples ficção. Como escritora de artigos e livros teóricos, bibliotecária e (bissextamente) professora, tenho várias formas de dar vazão a tal necessidade, e até que tem dado certo, mas eu quero intensificar meus esforços nesse sentido. As coisas têm tudo para se conectar, pois as pesquisas que faço para dar suporte a meus contos e novelas me levam a adquirir conhecimentos que depois uso em cursos e textos de divulgação, e o caminho inverso também funciona. Assim, aos poucos, vai-se formando uma teia, uma trama composta de fatos e fantasia entrelaçados. E essa teia, idealmente, é como um tapete mágico: permite-me chegar a todos os lugares.

O "idealmente" é por conta do momento que estou vivendo. Sempre tive fases de escrever furiosamente (já falei delas no post Minhas Febres Ficcionais) e outras em que preferiria passar longe de quaisquer papéis em branco. É de uma dessas que estou tentando sair agora.

Calvino falaria sobre Consistência em sua última conferência em Harvard. Pelo tom dos outros textos, acredito que isso tivesse a ver com a credibilidade, com a plausibilidade que se deve enconrar em uma obra literária, ainda que de ficção; mas, para efeito das minhas propostas, vamos dizer que tenha a ver com atitude, com constância, com persistência. Esta é uma qualidade que, como escritora, não possuo, e que me proponho a cultivar, juntamente com a autoconfiança. Não é que eu queira produzir textos em série, sei que há um tempo em que é preciso parar e descansar, mas o grande compromisso que quero assumir comigo mesma é manter um mínimo de regularidade. E isso se refere tanto à ficção quanto aos artigos e à pesquisa de background.

Então, minha grande resolução como escritora, não só para 2005 como daqui para a frente, parece ser esta: Prosseguir. Continuar, seja como for, tentando resgatar um estilo que parecia promissor, mas do qual eu me afastei. Tenho muitas histórias para contar e muito a aprender, e bem ou mal tenho aberto caminhos através dos quais tudo isso vem sendo partilhado. E agora o que pretendo fazer é ampliar esses caminhos.

Espero que vocês continuem comigo. Minha cabeça anda nas nuvens, muitas vezes... Mas meu coração nunca se afasta daqui.

Um abraço carinhoso a todos,

Até a próxima!

Ana Lúcia

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