O mês se inicia, e este vai ser bem agitado. Na blogosfera vamos ter postagens frequentes -- no blog do Castelo, espero que diárias -- e eu pretendo não deixar passar muito tempo entre uma e outra por aqui também.
Para começar, eis um texto sobre Dragões, que escrevi para a coletânea "Bestiário", organizada por mim e Ana Cristina Rodrigues para a Editora Ornitorrinco. Espero que gostem!
O dragão é uma das criaturas mitológicas mais conhecidas em todo o mundo. As primeiras referências a ele provêm das civilizações do Crescente Fértil, como a Babilônia, onde aparece associado à deusa Tiamat. Na Índia, os Vedas, livros sagrados escritos há cerca de 3.500 anos, narram a vitória do deus solar Indra sobre um dragão-serpente de nome Vitra.
Segundo a tradição chinesa, os dragões são seres celestiais, ligados ao equilíbrio entre os elementos. Simbolizam a honra, a sabedoria e o poder – não à toa, os imperadores se diziam seus descendentes – e ocupam um papel de destaque na cultura daquele povo. Esta exerceu grande influência em outros países do Extremo Oriente, como o Japão, a Coreia e o Vietnam, onde o mito se desenvolveu de acordo com características próprias, diferentes daquelas que encontramos nos dragões ocidentais.
Na Europa, as representações mais antigas são datadas da Idade do Bronze, quando os dragões eram relacionados aos deuses e aos cultos da fertilidade. Da Grécia veio a palavra drákon, que significa tanto “dragão” como “grande serpente”. De fato, algumas criaturas mencionadas em lendas gregas são representadas ora de uma, ora de outra forma, como o dragão que vigia o tosão de ouro na lenda dos argonautas. Cila e Caríbedes, que guardavam um estreito marítimo, e a hidra derrotada por Hércules podiam aparecer como dragões ou como serpentes marinhas.
A ideia que os ocidentais costumam fazer de um dragão se baseia sobretudo nos mitos nórdicos e anglo-saxões. Para esses povos, os dragões também estavam relacionados às forças da natureza. As sagas escandinavas falam de Jormungand, a serpente que envolve o mundo com seu corpo, enquanto as lendas de Beowulf e Siegfried mostram dragões em seu conhecido papel de guardiões de tesouros. Já nas lendas arturianas, o jovem Merlin escapa da morte ao revelar a existência de dois dragões sob o terreno onde o rei Vortigern pretendia construir sua fortaleza.
Talvez pela associação entre sua imagem e a da serpente, a Idade Média enxergou no dragão uma criatura maléfica. Lendas cristãs mostram São Jorge e o arcanjo São Miguel derrotando dragões que simbolizam o demônio, antagonista das forças divinas. A literatura da época está repleta de histórias em que príncipes e heróis provam seu valor combatendo dragões, descritos como enormes lagartos cuspidores de fogo, cobertos de escamas e dotados de asas semelhantes às dos morcegos. A maioria tem quatro patas, embora existam muitas representações de wyverns, dragões com apenas duas patas traseiras além das asas. Tanto um como outro aparecem com frequência em brasões, escudos e bestiários.
Apesar da fama adquirida na Idade Média, o dragão não perdeu completamente suas qualidades de força e poder, que mais tarde seriam resgatadas pela literatura. Autores de fantasia – e não só – têm escrito sobre dragões sábios e justos, que se aliam aos humanos em combate contra as forças do Mal. E, nesse momento, mesmo os mais bondosos podem se mostrar guerreiros temíveis, capazes de vencer batalhas com um único jato de fogo.
Referências
HOULT, Janet. Dragons: their history and symbolism. Glastonbury: Gothic Image, 1987.
INGPEN, Robert, PAGE, Michael. Encyclopaedia of Things that Never Were. UK: Paper Tiger, 1985.
Bestiário Online*****
Não preciso dizer que existem dragões em várias de minhas histórias, mas sua participação maior se dá em duas noveletas:O Tesouro dos Mares Gelados e O Último Dragão de Athelgard.
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