segunda-feira, maio 16, 2005

Pé na Estrada com Airton Ortiz

Para que lugar do mundo você mandaria um amigo seu?

Para o Nepal, que é um país muito bacana.

E um inimigo?

O inimigo eu faria com que não viajasse. Faria com que ficasse em casa
.

Essa é uma amostra da filosofia e do estilo bem-humorado de Airton Ortiz, cujos livros Na estrada do Everest e Cruzando a última fronteira foram duas das melhores leituras que fiz nestes loooooooooongos dias de greve.

Como muitos de vocês já sabem, gosto muito de ler relatos de viagem, principalmente aquelas que têm como destino lugares considerados "exóticos" pela maioria de nós. Não precisa ser nenhum relato de pioneiro, de momentos dramáticos vividos por exploradores em mares ou montanhas. Aliás, até prefiro que não seja! Eu gosto mais daquelas narrativas de viagens feitas dentro do bom e velho espírito mochileiro, com o autor pegando carona na estrada, viajando em ônibus cheios de bodes e galinhas, experimentando as iguarias mais esquisitas e travando contato com pessoas bem diferentes das que costuma encontrar no seu dia-a-dia. Talvez seja o meu próprio espírito aventureiro, meio esquecido depois de vários anos de raízes plantadas, e agora um brotinho ainda muito tenro para cuidar. Ou talvez sejam as lembranças das minhas viagens, dos "perrengues" que eu e João já passamos, ficando sem teto em Minas Gerais, sem dinheiro em Roma, com o passaporte retido por um comissário de navio grego. Sei lá. Sei que, no caso dos relatos do Ortiz, também tem a ver com gostar de literatura, já que o autor gaúcho - que é ex-atleta profissional e jornalista, especializado em esportes radicais - escreve muito bem. Seu estilo é fluente, acessível, pontilhado aqui e ali por citações de outros amantes do inóspito (Thoreau, Jack London e outros mais) e, ainda, alguns rasgos de humor que me conquistaram como leitora. É o caso do encontro com dois outros viajantes, pai e filho, com quem ele tem de dividir um quarto em um albergue. Grandalhões e muito afáveis, os dois roncam a noite inteira como serrotes, e Airton Ortiz não hesita em encontrar um apelido perfeito para eles: o dos gigantes comilões (também pai e filho) de Rabelais, Gargântua e Pantagruel!

Esses dois livros que li tratam do Everest (as trilhas, não as escaladas) e dos territórios gelados do Alasca e de Yukon. Até onde sei, Ortiz escreveu mais duas obras, Pelos caminhos do Tibete e Aventura no topo da África, sobre uma expedição ao Kilimanjaro. Todos foram publicados na série Viagens Radicais da Editora Record. Informações sobre eles podem ser encontradas no site do autor , onde também estão os textos de Ortiz publicados na revista digital 360 graus. Como diria um outro esportista brasileiro... eu rrrecomeindo!

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Após a pausa para um copo d'água e um telefonema, reli o texto acima e fiquei feliz. Eu tinha pensado em falar sobre outras coisas: o valor ridículo que me propuseram para dar um curso, a ansiedade de esperar pela confirmação de outros, a greve que se prolonga por 44 dias, enfim, desabafos em geral. Mas quando comecei a falar de livros e de viagens entrei no embalo, e não só minha irritação se dissipou como acredito que tenha criado um texto bem mais agradável para vocês. Espero me lembrar disso sempre que sentar para escrever, pois afinal, se o que Pessoa disse é verdade - se o Sol doira sem Literatura - também é fato que, com ela, fica muito mais fácil enfrentar os dias cinzentos.

Abraços a todos,

Até a próxima!

Ana Lúcia

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